O BELO NA ARTE (Aula nº 2)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                          

Diz um velho ditado que “a beleza está nos olhos de quem a vê”, contudo, para ver o belo é necessário que estejamos abertos ao novo, ao diferente, ao incomum, assim como o filósofo e a criança que jamais são preconceituosos ou apressados no julgamento. Quando não entendem algo, eles buscam a compreensão quer através da observância quer através da indagação. É necessário, portanto, descartarmos velhos hábitos e preconceitos para desfrutarmos do maravilhoso e benéfico mundo da arte, não nos esquecendo de que viver é estar em permanente aprendizado, numa constante transformação. Pobres de espírito são aqueles que estão sempre a dizer que nunca mudam de opinião. O contato com a arte ajuda-nos a estimular a nossa sensibilidade, pois o gosto é predisposto a mudanças e ao desenvolvimento.

A arte não retrata apenas o belo, ela é capaz de tornar formoso mesmo aquilo que é considerado feio. O que conta é a sensibilidade do artista e a receptividade do observador. O que não podem faltar são emoções, sensações e sentimentos. Existe hoje uma nova percepção, bem mais aguçada e inteligente quanto ao conceito de arte no campo visual figurativo que se define como “qualquer atividade que, por meio das imagens, procure comunicar sensações, emoções e sentimentos”. Concluímos, portanto, que gostos e padrões estéticos variam de acordo com as diferentes culturas, havendo variações até mesmo dentro da mesma cultura, sem falar que os conceitos não estão imunes ao tempo, ou seja, eles se encontram em constante transformação.

O famoso pintor alemão Albrecht Dürer fez um retrato de sua mãe idosa, já com as marcas da velhice por todo o rosto, enquanto o não menos famoso pintor flamengo Peter Paul Rubens fez um desenho de seu filhinho Nicholas. No primeiro caso nós nos defrontamos com uma senhora já desgastada pelo tempo e pelas labutas da vida, enquanto no segundo vemos o rosto de um garotinho angelical, ainda no limiar de sua vida. A beleza de ambas as composições é real, porque tanto o pai embevecido com seu filho ainda bebê quanto o filho cheio de amor por sua mãe envelhecida pelos anos fizeram sua obra com muito desvelo e sensibilidade, resultando em duas belas obras de arte. Tais exemplos levam-nos à compreensão de que o encanto de uma obra artística não está na beleza do tema, mas na maneira como ela foi feita, no cuidado e desvelo que o artista dispensou ao seu trabalho.

Outro exemplo de que o encanto de uma obra artística não é consequência do tema pode ser visto nas crianças esmolambadas, descalças e sujas dos quadros do espanhol Murillo Bartolomé Esteban. A obra intitulada “Murillo – MENINOS COMENDO MELÃO E UVAS” (cliquem no link para conhecê-la) é um primor , ainda que ver crianças judiadas pelas ruas seja triste. O artista usou toda a sua sensibilidade ao captar o encontro dos três garotos. Assim como a obra de Murillo, não podemos ignorar, por exemplo, a beleza da letra e da composição musical de Chico Buarque de Holanda em “Meu Guri” ou “Assum Preto” do genial Luiz Gonzaga. Ainda que ambos os temas sejam dolorosos, a obra em si é arrebatante, capaz de tocar profundamente a nossa sensibilidade.

Sabemos que gostos e padrões de beleza são os mais variados, contudo, a falta de conhecimento também nos afeta numa avaliação, sobretudo quando essa diz respeito a uma obra de arte. Temos a tendência de apreciar somente aquilo que já conhecemos ou que entendemos com mais destreza e, em razão disso, acabamos deixando de lado o diferente, aquilo que exige mais acuidade e tempo na sua compreensão. Daí a necessidade de adquirirmos maior conhecimento em relação a obras que não sejam tão óbvias, na tentativa de captar os sentimentos do artista, seja ele antigo ou moderno. Além do mais, nós também passamos a exigir mais do nosso cérebro, o que é muito importante para desenvolver suas habilidades.

Exercício

1. Como podemos ampliar o nosso gosto em relação à arte?
2. O que une o desenho de Dürer e o de Paul Rubens?
3. Por que o tema não é o ponto principal a ser avaliado numa obra de arte?

Ilustração: Dürer – Retrato de Sua Mãe (1514) / Rubens / Retrato de Nicholas (c. 1620) –

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

14 comentaram em “O BELO NA ARTE (Aula nº 2)

  1. José Eduardo Alves Santos

    Em relação ao fragmento recorrente “a beleza está nos olhos de quem vê” faz-se necessário parafrasear o extraordinário poeta pernambucano Rubens Alves (in memória) que, correlacionado a este, diz: “Ninguém consegue ver a beleza de alguém, se não tiver beleza dentro de si.”

    Parabéns pelas boas produções de textos!

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    1. LuDiasBH Autor do post

      José Eduardo

      O pensamento de Rubens Alves é incontestável, pois no outro reflete apenas aquilo que cada um traz dentro de si.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Matê Autor do post

    Lu

    O mundo está em permanente transformação e, por isso, obras de arte devem ser aceitas sem preconceitos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Matê

      As transformações cada vez mais velozes do mundo não mais permitem o preconceito. É fato!

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. Antônio Costa

    Lu

    Muito verdadeiro e elucidativo o comentário do Hernando!

    Este segundo artigo (aula 2) reporta-me à arte fotográfica caracterizada mais pela sensibilidade e oportunidade, ansiadas as condições de luminosidade ambiental. Apesar de ser muito interessante e ter muitos avanços neste campo, a verdadeira arte tem uma alta dose de exigência do seu autor, cheia de intencionalidade e emoções profundas.

    Abraços

    Responder
  4. Leila Gomes de Souza

    Lu

    A arte inebria, tira de nós quaisquer resistências e nos leva a entrega total ao que é proposto, enxergar a alma do artista na sua criação. O segredo, na minha compreensão, é o sentimento desfrutado diante de uma obra de arte. Entramos naquele mundo, naquela leitura do sentimento expresso em forma de arte. É verdadeiramente libertadora, um apelo à descoberta de nós mesmos.

    Grande abraço

    Leila

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Leila

      Você fez uma interpretação brilhante do poder da arte, fechando com chave de ouro:
      “Entramos naquele mundo, naquela leitura do sentimento expresso em forma de arte. É verdadeiramente libertadora, um apelo à descoberta de nós mesmos”.

      Abraços,

      Lu

      Responder
      1. Leila Gomes

        Lu

        Você, sim, é uma mulher brilhante, com exímia capacidade de transmitir conhecimento.

        Abraços,

        Leila

        Responder
        1. LuDiasBH Autor do post

          Leila

          Tendo alunos como você, fica fácil para qualquer professor repassar conhecimento. Como é bom contar com a sua presença!

          Beijos,

          Lu

  5. Hernando Martins

    Lu

    “Quando você não está preparado para ver, aquilo não existe para você”.

    O artista quando cria sua obra, coloca toda a sua sensibilidade para materializar algo intrínseco a sua mente e emoções.

    É muito importante o modo como o observador aprecia a obra de arte de forma a entrar em sintonia com o artista, a fim de captar as emoções expressas na obra com todas as suas peculiaridades. Como dizia o gênio da física no século passado, Albert Einstein, “tudo é relativo”. Então podemos afirmar que o belo e o feio são determinados pelo olho do observador, lembrando que vários fatores podem influenciar nas escolhas em virtude do contexto da época em questão.

    A padronização de estilos e conceitos são determinados pelo momento que uma civilização vive, lidando com valores estabelecidos em vários aspectos: políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais. Toda essa gama de informações tem um efeito hercúleo na vida das pessoas que estão inseridas em determinado momento da história. Podemos afirmar que a padronização do sistema dominante, independentemente do período da evolução das civilizações, tem um papel preponderante na determinação dos valores estabelecidos sobre o inconsciente coletivo, fator poderoso para o domínio dos povos. Entretanto, o artista é o elemento ímpar para romper com paradigmas e captar o momento vivido de uma forma sensível e inteligente e revelar algo às vezes proibido pelo sistema vigente,trazendo à tona temas importantes para denunciar injustiças, preconceitos, guerras e misérias de uma forma tão verdadeira e sensível, que consegue comover aqueles que estão em sintonia com todos os aspectos inerentes à dignidade humana.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Agradeço muitíssimo a sua participação.

      Nada melhor que um artista para falar sobre arte. Seu trabalho é primoroso, carregado de muita sensibilidade. Concordo plenamente com todos os pontos que você levanta aqui. A arte, sem dúvida, é libertadora em todos os sentidos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
      1. Hernando Martins

        Lu

        Sou eu que me sinto honrado em participar deste momento cultural, capaz de me proporcionar mais conhecimento e ampliar a minha percepção em relação à “história da arte”, ao travar contato com todas as suas facetas.

        Responder

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