IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO (Aula nº 31)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

Durante muito tempo se pensou que o Renascimento tivesse surgido na Itália durante o século XIV com as descobertas de Giotto (c.1266-1337) ou Cimabue (c.1240-1302?), tendo como término o final do século XVI. Contudo, na arte as coisas não acontecem com uma cronologia tão apurada, sendo muito comum dois ou mais estilos coexistirem num mesmo período, como já vimos anteriormente suceder com os estilos românico e gótico. Poucos sabem que muitas das ideias identificadas com o Renascimento já eram encontradas no século XII, sendo possível, portanto, encontrar na Renascença (ou Renascimento)  muitos pontos ligados ao período medieval.

Muitos estudiosos acreditavam que a Idade Média não tivesse passado de um milênio de grande decadência, responsável por deixar para trás — através do esquecimento ou do descuido — o êxito da época anterior (a Antiguidade). Hoje, porém, a idade medieval vem sendo olhada sob um novo prisma. Está provado que a cultura clássica (greco-romana) jamais desapareceu totalmente da Europa durante a Idade Média, tendo havido diversas tentativas com o objetivo de  revivê-la nos séculos que antecederam o Renascimento. Vejamos dois exemplos abaixo.

A primeira tentativa aconteceu no tempo de Carlos Magno, no final do século VIII e início do século IX. O desejo do imperador era restaurar o Império Romano na Europa Ocidental, fazendo renascer a arquitetura e a literatura romanas. Chegou a autorizar a cópia e a propagação dos textos clássicos e juntou um grupo de eruditos com o objetivo de dedicar-se ao estudo da literatura romana. Carlos Magno, mesmo sendo analfabeto, participou dessa realização com grande empenho. Essa tentativa do Renascimento carolíngio teve uma importância muito significativa ao manter viva as ideias clássicas e seus modelos, impedindo que fossem esquecidos. Os copistas da corte contribuíram para conservar os textos dos manuscritos latinos, tanto é que o tipo de letra “romana”, usada em nossos tempos, é carolíngia na origem.

Um segundo Renascimento aconteceu no século XII, quando houve um grande interesse pela civilização romana, havendo um crescimento e difusão de bibliotecas e a procura pela pureza da expressão literária. Buscavam imitar a escultura e a arquitetura clássicas. O contato com o mundo árabe e com as civilizações islâmicas através das Cruzadas permitiu o acesso às traduções de alguns trabalhos científicos e filosóficos da Grécia Antiga, permitindo acesso ao saber de Aristóteles sobre filosofia, física, astronomia, lógica, política e ética — assuntos até então desconhecidos dos eruditos do século XII. A criação das universidades, sobretudo em Bolonha, Pádua, Paris e Oxford, incluiu o estudo da lógica aristotélica, mas acabou por excluir todo o resto da grade de estudos, o que causou uma grande reação nos séculos XVI e XV.

O Renascimento foi muito mais do que um período. Foi principalmente um movimento cultural responsável por sinalizar um ponto crucial que se deu na transição da Idade Média para a Idade Moderna. Segundo o artista italiano e historiador de arte Giorgio Vasari (1511-1574), as artes estavam em busca da perfeição, o que levava “a uma recuperação da civilização antiga da Grécia e Roma”. O erudito humanista Marsilio Ficino (1433-1499) referiu-se a uma nova idade dourada em Florença que “tinha restaurado a vida das artes liberais que estavam quase extintas: a gramática, a poesia, a retórica, a pintura, a escultura, a música e o antigo cantar de canções na lira órfica”. Para o poeta e humanista Petrarca (1304-1374), o novo período fez com que “os homens saíssem da obscuridade”.

Ao Renascimento, portanto, não coube o papel de ocupar um vazio cultural absoluto, pois os “Renascimentos” anteriores foram responsáveis em vários sentidos por pavimentar o caminho para o ápice que viria a acontecer nos séculos XV e XVI. O Renascimento italiano foi a culminância de uma diversidade de tendências anteriores e não uma ruptura total com o passado, como se imaginava. Sabemos que a palavra “renascimento” significa “voltar a nascer” e foi com esse sentido que os eruditos e artistas dos séculos XV e XVI viram os acontecimentos no meio cultural do qual faziam parte — o renascer da civilização clássica após um imenso período de definhamento. O movimento renascentista teve um grande impacto em todos os aspectos da cultura, da literatura e da arquitetura, ao tentar, conscientemente, reabilitar e reviver o brilhantismo da Antiguidade Clássica. É fascinante estudar esse período!

Exercício

  1. Pode-se dizer que na Idade Média inexistiu a cultura clássica? Por quê?
  2. Por que o Renascimento carolíngio foi importante?
  3. O que foi o Renascimento italiano?

Obs.: Quem quiser rever alguma aula, basta buscar no ÍNDICE GERAL por ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE   onde se encontram todas as que já foram dadas.

Fontes de Pesquisa
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann

10 comentaram em “IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO (Aula nº 31)

  1. Antônio Costa

    Lu
    É difícil não relacionar a arte à ascensão da economia e consequente alteração das camadas sociais. Certamente a renascença foi impactada por uma nova ordem de interesses e motivações, ganhando com isto a arte. Ao que parece na Idade Média as motivações religiosas se sobrepunham e embotavam outras criações artísticas, inclusive quanto ao vigor e beleza das pinturas clássicas.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Houve, sim, a ascensão da burguesia, mas as camadas populares continuavam muito pobres. Mais à frente você verá quais foram os fatores que levaram ao Renascimento. Quanto à religião, essa tinha seus próprios conceitos sobre a arte e os artistas contratados deveriam ser segui-los. Como não eram vistos como artistas, mas artesãos, eles sabiam que não podiam perder o maior empregador que era a Igreja Cristã.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Marinalva Dias Autor do post

    Lu
    O Renascimento deixou as transformações evidentes na cultura, na sociedade, na economia, na política e na religião. Houve efeitos nas artes, filosofia e ciências. Foi quando se deu a transição do feudalismo para o capitalismo. Foi um marco muito importante na história da Europa, fazendo mudanças relevantes em muitos domínios. Exerce influência até hoje em muitas partes do mundo na cultura.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      O Renascimento foi realmente uma fase muito importante da arte, trazendo consequências para os mais diversos campos. Da Itália ele se espalhou pelo resto da Europa originando inúmeras transformações. Será um período muito interessante para estudarmos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. Adevaldo R. Souza

    Lu
    Como o Renascimento foi um movimento de renovação das artes e ciências, tendo como características a valorização do homem, então vamos nos inspirar para receber novas informações culturais. Já começou bem nos mostrando a bela obra de Sandro Botticelli “O Nascimento da Vênus” uma de minhas obras pictóricas favoritas: pelo motivo, pela beleza plástica, pela composição das cores, pela iluminação e detalhes dos personagens da obra. Isso tudo nos motiva!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Nós veremos muitas obras-primas neste Módulo IV. Iremos destrinchar “O Nascimento de Vênus” de Boticelli assim como “Primavera” e muitas outras obras de artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio, Ticiano Vecellio, Jan van Eyck… São tantos os grandes mestres que nem mesmo dá para citá-los. Serão italianos, alemães, franceses, ingleses, etc. Juntos nesta jornada!

      É muito bom contar com a sua companhia.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  4. Hernando Martins

    Lu

    É muito interessante como os estilos de época se comungam num determinado período de transição para surgir o novo. Na verdade toda inovação é baseada em algo já existente, até porque nada se inventa, tudo se copia! Todas as leis do universo já existem e as pessoas com capacidades extraordinárias conseguem captá-las e materializá-las. A arte não foge disso, porque todo estilo em determinada época influencia o próximo de alguma forma. A arte é atemporal, consegue viajar no tempo e captar referências importantes para o enriquecimento das técnicas e temáticas.

    O Renascimento é o resgate da história da arte anterior com uma nova roupagem, adaptado aos moldes do pensamento estabelecido na Idade Média. Na idade medieval dominava o teocentrismo – Deus estava no centro do mundo. Em contrapartida, no Renascimento prevaleceu o antropocentrismo (o homem no centro do mundo), havendo uma mudança enorme na forma de pensar.

    A arte é nada mais, nada menos que a revelação do pensamento de um povo, numa determinada época, transformada em estilo de vida. A existência obscurantista e extremamente religiosa, com padronização da temática inibiu a criatividade dos artistas. A partir do momento em que surge a liberdade de expressão, a harmonia, a luz, a perspectiva, a temática e a simetria se unificam, tornando a arte majestosa.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      A mudança do teocentrismo para o antropocentrismo acabou modificando a maneira de pensar dos artistas o que reverteu para suas obras. O surgimento dos humanistas mostra ao mundo novos caminhos. As pessoas dão espaço para as mudanças e consequentemente para o novo. O Renascimento é realmente o resgate do antigo com o acréscimo do novo, pois, como disse:

      “A arte é nada mais, nada menos que a revelação do pensamento de um povo, numa determinada época, transformada em estilo de vida”.

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *