ÍNDIA – ONDE BOI É VACA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A grandeza de um país pode ser medida pela maneira como trata os animais. (Gandhi)

Se alguém viesse a me perguntar qual foi a mais importante manifestação do hinduísmo para fora, gostaria de sugerir que foi a ideia da proteção à vaca. (Gandhi)

Dentre as muitas coisas que chamam a atenção dos ocidentais sobre a Índia está o fato de que a vaca seja “sagrada” para a imensa maioria dos indianos. Tanto é que o termo “vaca sagrada” significa, dentro de nossa cultura, excesso de lealdade a um órgão ou instituição, que parou no tempo, sem se preocupar com mudanças. Há aí certa dose de ironia. E todo mundo sabe o que significa a expressão “vaca de presépio”.

O culto à vaca e ao touro foi uma prática comum, em muitas partes do mundo, começando na Mesopotâmia, cerca de 6.000 a.C., espalhando-se pelo noroeste da Índia, com a invasão do Vale do Indo, no segundo milênio a.C., pelos arianos (pastores nômades que estabeleceram a religião védica). O mais surpreendente é que esse culto persistiu singularmente na Índia, até os dias de hoje.

Os horrores do mundo ocidental, praticados contra os animais, começam com a caça por esporte, rodeios, touradas e vivisseção. Mas, concomitantemente, também temos o inverso, que diz respeito aos animais de estimação bem melhor tratados de que as crianças abandonadas. Por ocasião da Copa do Mundo na China, as pessoas mostraram-se indignadas com a morte de cães naquele país. Então precisamos ser compreensivos, também, com os indianos, ao se sentirem indignados com a matança de vacas.

 Os hindus vegetarianos mais ortodoxos nem ovos consomem. Mas outros comem frango, peixe e carneiro. Na Índia, a grande maioria dos restaurantes é vegetariana. E mesmo as pessoas que comem carne, fazem-no apenas algumas vezes por semana, diferentemente dos brasileiros que dela fazem o seu principal alimento diário. No Japão, a carne entra normalmente como um complemento alimentar, agregado a outro alimento.

Na Índia, a vaca é chamada de “goru” e não há diferença entre ela e o boi. Vaca é vaca e boi també é vaca! A tradição da sagração da vaca nasceu com o hinduísmo, que considera esse animal até mais “puro” que um brâmane (casta principal). Não pode ser morto ou ferido, e deve circular por onde bem entender, sem ser incomodado. O leite da vaca, sua urina e até mesmo suas fezes são utilizados em rituais de purificação. Nada se perde desse animal.

Somente os muçulmanos (vistos como impuros e seu toque poluente) podem matar as vacas, sendo o ofício de carniceiro exclusivo dessa comunidade. Só se pode comer carne de vaca, em toda a Índia, nos restaurantes muçulmanos. Todos os outros cidadãos deste subcontinente (hindus, jainistas, budistas e outros) têm a vida como algo sagrado, sendo que a vaca é a sua maior representação.

Na Índia, as vacas passeiam tranquilamente pelas cidades e vilas, sem que sejam molestadas pelos habitantes. Elas morrem de velhice e possuem hospitais próprios. E é interessante notar que certas pessoas advindas de todas as castas, incluindo as mais altas, abriram mão de suas profissões para se devotarem apenas ao bem-estar das vacas mais fragilizadas e mais velhas, criando vacarias, sustentadas por elas e por outras pessoas que cooperam com donativos. Em alguns lugares, é considerado bom augúrio dar um lanche, um pedaço de pão, ou fruta a uma vaca. E um cidadão pode ser enviado para a prisão por matar ou ferir uma vaca.

Alguns estudiosos acreditam que a tradição chegou ao hinduísmo através da influência  vegetariana do Jainismo (é uma religião indiana que enfatiza a não violência e a ascese), mas a vaca continua a ser o mais respeitado e protegido, dentre todos os animais da Índia. Versos do Rigveda referem-se à vaca como Devi (deusa), identificado com Aditi (mãe dos deuses).

Da vaca tudo é aproveitável, sem a necessidade de matá-la:

  • O leite, chamado de “dut” é usado nas três principais refeições, assim como o  arroz,  chá ou  café.
  • Do leite amassado são feitos requeijões artesanais. É o alimento principal para Krishno, o deus do amor.
  • Muitas oferendas postas nos templos hinduístas são feitas com flores, ovos e doces,  levam leite.
  • O leite é o símbolo da vida, importante para a sobrevivência e crescimento das crianças.
  • O leite é de suma importância para as pessoas da terceira idade, que dele também necessitam.
  • A vaca (assim como o boi) puxa todo tipo de carros, com rodas de pau e de ferro, para semear o arroz e a mostarda.
  • A bosta, depois de seca, é também aproveitada, sendo recolhida, posta para secar nas paredes e muros das casas, e depois é usada como lenha, para fazer o fogo nas cozinhas.

Existe, portanto, uma razão econômica para sustentar a sacralização da vaca. Mas nem tudo é ouro para as “vacas sagradas”.  Apesar de seu status sagrado, elas nem sempre parecem muito apreciadas na Índia. Os turistas, muitas vezes, são surpreendidos, ao vê-las andando negligenciadas pelas ruas, ao redor da cidade, vivendo no lixo das sarjetas, estando muitas delas doentes.

A vaca é homenageada pelo menos uma vez por ano, em Gopastami. No “Vaca Holiday”, as elas são lavadas e decoradas no templo e oferendas são oferecidas na esperança de que os dons de sua vida continuem.

Nota:   Imagem copiada de http://www.bbc.co.uk/mundo/lg/cultura_sociedad

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