DE ONDE VIEMOS? O QUE SOMOS? PARA… (Aula nº 90 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                   (Cliquem na imagem para ampliá-la.)

Gauguin deseja fazer desta obra seu último testamento filosófico, a sua suma antes da tentativa de suicídio. ((Perry T. Rathbone)

O ídolo não aparece em minha pintura como explanação literária, mas como estátua; talvez seja menos uma estátua do que o símbolo da vida animal; e também menos animal, desde que fundido com a natureza, segundo meu sonho, diante de minha cabana. Ele governa nossas almas primitivas, é a imaginária consolação do nosso sofrimento, vagos e ignorantes que somos sobre o mistério de nossa origem e destino. (Gauguin)

A composição simbolista de Gauguin intitulada De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos? trata-se de sua maior pintura, possuindo quase 4 metros de base. É muitas vezes tida como sua obra-prima. Ele a realizou quando vivia um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em se matar em razão das dificuldades pelas quais passava, sem dinheiro até para comprar seu material de pintura, sem saúde e pela falta de reconhecimento de seu trabalho. Mas, antes de dar fim a sua vida, queria pintar um “grande quadro”, como relatou ao seu amigo Daniel Monfreid. A obra foi concluída em um mês, tendo o pintor trabalhado sem praticamente parar, durante esse período. Gauguin inspirou-se no Taiti para compor a sua obra. Ele disse sobre ela: “Antes de morrer, coloco aqui toda a minha energia, numa paixão cheia de sofrimento, e numa visão tão clara e sem correções, que a maturidade precoce desaparece e a vida floresce”.

No fundo da composição existe a predominância dos tons verdes. Sobre eles o artista espalhou vários personagens nativos. Alguns deles apresentam-se nus, outros seminus e alguns vestidos de corpo inteiro. A vegetação é pintada com fortes tons azuis e verdes, enquanto as figuras humanas são coloridas com cores claras. As árvores, com suas formas sinuosas e as figuras sólidas, compõem o paraíso tropical tão desejado pelo pintor, num misto de realidade e imaginação.

Um bebê dorme no chão, tendo ao seu lado três jovens que descansam. Seria a representação da vida simples e sem preocupações do paraíso. No centro da composição um jovem de corpo bem proporcionado e ereto retira uma fruta de uma árvore. O amarelo brilhante de seu corpo contrasta-se com os verdes e azuis do fundo da tela. Talvez o pintor tenha feito aqui uma alusão ao Jardim do Éden. As duas mulheres ao fundo, com o corpo todo coberto, representam a sabedoria.

A senhora idosa, com sua pele escura, destoa da vivacidade da mulher jovem ao seu lado. Na sombra ela parece estar olhando para o passado, enquanto  aguarda o fim de seus dias na Terra. A ave ao seu lado pode representar o desconhecido que a aguarda após a morte. No primeiro plano, na parte esquerda da composição, uma garota come uma fruta, enquanto dois gatinhos brincam ao seu lado. Assim como o rapaz colhendo a fruta, esta cena retrata a vida cotidiana.

A divindade presente na parte esquerda do quadro, toda em azul, simboliza o mundo do além. Ela traz os braços para cima e relembra as crenças primitivas, sendo tida por muitos como a deusa polinésia Hina que, além de representar a Mãe Terra, simboliza também a morte e a ressurreição.

O ciclo da vida é visto na pintura da direita para a esquerda, fugindo à habitualidade, pois está de acordo com a convenção oriental de leitura, iniciada da direita para a esquerda. O bebê e a anciã encontram-se nos dois extremos da tela, assim como acontece na linha da vida. Como se pode deduzir através do título da obra que se encontra na margem superior esquerda da tela, escrito em francês, as figuras estão dispostas de forma a representar o ciclo da vida:

  • o bebê dormindo (o início);
  • o jovem colhendo uma fruta (o meio);
  • a senhora idosa perto de uma ave (o fim).

No diagrama de Gauguin o quadro está assim explicado:

  • à direita (De onde Viemos) – as mulheres, as crianças, o cachorro e os símbolos da primavera representam o início da vida (De onde viemos);
  • no centro (Que Somos) – o homem se pergunta sobre o sentido da existência e procura alcançar o fruto da árvore do conhecimento;
  • à esquerda (Para aonde Vamos) – uma velha próxima da morte simboliza o final da vida. O pássaro é um aviso sobre a futilidade das palavras;
  • as duas figuras perto da árvore da sabedoria , envoltas em vestes escuras, simbolizam a tristeza trazida pelo próprio conhecimento;
  • os seres simples entregam-se à alegria de viver , numa natureza virgem que poderia ser um paraíso na acepção humana.

Curiosidade
Passando por um período precário, sem dinheiro, o pintor usou um tecido barato de saco como tela para sua composição. Nela também estão presentes elementos de outros quadros do pintor que a considera como sendo a sua obra-prima, ou seja, uma síntese de suas pinturas e sua visão do mundo. Após a conclusão da tela, Gauguin fez uma tentativa frustrada de suicídio ao tomar arsênico. Vomitou e foi levado para o hospital, onde conseguiu se recuperar, voltando à calma interior. Ele sempre pretendeu mostrar que “a natureza não é um instrumento do homem, mas sua parceira”.

Ficha técnica
Ano: 1897
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 139 x 374,5 cm
Localização: Museum of Fine Arts, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Gauguin/ Coleção Folha
Gaugin/ Abril Coleções
Gauguin/ ArtBook
Gauguin/ Taschen
Grandes Pinturas/ Publifolha

4 comentaram em “DE ONDE VIEMOS? O QUE SOMOS? PARA… (Aula nº 90 B)

  1. Adevaldo R. de Souza

    Lu

    Mais uma bela obra de Paul Gauguin: De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos?

    A composição mostra a visão de Gauguin sobre o ciclo da vida, quando conta uma história com emoção e imaginação, utilizando as cores e seus impactos entre o verde e o azul das matas com o amarelo dos corpos. Parece um estilo diferente dos mostrados anteriormente, como quisesse criar uma ruptura com o estilo que escolheu. Nessa obra Gauguin mostra mais uma vez sua vontade de mudar a visão das pessoas sobre a Polinésia, apresentando um paraíso tropical com suas cores naturais.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Trata-se sem dúvida alguma de uma das mais belas obras do artista e uma das mais notáveis do estilo simbolista. Ele ajuda o observador a decifrar a sua obra através do título que deu ela. Gauguin era apaixonado pelos paraísos tropicais.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Hernando Martins

    U

    Que obra maravilhosa essa do pintor francês Paul Gauguin, grande representante do Simbolismo.

    Fez essa pintura sobre tela inspirado na paisagem tropical do Taiti, Polinésia francesa, onde viveu durante 10 anos.
    Utilizou cores vivas, predominando o verde e o azul, representando a floresta, e o amarelo utilizado nos corpos dos personagens. No plano anterior, observa-se que do lado direito há uma criança dormindo, simbolizando o início da vida. Do lado esquerdo está uma anciã com uma ave ao seu lado, representando o final da vida. Gauguin mostra simbolicamente que a vida é cíclica, tem o inicio e também o fim. Podemos dizer que ela é dual em todas as suas peculiaridades. Assim como o sol nasce pela manhã, ao entardecer ele se põe, simbolicamente podemos falar que ele morre.

    O artista cria um paradoxo nessa obra, porque existe o aspecto real da natureza, através das características da floresta e, ao mesmo tempo, há o aspecto simbólico com intuito de provocar a reflexão sobre a vida e a morte, aspectos inerentes à existência humana.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Paul Gauguin considerava ser essa a sua mais importante obra. É uma das mais representativas do estilo simbolista e também uma das mais belas. Havia uma grande preocupação entre os artistas simbolista com o ciclo da vida humana. Já no título de sua obra o pintor nos informa sobre qual é o tema da pintura.

      Abraços,

      Lu

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