Giorgione Barbarelli – A TEMPESTADE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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                                         (Sempre clique nas gravuras para ampliá-las até 3 vezes.)

É um quadro que mostra um profundo senso de mistério. Uma pequena ponte nas águas escuras, perto de uma cidade, explode em tons brilhantes sob um céu ameaçador, cujas nuvens são divididas pelo brilho de um relâmpago. Nenhum traço de mal-estar nos personagens e no seu isolamento. Eles vivem suas próprias emoções no seio da natureza, apesar dos sinais. (Alvarez Lopera)

Giorgione — tido como o fundador da pintura veneziana — gostava de usar as paisagens situadas nos arredores de Veneza como cenário para seus quadros clássicos e religiosos.  A Tempestade é o seu quadro mais famoso e uma das pinturas mais aclamadas da arte ocidental. Foi descrito por volta de 1530 como Paisagem em Tela com Tempestade, Cigana e Soldado. Sua importância  dá-se, sobretudo, porque na época a paisagem só entrava como complemento numa obra e esta pintura é basicamente uma paisagem. Não se conhece o significado que, por acaso, a obra possa encerrar, como supõem alguns. Foi encomendada pelo nobre Gabriel Vendramin.

A Tempestade trata-se de uma composição de pequenas dimensões, apresentando um local poético com suas cores fortes e tristonhas em que o pintor veneziano usa a cor e a luz para dar unidade à pintura. Os tons de azul no fundo trazem uma sensação delicada de profundidade, enquanto cores mais quentes apresentam-se no primeiro plano. Giorgione usa a técnica do “sfumato”, já utilizada por Leonardo da Vinci, mas não se sabe se ele já conhecia o trabalho do artista. O mais genial nesta composição é que ele desloca a ação da esfera humana para o reino da natureza.

A composição mostra uma cidade desértica com uma cegonha branca no telhado de uma das casas — talvez simplesmente observando a tempestade que virá — sem nenhuma simbologia. Contudo, para alguns, ela tem um significado — simboliza a castidade, a pureza e a vigilância para o cristianismo. Embora a tempestade avizinhe-se, os dois personagens permanecem tranquilos, agem como se nada estivesse prestes a acontecer.

Em primeiro plano estão um homem e uma mulher que amamenta sua criança. O homem — bastante jovem — segura um cajado de peregrino. Quem seria ele e o que estaria fazendo ali? Antes de pintar a figura do homem, Giorgione teria pintado uma mulher banhando-se, conforme comprovam exames de raios X. Por que teria mudado de ideia? Dois pilares quebrados encontram-se atrás do jovem. O que representariam? A mulher está quase que totalmente despida. Um pano branco cinge-lhe os ombros e parte das costas. Ela se senta sobre parte dele.  Suas pernas estão separadas e ela inclina o corpo para frente. Seu bebê não se encontra em seu colo, mas à sua direita.

Uma cobra rasteja no chão em direção à mulher. Alguns estudiosos de arte acreditam que a mulher da composição seja uma referência a Eva,  e a criança seria seu filho Caim.  Assim como a mulher o homem também usa branco  na camisa, debaixo do gibão desabotoado, de modo que o olhar do observador vagueia de uma para a outra figura, passando pelo homem, pela mulher com a criança, pelo rio e dirige-se para o fundo da composição em direção às nuvens pesadas, onde um relâmpago corta o céu e clareia a cidade desértica, deixando no ar certa tensão. O artista capta o exato momento em que o relâmpago ilumina as nuvens.

A composição intitulada A Tempestade, banhada por uma suave luz dourada, é vista como uma das mais lindas obras de arte. Existe nela um todo harmonioso, onde tudo se funde, resultado da combinação da luz e do ar. Giorgione abre mão das linhas dos contornos para trabalhar com as transições da cor. Até então a paisagem servia apenas de fundo para os personagens, mas aqui ela é o tema da pintura, preenchendo a maior parte da tela. Vê-se que o interesse do artista estava voltado para a natureza, onde tudo se funde. A paisagem já não é mais vista como mera decoração. Suas cores modificam-se como efeito da tormenta prestes a chegar.

Não existe extremo cuidado no desenho das figuras e a composição apresenta-se um pouco rudimentar, mas na explosão de luz e ar que o tornam incomum, numa harmonia jamais vista até então. É a luz sobrenatural da tempestade que se torna o foco principal da composição. É a natureza tornando-se a personagem principal, quando até então fora apenas coadjuvante. Ela é o tema da obra, preenchendo a maior parte da tela.

Segundo E. H. Gombrich, “Giorgione não desenhou coisas para depois dispô-las no espaço, mas pensou realmente na natureza — a terra, as árvores, a luz, o ar, as nuvens e os seres humanos com suas cidades e pontes – como um todo indivisível”. E continua: De certo modo, isso foi um avanço quase tão grande para um novo domínio da arte de pintar quanto a invenção da perspectiva o fora antes”.

Esta obra é tida como uma das últimas do grande artista e uma das obras mais sensacionais criadas na arte. Foi uma realização revolucionária para o seu tempo. Seria ela inspirada num autor clássico? À época, os artistas venezianos mostravam-se encantados com os poetas gregos e tudo que eles simbolizavam. O interessante é descobrir que, ao incluir modificações tonais em razão das mudanças na atmosfera, Georgione prenuncia o Impressionismo.

Curiosidade
Sfumato — trata-se da habilidade de suavizar ou borrar as extremidades das formas para evitar um contorno definido, ou seja, são contornos suaves que escondem a transição entre as cores.

Ficha técnica
Data: c. 1508
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 82 x 73 cm
Localização: Galleria dell’ Academia, Veneza

Fontes de Pesquisa:
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Giorgionni Barbarelli/ Abril Cultural

6 comentaram em “Giorgione Barbarelli – A TEMPESTADE

  1. Antônio Costa

    Lu
    Arte de cenário simples, entretanto de fortes emoções. O artista utiliza a cor e a força da natureza em contraste com a leveza dos elementos humanos. Certamente quadros assim nos reporta a sensibilidade em momentos fotográficos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Giorgione foi o primeiro artista a colocar a paisagem como centro temático da obra. Foi, portanto, um inovador, responsável pela criação da paisagem como elemento principal e não como coadjuvante.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Marinalva Autor do post

    Lu
    Este quadro é belíssimo!
    Famosa pintura renascentista do genial pintor Giorgione. Dá muito prazer apreciar a beleza poética, as cores ricas, com um ar de melancolia. O uso inovador da luz e da cor une as figuras, dando assim à obra um ar cheio de mistério e de magia, predicados fundamentais da grande arte. A beleza e a harmonia, tudo aí é enigmático e misterioso.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Giorgione com sua obra maravilhosa foi responsável por fazer da paisagem o gênero principal, pois até então ela era apenas coadjuvante na composição. Aqui ela é a estrela principal.

      Abraços,

      Lu

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  3. Adevaldo R. de Souza

    Lu
    Nessa aula você nos presenteou com a obra de Giorgione – A Tempestade – onde apresenta um belo efeito visual com riqueza cromática, onde a natureza é a personagem principal. Nela um relâmpago corta o céu e clareia a cidade desértica do segundo plano. Penso que deva existir outro relâmpago à esquerda da composição (não mostrado) que ilumina as personagens do primeiro plano.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Esta composição maravilhosa de Giorgione foi extremamente para a história da arte no que diz respeito à paisagem com elementos humanos. Sua riqueza cromática é de tirar o fôlego. Quanto ao segundo relâmpago, tem-se mesmo essa impressão devido à claridade à direita, sobre a construção atrás das árvores.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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