O NEGRINHO DO PASTOREIO (II)

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Recontada por Lu Dias Carvalho

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As gentes de hoje não fazem ideia do que era o tempo da escravidão no Brasil, quando o fato de ser negro significava ser tratado como bicho sem valor. Naqueles tempos desgraçados, havia homens e mulheres que tinham no lugar do coração uma pedra bruta, pois não se apiedavam daquela gente sofredora, vinda à força de seus países, para aqui submeterem-se aos maus-tratos da nobreza e burguesia. Faziam-lhes todo tipo de maldade, sob a alegação de que os escravos não possuíam alma.

E é por causa dessa mancha vergonhosa na história de nosso país que chegamos à história do Negrinho do Pastoreio. Bem, esse rapazola sofria a sujeição de uma família, cuja malvadeza era ainda maior do que a imensa riqueza que possuía. O patrão era um homem dono de terras a perder de vista. E esse tal tinha um filho que era a corda de seu coração. Contudo, era impossível mesurar qual dos dois era mais perverso. Toda a raiva, que sentiam, era descontada nos seus escravos. E mais ainda nesse menino, negrinho como uma noite escura e de dentadura branca como a neve. Como não lhe fora dado um nome, recebeu o apelido de Negrinho, e assim era chamado por todos.

Se para os escravos não fazia diferença entre domingo, feriado e dia de semana, pois havia sempre uma quantidade de serviço a ser feito, Negrinho não tinha sossego nem mesmo durante a noite. De uma feita, o tal senhor resolveu fazer uma aposta com outro vizinho, para saber qual dos dois tinha o cavalo mais veloz. A Negrinho coube a tarefa de treinar o cavalo baio e participar da corrida.

No dia marcado, com a presença de toda a vizinhança, deu-se o evento. O cavalo baio, que vinha mantendo a dianteira, assustou-se com uma cobra e, por uma cabeça, perdeu a corrida. Negrinho sabia que se encontrava em maus lençóis. Estimulado pelo filho, o homem mau não via a hora de castigar o garoto. E assim o fez, deixando-o em carne viva. Negrinho adormeceu de dor e cansaço. Enquanto isso, o cavalo baio fugiu, levando os outros atrás. E num mesmo dia, o molecote recebeu duas sovas de chicote.

Negrinho foi obrigado a ir atrás dos cavalos, à noite, levando apenas um toco de vela para alumiar a escuridão. Os pingos, que escorriam pelo chão, iam se transformando em luz, a alumiar o caminho, de modo que lhe foi possível encontrar os cavalos, mas depois de amarrá-los, caiu no chão desmaiado de dor, cansaço e sono.

Ainda de madrugada, o filho do fazendeiro chegou pé ante pé e soltou o cavalo baio, e foi contar ao pai que Negrinho não o trouxera. O perverso mandou buscar o sofredor. Como não aguentava caminhar, o garoto veio amparado por dois escravos, sendo depositado aos pés de seu senhor. Apesar das explicações e dos pedidos de clemência, nada comoveu aquele demônio em figura de gente, que bateu no garoto ainda com mais força. Todo o seu corpinho estava dilacerado, espirrando sangue. Ele parecia morto.

Junto com os escravos, o satânico senhor começou a procurar uma cova para enterrar Negrinho. Encontraram um enorme formigueiro, e ali jogaram seu corpo para que as formigas devorassem-no. Depois do amanhecer do dia seguinte, o homem e o filho foram visitar o local, para se vangloriar do feito. Mas lá estava Negrinho, de pé, tendo ao lado o cavalo baio e mais trinta cavalos.

O menino montou no cavalo baio e partiu como um raio, enquanto o malévolo fazendeiro gritava por seus cavalos. E há quem diga que, até os dias de hoje, é comum encontrar o Negrinho montado no seu cavalo cor de ouro, seguido pelos outros, pois virara um anjo negro, e, que Nossa Senhora tomou-o por afilhado. Dizem também que, se alguém perder alguma coisa, basta interceder a ele para encontrar.

Nota: imagem copiada de textosmaravilha.blogspot.com

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