Filme – APOCALYPSE NOW (PARTE II)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

 apoc2   apoc2a

A merda era tanta no Vietnã, que você precisava de asas para ficar fora dela. (Kurtz )

O capitão Willard, num quarto em Saigon, é acordado com o barulho de um ventilador, que reproduz o mesmo som de um helicóptero. Aguarda o chamado para uma missão há uma semana. Quer voltar logo para a selva. O filme segue em tom narrativo:

Quando eu estava aqui, queria estar lá. Quando eu estava lá, só pensava em voltar para a selva. Cada minuto que fico neste quarto, fico mais fraco. E cada minuto que um vietcongue  escond-se na moita, ele fica mais forte.

Todo mundo consegue o que quer. E eu queria uma missão, e pelos meus pecados, eles me deram uma. Trouxeram-na para mim como um serviço de quarto. Era uma missão de primeira classe. E depois dela ter terminado, eu nunca mais iria querer outra.

Willard recebe ordens para se apresentar à base Aérea de Nha Trang. Dentro do helicóptero, volta ao tom narrativo:

Eu estava indo para o pior lugar do mundo, e eu nem sequer sabia disso. Há algumas semanas antes e centenas de milhas rio acima, que rasteja através da guerra, como o cabo principal de um circuito, conectado direto a Kurtz.

Não era por acaso que eu seria quem cuidaria da memória do coronel Walter E. Kurtz, assim como estar de volta a Saigon também não o era. Não tem como contar a sua história, sem contar a minha própria. E, se a história dele for mesmo uma confissão, então também a minha o é.

Willard é levado até o general e o capitão Luke, que lhe falam sobre o coronel Kurtz. Mostram-lhe algumas gravações capturadas com a voz do rebelado, falando sobre os vietcongues:

Eu vi uma lesma andar ao longo de um fio de uma navalha. Este é o meu sonho e o meu pesadelo. Andando, rastejando ao longo do fio de uma navalha, e sobreviver. Mas precisamos matá-los. Precisamos incinerá-los. Porco por porco, vaca por vaca, vilarejo por vilarejo, exército por exército. Eles me chamam de assassino. O que você diz, quando assassinos acusam o assassino? Eles mentem e temos que ser misericordiosos com esses mentirosos. Eu os odeio. Realmente eu os odeio.

Os dois oficiais falam a Willard sobre Kurtz:

Walter Kurtz era um dos oficiais mais exemplares que este país já produziu. Ele era brilhante, era exemplar em todas as formas. Era um bom homem. Um homem humanitário. Um homem com esperteza e amor. Ele entrou para as Forças Especiais. E depois disso, suas ideias e métodos tornaram-se irracionais. Agora ele foi para o Camboja com o seu exército Montagnard, que o venera como um deus, e cumpre qualquer ordem, mesmo que seja ridícula.

Tenho outras informações chocantes para lhe dar: o coronel Kurtz estava a ponto de ser preso por assassinato. Ele ordenou a execução de alguns agentes da inteligência vietnamita. Homens que ele acreditava serem agentes duplos. Então tentou resolver o problema por conta própria. Está operando sem nenhuma restrição decente, totalmente além de qualquer padrão de conduta humana aceitável, mas continua no comando das tropas.

É o seguinte, Willard, nesta guerra as coisas se confundem lá fora. Poder, ideias, a velha moralidade e a necessidade militar prática. Mas lá fora com aqueles nativos, deve ser uma tentação ser Deus. Porque existe um conflito em cada coração humano, entre o racional e o irracional, entre o bem e o mal. E o bem nem sempre triunfa. Às vezes, o lado escuro supera o que Lincoln chamou de “os melhores anjos de nossa natureza”. Todos os homens têm um ponto fraco. Você e eu temos o nosso. Walter Kurtz alcançou o dele e, obviamente, ele enlouqueceu.

A sua missão é subir o rio Nug, num barco patrulha da marinha, encontrar a trilha de Kurtz. Deve segui-la e aprender tudo o que puder no caminho. E, quando encontrar Kurtz, infiltrar-se entre seus homens, de qualquer forma possível, e acabar com o comando dele. Entenda capitão que esta missão não existe, nem nunca existirá.

Willard ao ler o dossiê de Kurtz, enquanto ia a seu encalço:

No início achei que me tinham dado um dossiê errado. Não podia acreditar que queriam matar esse cara. Ele tinha quase mil condecorações. Escutei a voz dele na fita e ele realmente me cativou. Mas não conseguia ligar aquela voz a esse homem. Como eles disseram, ele tinha uma carreira impressionante. Talvez impressionante demais.

Willard no barco, subindo o rio Nug:

Nunca saia de barco. Pode ter certeza disso. A menos que você fá fundo. O Kurtz saiu do barco. Ele largou tudo. Por que fez isso? O que viu na sua primeira missão? Aos 38 anos de idade, Kurtz sabia do que estava abdicando. Quanto mais eu o lia (dossiê) e mais começava a entender, mais o admirava. Sua família e amigos não conseguiram entender, e não conseguiram dissuadi-lo. Um filho da mãe durão. Poderia ter sido general, mas decidiu ser ele mesmo.

Parte de mim estava com medo do que encontraria e do que eu faria ao chegar lá. Eu conhecia os riscos, ou imaginava que os conhecia. Mas a coisa que eu mais sentia, mais forte do que o medo, era o desejo de confrontá-lo.

Willard depois de encontrar Kurtz:

Tudo o que vi indicava que Kurtz havia enlouquecido. O lugar estava cheio de corpos de vietnamitas do Norte, vietcongues e cambojanos. Se eu continuava vivo é porque ele me queria vivo.

No rio, pensei que assim que o visse saberia o que fazer. Mas não foi assim. Eu estava lá com ele, por dias, não vigiado. Eu estava livre. Mas ele sabia que eu não ia a lugar algum. Ele sabia mais sobre o que eu ia fazer do que eu mesmo. Se os generais em Nha Trang vissem o que vi, iam querer que eu o matasse, mais que nunca. E o que o pessoal de casa ia querer se soubesse o quanto se desviou? Ele se afastou deles e depois se afastou de si mesmo. Nunca vi um homem tão dividido e tão destroçado.

Coronel Kurtz falando com o capitão Willard:

Já vi horrores, horrores que você viu. Mas você não tem o direito de me chamar de assassino. Você tem o direito de me matar. Tem o direito de fazer isso. Mas não tem o direito de me julgar. É impossível achar palavras para descrever o que é necessário para aqueles que não sabem o que é o horror. O horror tem um rosto. E você deve ficar amigo do horror. Horror e terror moral são seus amigos. Se não forem, são inimigos a temer.

Eu me lembro, quando estava nas Forças Especiais. Parece que foi há séculos. Entramos numa base para vacinar umas crianças. Saindo da base, após termos vacinado as crianças contra a poliomielite, um velho veio correndo atrás de nós, e estava chorando. Não conseguia explicar. Voltamos lá. Eles tinham cortado todos os braços inoculados. Estavam numa pilha, uma pilha de bracinhos. Eu chorei. Berrei como uma avó. Eu queria arrancar meus dentes. Não sabia o que queria fazer. E eu quero me lembrar disso. Não quero me esquecer.

Aí percebi como se tivesse levado um tiro de diamante bem na minha testa. E pensei: “Meu Deus! Que genialidade” A força para fazer isso. Perfeito, autêntico, completo, cristalino, puro. Percebi que eram mais fortes que nós, porque aguentavam isso. Não eram monstros. Eram homens, soldados treinados. Homens que lutavam com o coração, que têm família, que têm crianças, cheios de amor, mas tinham força para fazer isso.

Se tivesse dez divisões desses homens, nossos problemas aqui acabariam rapidamente. Você tem que ter homens morais e, ao mesmo tempo, que podem utilizar seus instintos primordiais para matar, sem paixão. Sem julgar. É o julgar que nos derrota.

Preocupa-me que meu filho talvez não entenda o que tentei ser. E, se eu fosse morto, Willard, gostaria que alguém fosse até a minha casa contar tudo ao meu filho. Tudo o que eu fiz, tudo o que você viu. Porque não há nada que detesto mais que o fedor de mentiras. E, se você me entender, Willard, fará isso por mim.

Willard depois de matar Kurtz:

Todos queriam que eu o fizesse. Especialmente ele. Senti que ele estava lá, esperando-me para acabar com a sua dor. Ele queria acabar como um soldado em pé. Não como um coitado rebelde. Até a selva queria vê-lo morto, e era dela que ele recebia as ordens.

Curiosidades:

• O sacrifício a que se oferece Kurtz é simultâneo ao sacrifício de um touro. Ambos são mortos no mesmo momento. Que horror!
• Ele deixa escrito, com tinta vermelha, em suas anotações: Largue a bomba. Acabe com todos.
• Há uma referência ao Brasil feita pelos franceses: “Nós trouxemos seringueiras do Brasil e plantamos aqui…”.

Fonte de pesquisa:
O próprio filme

2 comentaram em “Filme – APOCALYPSE NOW (PARTE II)

  1. Guilherme

    Lu
    Excelente!
    De longe o meu filme favorito… já devo ter assistido umas 20 vezes ou mais e sempre descubro algo novo, algo que, dependendo do ano em que eu assisto e a idade que eu tenho e como minha vida vai mudando, torna ele atemporal e tão especial para mim.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Guilherme

      Antes de mais nada quero agradecer a sua presença e o seu comentário. Será sempre um prazer recebê-lo.

      Também considero este filme uma obra-prima do Cinema, tanto é que fiz dois artigos sobre o mesmo. E não me canso de vê-lo. Como você bem diz, ele é atemporal. Sou apaixonada por Cinema. Fico feliz que tenha gostado da minha análise.

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *