MINHA CASTA CASTANHEIRA

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Autoria de Augusto Bill

ed123

Fiquei muito impressionado com ela, com seu tamanho, com sua beleza, com sua solidão e com sua dor. (Augusto Bill)

Minha Casta Castanheira
Pedra… Pó… Poeira.
Sol… Calor… Clareira.
Casta… Castanha… Castanheira.
Saúda o mar, que já não há.
Provoca uma lágrima em seu olhar,
que desidratou e pereceu de tristeza,
impedindo-a de expressar com seu pranto,
a imensa dor de se apear da beleza
das suas verdes companhias,
devastadas pela humana ganância,
matriz de medonhas anomalias.

Um relevo singular para a Região Amazônica (serras, platôs e vales) abrigava, outrora,  a esplêndida floresta, que servia de refúgio e morada a milhares de espécies de nossa fauna e flora.

Onças e seus filhotes brincalhões alertavam as guaribas para os perigos destes rincões. A anta, com seu porte exemplar, ratificava a fartura de alimentos deste lugar.

Aves de toda espécie, alçavam aos céus levando sua prece: “Senhor do Céu e da Terra, glorificamos tua bondade de conceder-nos este lugar, para vivermos em dignidade.”. E o Senhor do Céu e da Terra, comovido com a gratidão, espalhou, por todo canto, as bênçãos da criação.”.

E assim, por onde se via, cresciam as coisas do chão; a água, pura e cristalina, brotava em efusão; sementes de mil plantas, eclodiam em profusão; lagoas, banhados e rios, cumpriam sua missão, irrigando a terra bendita e proporcionando condição para que a vida se desenvolvesse, intensa e sem coação.

E logo, logo, o que se viu, foram o Céu e a Terra, juntos, em comunhão. Mas o Senhor do Céu e da Terra, em sua imensa paixão, não percebeu que uma espécie, destoava na equação: o Homo, dito sapiens, que a sua imagem herdou, mas que, por infeliz destino, seu caráter renegou.

O homem, quando aqui chegou, não viu beleza, não viu valor e não se conformou. Decidiu que esta terra a outro fim prestava. Tantos bichos, tantas plantas, que desperdício ostentava, tinha de ser alterada – pensava ele. E um novo marco nascia: a Natureza saindo, pensava ele que a prosperidade crescia.

E assim foi feito então, e, para as centenas de espécies que ali viviam, foi dada a solução: foram trocadas por uma espécie padrão – o boi, que foi introduzido, para nossa alimentação.

– Macaco, paca, tatu, tucano e jaguatirica, caiam fora daqui, só assim a população fica rica.

Foi dessa forma que o gado herdou a terra que Deus não lhe destinou. Para que pastasse, as árvores foram derrubadas, sobrando uns poucos indivíduos de uma família desafortunada – castanheiras – pois continuam vivendo, mas sua terra foi desfigurada, seus companheiros abatidos por uma mão amaldiçoada.

Mas a mão humana que hoje ceifa, certamente amanhã será ceifada!

Notas do autor: A Serra dos Carajás, famosa pela ação da Vale do rio Doce, fica em um município do estado do Pará, que contém riquíssimas jazidas minerais. É uma linda região, que já foi de mata primária, hoje devastada para a pecuária. Milhares de hectares de floresta transformados em pasto. Aqui e ali, encontramos Castanheiras, espécie ameaçada de extinção, e, que tem sua derrubada proibida, por isso são poupadas. Vemos imensas áreas desmatadas, com alguns poucos indivíduos de Castanheira espalhados. É uma árvore imensa, chegando facilmente aos 40 metros de altura. São gigantes solitários, que parecem sentir a ausência da antiga floresta, de seus companheiros vegetais, dizimados pela sanha humana. É como uma (casta) família destinada ao isolamento. Fiquei muito impressionado com elas, com seu tamanho, com sua beleza, com sua solidão e com sua dor.

6 comentaram em “MINHA CASTA CASTANHEIRA

  1. Augusto

    Olá Edward,

    Obrigado pela sua intervenção. Comungo da sua opinião de que o ciclo da água é basilar para o ciclo da vida. E também acredito que estamos trilhando um caminho perigoso, com o descaso ambiental. Sou amazônida e a floresta é parte de minha vida. Vejo, a todo momento, ações antrópicas acontecendo, em todos os segmentos e em larga escala. Um pouco timidamente, surgem movimentos contrários à essas ações e, atualmente, somos “larga” minoria. Acredito que o esclarecimento, ou melhor, a exposição do problema e a proposta de medidas inibidoras, mitigadoras ou penalizadoras, podem contribuir para aumentar a conscientização ambiental de nosso povo. Por essa razão, me expresso.

    Abraços

    Responder
  2. Messias

    Augusto,

    já tive a oportunidade de vislumbrar, em várias regiões da Amazônia, a beleza e “dignidade” dessa fantástica árvore, a cada dia mais dizimada, deixando assim de alimentar, com a sua preciosa castanha (que vale por um bife), inúmeras espécies.

    Parabéns pela linda homenagem a essa dádiva da natureza.

    Abraço,

    Messias

    Responder
    1. Augusto

      Olá Dr.,

      Lembro-me que você sempre ressaltou o valor nutricional de nossas castanhas; sei que é um entusiasta dos produtos amazônicos. Sua vida dedicada aos nossos animais silvestres é um legado extraordinário.
      Obrigado pelo comentário.

      Abraços

      Responder
  3. LuDiasBH Autor do post

    Augusto

    Como venho lhe dizendo, você não pode deixar que a sensibilidade de sua alma poética perca-se no emaranhado de mil coisas que faz. Tire um tempinho, pelo menos uma vez por semana, e transforme em vida os seus versos, ou até mesmo os seus textos em prosa. Não permita que tal dom esvaia-se com o tempo, por falta de ser regado.

    O que dizer-lhe, senão que brindou o Vírus da Arte & Cia. com um artigo de inegável beleza, apesar de toda a tristeza que nela se capta. Mas a arte é assim, mesmo na lida com a agonia, com a aflição, com a amargura, com a angústia e o descontentamento, ela pode ser bela.

    Um grande abraço,

    Lu

    Responder
    1. Augusto

      Cara amiga, seu elogio e seu conselho alegram-me duplamente, pois conheço a lisura de sua análise. Quero reiterar aqui, que se hoje atrevo-me a rabiscar algum texto, devo fundamentalmente ao seu apoio a ao seu exemplo.
      Obrigado pelas palavras e também pelo espaço no site.

      Abraços,

      Augusto

      Responder
  4. Edward

    Augusto

    Excelente o seu texto.
    Infelizmente, nós, seres humanos, estamos acabando com as florestas e não percebemos o quanto são importantes para a vida. É na floresta que encontramos a engrenagem do ciclo hidrológico. Basta observar que, quando há cobertura vegetal, e chove, a infiltração da água é lenta e consegue atingir os lençóis freáticos. Depois, segue o caminho e desabrocha em olhos d´água, minas, tudo que, somado a outras nascentes, gera pequenos córregos, logo afluente de rios menores, depois maiores, como o sagrado Rio São Francisco. Sem a floresta, as águas das chuvas correm, retiram as riquezas das terras e não percolam, dificultando a perenidade das águas e do ciclo hidrológico, o ciclo da vida.

    No seu texto, ficou muito claro que:

    “O homem, quando aqui chegou, não viu beleza, não viu valor e não se conformou. Decidiu que esta terra a outro fim prestava. Tantos bichos, tantas plantas, que desperdício ostentava, tinha de ser alterada – pensava ele. E um novo marco nascia: a Natureza saindo, pensava ele, que a prosperidade crescia”.

    Ao final, percebe-se que o ser humano caminha para a destruição da vida, máxime eliminando as florestas que são o nicho mais forte de nossa sobrevivência, sem a qual não haverá água. E sem ela, a vida!

    Abraços

    Responder

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