Autoria de LuDiasBH
Embora o dia amanhecesse plácido,
e a manhã estivesse abundosa de luz,
meu coração expandia de infortúnio.
Era preciso me unir à natureza, antes
que tal tormenta me levasse junto.
Uma escolha ainda poderia ser feita,
ali no cume daqueles rochedos quedos:
aconchegar-me com a vida em derredor,
ou altear o voo cego dos desesperados,
mesmo em meio à dúvida e ao medo.
Nuvens de borboletas azuladas adejavam,
pescadores deslizavam-se pelo verde mar,
vozes infantis ondulavam pelos ares, e um
cheiro de camarões marinhos emanava de
montanhas rosadas, lá longe, a secarem.
Parapentes e balões matizavam o céu azul,
garotos voavam em asa-delta, com prazer,
gaivotas cabriolavam nos ares, com o gozo
que somente os pássaros devem conhecer.
E eu ali, perdido e solitário em meu exílio,
os dentes cortando os lábios em exaustão,
repleta de selvageria e desespero mudos,
só um fio me segurando na rebentação.
Havia dureza e mágoa presentes em mim.
Todo o ser aguardava a ordem deliberada,
embora um tênue fio verde de esperança,
inda me ligasse à beleza da vida ansiada.
Lágrimas doídas deslizaram-me pela face,
dançando sob a luz da manhã relumbrante.
Sol e brisa, com pena de minha dor vesana,
transformaram-nas em gotas de brilhante.
E nasci de novo para a vida!
Nota: obra de Caspar David Friedrich