Autoria de LuDiasBH
Certa vez, meu tio encafifou-se
com uma voluptuosa mulher à toa.
E na casa de meu irreverente avô,
esse era o tema decorrente.
Nos meus cinco anos e seus deslizes,
cheia daquela pureza peculiar à época,
em meio ao jantar, sapequei, inocente:
– Meu vô, o que é mulher à toa?
E sério ele me respondeu de soslaio:
– É mulher desatrelada, livre, sem dono,
que pode fazer o que bem quer coa vida
e, que vive pulando de galho em galho.
Depois de recebida tal explicação, e
tendo entendido da lição a metade,
eu logo escolhi a minha futura lida:
ser mulher à toa por profissão.
Seria liberta como uma andorinha,
e só iria aonde me desse vontade,
sem patrão para mandar em mim,
seria mulher à toa por opção.
Quando íamos brincar de casinha,
cada criança escolhia a personagem:
artista, médica, dentista, professora,
mulher à toa era sempre a minha.
Eis que certo dia entrou no grupo
uma prima, velhota de oito anos.
Sabichona, já frequentava a escola,
conhecia do mundo os desenganos.
Mal começada a brincadeira, a prima
escolheu ser da turma a professora,
perguntando a cada aluno o que seria.
E eu, sem pestanejar: – Mulher à toa!
Arregala os olhos a velha mestra
e me pergunta em tom de briga:
– Aluna, será que você não sabe,
que mulher à toa é rapariga?
Minha pobre profissão morreu ali,
decapitada, sofrida, em frangalho.
Nada mais queria ser, se não podia
sair por aí a pular de galho em galho.
Obs.: Em certas regiões do Brasil, a palavra “rapariga” tem o mesmo significado de “meretriz”.
Nota: Menina com Flores – Renoir