Historiando Chico Buarque – BENVINDA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Dono do abandono e da tristeza/ Comunico oficialmente/ Que há lugar na minha mesa/ Pode ser que você venha. (Chico Buarque)

O compositor encontrou-a numa noite de lua-crescente. Na pracinha, ele observava as crianças em euforia e os namorados a arrulharem seu amor. Fora ali buscar inspiração para seus versos que andavam meio desbotados. Sentada na relva estava ela, Benvinda, entretida num livro de poesias, como se fora uma maravilhada ninfa. Aproximou-se dela, sem incomodá-la, até que seus olhos encontraram-se. O amor brotou e criou forma. Preencheu o seu vazio e por muito tempo foram felizes, até o dia em que uma reviravolta no destino levou para longe sua Benvida.

O artista, não mais aguentando o padecimento da solidão, escreveu na areia estes versos para sua musa: “Dono do abandono e da tristeza/ Comunico oficialmente/ Que há lugar na minha mesa/ Pode ser que você venha/ Por mero favor/ Ou venha coberta de amor/ Seja lá como for/ Venha sorrindo, ai/ Benvinda/ Benvinda/ Benvinda/ Que o luar está chamando/ Que os jardins estão florindo/ Que eu estou sozinho”. Mas veio a onda, levou-os e ela não os leu!

O compositor reuniu então toda a gente da boemia, e mandou um recado para sua amada: “Cheio de anseios e esperança/ Comunico a toda gente/ Que há lugar na minha dança/ Pode ser que você venha/ Morar por aqui/ Ou venha pra se despedir/ Não faz mal/ Pode vir até mentindo, aí/ Benvinda/ Benvinda/ Benvinda/ Que o meu pinho está chorando/ Que o meu samba está pedindo/ Que eu estou sozinho”. Ainda assim, se ela recebeu o convite, dele não fez caso, pois não atendeu o chamado.

Sozinho em seu quarto, o artista viu crescer ainda mais seu desamparo. Fitando a lua, em desespero, pediu-lhe que levasse seus versos para a mulher que estava a esfacelar sua vida: “Venha iluminar meu quarto escuro/ Venha entrando com o ar puro/ Todo novo da manhã/ Venha minha estrela madrugada/ Venha minha namorada/ Venha amada/ Venha urgente/ Venha irmã/ Benvida/ Benvinda/ Benvinda/ Que essa aurora está custando/ Que a cidade está dormindo/ Que eu estou sozinho”. Penso que a lua não lhe deu o recado, pois ela dessa vez também não veio.

O compositor resolveu falar de poesia, e pediu ao pássaro-preto que fosse cantar seus versos poéticos na janela de sua diva: “Certo de estar perto da alegria/ Comunico finalmente/ Que há lugar na poesia/ Pode ser que você tenha/ Um carinho para dar/ Ou venha pra se consolar/ Mesmo assim pode entrar/ Que é tempo ainda, ai/ Benvida/ Benvinda/ Benvinda”. E dessa vez ela veio, cheia de ternura e juras de amor eterno.

O artista, pelo amor extasiado, tomou nas mãos a amada e o pinho e, pelas ruas, pôs-se a cantar esta canção: “Ah, que bom que você veio/ Que você chegou tão linda/ Eu não cantei em vão/ Benvinda/ Benvinda/ Benvinda/ Benvinda/ Benvinda”.

Obs.: Ouça a música de Chico Buarque clicando no link – BENVINDA

Nota: Passos do Samba, obra de Heitor dos Prazeres.

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