O PAI DEFINIA: VIVER OU MORRER

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Autoria de Lu Dias Carvalho

renasce

Durante o Império Romano, o chefe de família era o responsável por bater o martelo no que diz à sorte do filho recém-nascido. Era ele quem decidia se sua cria deveria continuar vivendo ou não. Práticas tidas hoje como inaceitáveis, como o aborto e a rejeição do bebê eram comuns à época. Aliadas a essas estavam o infanticídio de filhos de escravas e a rejeição às crianças de nascimento livre, sob ordem do pai. Tais fatos não eram apenas comuns, como legais.

Assim que o bebê nascia, era colocado no chão pela parteira. Se o pai levantasse-o, significava que estava sendo aceito por ele. Se, ao contrário, deixasse-o no chão, seria, a seguir, deixado na frente da casa ou jogado num depósito de lixo público. Se alguém se interessasse por ele, levá-lo-ia, se não, morreria ali mesmo.

Mesmo ausente de casa, o chefe de família poderia ordenar que sua mulher, ao parir, ficasse ou não com sua criança. Embora os romanos e os gregos soubessem que os povos egípcios, germanos e judeus aceitavam todas as suas crianças nascidas, eles não abriam mão de seus cruéis métodos.

A rejeição às meninas era muito maior do que aos meninos, fato que ainda perdura em muitas civilizações nos dias atuais. As crianças nascidas com má formação eram enjeitadas ou afogadas. O próprio filósofo Sêneca apregoava que “É preciso separar o que é bom do que não pode servir para nada.”. Eram muitas as causas que levavam à rejeição de recém-nascidos:

• as famílias pobres rejeitavam-nos por elas serem incapazes de criá-los;
• os que tinham uma situação um pouco melhor, enjeitava-os por não poderem lhes dar uma educação de qualidade;
• os que pertenciam à classe média, preferiam poucos filhos, de modo a oferecer-lhes mais cuidados e recursos financeiros;
• os ricos, enjeitavam-nos, muitas vezes, para que não influíssem em testamentos já prontos.

Em razão dos fatos dispostos acima, dificilmente um recém-nascido repudiado conseguia sobreviver. Havia casos esporádicos em que a mãe entregava o bebê a vizinhos ou servos, que dele cuidavam sigilosamente, como se fosse seus. Mais tarde, ele se transformava num escravo livre, em relação a seus criadores.

Os filhos nascidos fora do casamento não eram reconhecidos pelos pais (chefes de família), pois o que importava era o nome da família legítima e não aquilo que chamamos de “a voz do sangue”, tanto é que o escravo liberto passava a carregar o sobrenome de seu senhor, responsável por sua libertação, o que prolongava o nome da família. Outros motivos também contribuíam para que o recém-nascido fosse rejeitado:

• caso o marido duvidasse da lealdade de sua esposa;
• nas manifestações político-religiosas, alguns pais repudiavam os filhos como forma de      protesto contra alguma causa, como a morte de uma pessoa poderosa.

O aborto e os mais diferentes métodos contraceptivos, incluindo a esterilização através de drogas, eram usuais naqueles tempos. Era muito comum a mulher lavar-se após o ato sexual, como forma de impedir a gravidez. Há também, nas pesquisas, uma menção a uma droga espermicida. Apenas à mulher cabia a tarefa de evitar ou interromper uma gravidez. O homem não participava de nada, nem mesmo se dava ao trabalho de interromper o coito (coitus interruptus).

Até três filhos era permitido por lei, que considerava tal número mais do que necessário para dar continuidade à perpetuação da espécie. Contudo, a partir do final do século II de nossa era, quando a moral cristã passou a vigorar, não mais se levou em conta o número de filhos.

Leia também o texto seguinte desta série:    A INFÂNCIA NO IMPÉRIO ROMANO

Fontes de pesquisa:
História da Vida Privada I / Comp. das Letras
Nossa Herança Ocidental/ Will Durant/ Editora Record/ 4ª edição

Nota: imagem copiada de blogelseviersaude.elsevier.com.br

14 comentaram em “O PAI DEFINIA: VIVER OU MORRER

  1. Patricia

    Oi Lu,

    É muita loucura do homem, achar que tem o poder de exterminar aquilo que está fora de um padrão. Lendo este texto certificamos o quanto ainda somos primitivos.

    O vídeo do cachorro é triste mas nos remete à esperança.
    Um grande abraço.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Pat

      O homem sempre foi muito prepotente, achando que pode tudo.
      Realmente ainda continuamos bem primitivos.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  2. Maria Beatriz M. Machado

    Oi Lu, saudade de falar com você. Novamente parabéns pela nova coluna e por este vídeo em que ainda podemos ver amor neste mundo. E viva os animais, e viva a vida de todos os seres do bem.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Maria Beatriz

      Também ando com saudades suas, menina. Já ia mandar rastreá-la. Não suma assim. Espero contar com a sua presença nesta nova coluna. E viva a vida!

      Beijos,

      Lu

      Responder
  3. Matê

    Os antigos, ao “descartar” o que lhes parecia problemático (aleijões, prematuros, debilitados) deveriam fazê-lo na melhor das intenções. De boas intenções o inferno está cheio.
    Abraços

    Matê

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Matê

      Mas eles também eram vítimas do desconhecimento, sem falar que acreditavam num monte de deuses do Olimpo que também matavam os filhos. Somente com a chegada do cristianismo é que as coisas começam a mudar.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  4. Pedro Rui

    Belo texto, nunca pensei que o pai, no Império Romano, tivesse tanto poder sobre nascimento de um bebê, ainda hoje há muita crueldade, é triste.

    Vi o vídeo do Ed, até me veio as lágrimas aos olhos, não podemos perder a esperança de que os humanos mudem as suas ações tão cruéis.

    Abraços

    Rui

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Rui

      Viver não era fácil naqueles tempos. Nem as crianças estavam a salvo da crueldade. As pessoas achavam tudo normal, pois, à época, não tinham a crença num só Deus, mas nos vários que diziam habitar o Monte Olimpo.

      Abraços,

      Lu

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  5. Edward

    LuDias

    Confesso, realmente, que pouco conhecia deste poder paterno e de sociedades que concordavam com o extermínio daqueles que, ao nascer, não era aceitos. É horrível, mas a humanidade era assim. Existem atos inaceitáveis ainda hoje, praticados por seres humanos; por outro lado, há aqueles que são maravilhosos, mostrando que no caso do bem e do mal, um deles prevalece em cada um de nós e define a nossa existência.

    Esse vídeo mostra que o ser humano pode se comover e ter compaixão de um cão. Assim, pessoas como essa fazem com que possamos ter ainda muita esperança:

    https://www.youtube.com/watch?v=5uVvy92i5gw

    Abraços

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  6. Oziel Oliveira

    Mais uma vez sou surpreendido por um trabalho de excelente qualidade, o qual nos trás uma visão diferente daquela comumente mostrada na literatura em geral.

    Oziel Oliveira

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Oziel

      Que bom responder a um comentário seu.
      Vou remexer lá no passado de nossa história e trazer fatos desconhecidos, que irão mostrar o quanto éramos bárbaros.

      Grande abraço,

      Lu

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  7. Renato

    Um dia a nossa atual civilização incoerente também será ainda parte de um livro como este. Mas eu gostei do enfoque e da escolha do artigo, embora bastante triste, claro.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Renato

      Você está correto no que diz respeito à natureza, pois o homem vem acabando com a vida natural. Não respeita a fauna e a flora. Acha que é o dono do planeta. Sem falar do descuido com a água. Contudo, pesquisas recentes mostram que o planeta vive a sua melhor fase em muitos quesitos como saúde, poucas guerras e mais justiça.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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