MARGARIDA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O II Festival Internacional da Canção (FIC) foi realizado em 1667 pela TV Globo. Do total das canções inscritas seriam escolhidas 40, que passariam por duas preliminares, sendo 20 em cada fase. No rol das canções classificadas estavam presentes grandes compositores já conhecidos e muitos outros desconhecidos, dentre eles o jovem Milton Nascimento.

Como o FIC tratava-se de uma promoção da Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara, não agradou aos participantes a intromissão do bedelho de Carlos Laert, Secretário de Turismo, no governo de Negrão de Lima. Ele havia rejeitado três músicas da listagem das 40. A seguir, para contornar a situação, os dirigentes fizeram com que as concorrentes passassem de 40 para 50 canções, mas sem as três eliminadas pelo secretário (Balanço do Vento, Maria Madrugada e Motivo). Ao ser questionado por Roberto Menescal, o secretário Carlos de Laert simplesmente respondeu que o Festival era deles (governo) e, assim sendo, podiam mudar o que quisessem. Menescal então comunicou sua saída, com muitos compositores aderindo a ele.

Esse grupo de compositores reuniu-se e decidiu não acatar a decisão do secretário de Turismo de jeito algum. Se caso não fossem levados em conta, eles se retirariam do FIC e informariam a Negrão de Lima a decisão tomada, com a sugestão de que Carlos de Laert fosse afastado. Descobriram também, através de investigações ocultas, que o secretário havia escolhido dois amigos de seu prédio para botar na nova lista, o que lhes deu munição para a briga.

Mesmo sendo ameaçado por Carlos de Laert, Menescal e o grupo não arredou pé, denunciando a colocação dos seus dois amigos na lista. Ao final, as três canções retiradas foram reincluídas, ficando 23 canções para cada eliminatória, pois houve a retirada, pelos próprios donos, por decisão própria, de duas músicas inscritas. Dentre as 46 músicas concorrentes, três pertenciam ao mineiro Milton Nascimento: Travessia, Morro Velho e Maria, Minha Fé).

O Maracanãzinho, já com a acústica bem melhorada, e com outras mudanças seria o palco do II FIC. Havia inúmeros artistas estrangeiros presentes. O país todo aguardava a grande festa, já se preparando para suas escolhas.

Na primeira fase, quem abriu o Festival foi Adenilde Fonseca, defendendo Fala Baixinho, de Pixinguinha. Milton Nascimento foi ovacionado ao apresentar Travessia. Era sem dúvida um dos candidatos ao prêmio. Canção de Esperar Você, interpretada por Lucinha (futura esposa de Sérgio Mendes) também encantou o público. Cynara e Cybele defenderam Carolina, de Chico Buarque, feita sem muita pretensão pelo compositor que não imaginava que ela viesse a se classificar. Ao cantar o baião-exaltação São os do Norte que Vêm, Claudionor Germano levantou a plateia. A canção Margarida, defendida pelo grupo Manifesto e pelo autor, Gutemberg Guarabyra, foi entusiasticamente recebida. Ao final da primeira fase, o público deixou clara suas preferidas: Travessia (Milton), Carolina (Chico) e Margarida (Gutemberg).

Na segunda eliminatória, Milton Nascimento foi o primeiro a se apresentar com sua canção Morro Velho, sendo aplaudidíssimo o rapaz acanhado, que não tinha dinheiro nem para ir de São Paulo ao Festival no Rio. As demais canções que se sucederam não animaram a plateia, excetuando Fuga e Antifuga do maestro Edino Krieger e Vinícius de Moraes, defendida pelo Quarteto 004 e As Meninas.

O mais interessante é que não foi Milton Nascimento quem inscreveu suas canções naquele Festival, mas Agostinho Santos, impressionado com sua voz e canções, ao ouvi-lo cantar certo dia, em São Paulo. Como ele se recusasse a participar do Festival, em parte por sua grande timidez e em parte pelo que vira em um do qual participara. Agostinho Santos pediu-lhe para gravar três músicas, para que ele escolhesse uma para botar no seu disco que iria sair, mas inscreveu as três, numa bela armação. E as três foram selecionadas para a final, numa grande façanha do compositor e cantor.

Foram classificadas onze canções na primeira eliminatória e nove na segunda. A final, contava, portanto, com 20 canções. Desse rol, dez seriam premiadas, sendo a classificada em primeiro lugar a que viria a competir com as internacionais. Para a finalíssima estavam grandes nomes como Vandré, Luís Bonfá, Dori Caymmi, Chico Buarque, Edu Lobo e Francis Hime, entre outros.

A canção Margarida foi defendida por Gutemberg Guarabyra e Gracinha, empolgando todo o Maracanãzinho. Não tinha para ninguém. Com sua letra fácil, todo mundo cantava seu refrão de cantiga de roda. Contudo, pela qualidade, até o diretor do FIC, Augusto Margazão, achava que a primeira colocada deveria ser Travessia, de Milton Nascimento. E assim ficou a colocação dos três primeiros lugares:

1º lugar – Margarida (Gutemberg Guarabyra) defendida pelo autor e Gracinha
2º lugar – Travessia (Milton Nascimento) defendida pelo próprio compositor
3º lugar – Carolina (Chico Buarque) defendida por Cynara e Cibele

Ao concorrer com as músicas internacionais, Margarida abocanhou o terceiro lugar, ganhando o primeiro lugar a canção italiana Per Uma Dona, na voz de Jimmy Fontana, que recebeu muita vaia, ao ser anunciada.

Milton Nascimento também ganhou como melhor intérprete do II FIC. Ele foi, sem dúvida, o vencedor do Festival, sendo o mais premiado. Gutemberg Guarabira, esnobado pelas gravadoras, só retomou sua caminhada artística ao formar um trio com Sá e Rodrix, enquanto Chico Buarque continuava aclamado por todos.

Travessia correu mundo, projetando Milton Nascimento internacionalmente. O II FIC ficou conhecido como o Festival de Travessia.

Abaixo, conheçam a letra e a música da canção Margarida:

Margarida
Autor: Gutemberg Guarabyra
Intérpretes: Gutemberg Guarabyra e o Grupo Manifesto

Andei, terras do meu reino em vão
Por senhora que perdi
E por quem fui descobrir
Não me crer-mais-ei aqui, me encerrei
Sou cantor e cantarei
Que em procuras de amor morri, ai!
Dor que no meu peito dói
Que destróis assim de mim
Bem sei que eu achei enfim
E que adiantou a dor,
Mas me queimou
Pois por não saber de amar
Ela ainda rainha está
E ela está em seu castelo, olê, olê, olá
E ela está em seu castelo, olê, seus cavaleiros
Ora peçam que apareça
Pois por mais que me eu me ofereça
Mais me evita essa senhora
Eu já fui rei, já fui cantor

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem

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