OS RETRATOS NA IDADE MÉDIA (Aula nº 27)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

      

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A arte deu um grande passo no século XIII, quando os artistas, vez ou outra, deixavam de lado seus cadernos de modelos com o objetivo de criar algo que dissesse respeito à sua própria vontade, sem levar em conta as exigências às quais deviam obedecer e que, de certa forma, tolhia-lhes a liberdade criativa. Para a época tal iniciativa teve um grande significado para a arte, uma vez que o artista da Idade Média tinham sempre um modelo convencional que lhe servia de parâmetro.

O treinamento e a formação do artista medieval diferem muito daquilo que conhecemos hoje. O primeiro passo era tornar-se aprendiz de um mestre, a quem o aluno ajudava em seus trabalhos, de acordo com as suas orientações. Ao aprendiz cabia as partes menos importantes de uma pintura. Gradualmente ia aprendendo a representar um apóstolo, a desenhar a Virgem Maria, a copiar e a reagrupar cenas de velhos livros e a inseri-las em diversos contextos e, finalmente, quando já tinha bastante traquejo, era-lhe permitido ilustrar uma cena da qual não tinha nenhum modelo. Contudo, em sua carreira de artista ele jamais necessitaria pegar um livro de esboço e criar algo a partir da vida real. Isso estava fora de cogitação.

Ao encomendar um retrato, a pessoa já sabia que não receberia uma obra fiel, com as suas devidas características. Desenhava-se uma figura convencional, acrescentando a ela as insígnias do cargo que ocupava (coroa e cetro para o rei, mitra e báculo para o bispo, etc.). Algumas vezes escrevia-se embaixo o nome do sujeito representado, quando esse não era muito conhecido, a fim de que não houvesse equívoco quanto à sua pessoa. Será que esses artistas medievais não tinham capacidade para criar um retrato que fosse fiel à encomenda? Claro que tinham, mas não se tratava disso! Naquela época ainda não se cogitava se sentar diante de uma pessoa ou objeto e fazer uma cópia do que se via, durante horas a fio. Para tudo já havia um modelo convencional, ao qual se aplicava alguns detalhes a mais.

Como foi dito anteriormente, o artista do século XIII ocasionalmente ousava representar aquilo que lhe interessava pessoalmente, sem se ater aos ensinamentos didáticos, ou seja, sem levar em conta um modelo convencional. O retrato do elefante que ilustra este texto é um exemplo disso. Foi desenhado por Matthew Paris — monge beneditino e historiador inglês — em meados do século XIII. É claro que o animal não saiu muito bem feito, apesar de o artista demonstrar sua preocupação com suas proporções. Entre as patas do paquiderme há uma inscrição latina que diz: “Pelo tamanho do homem neste retrato podeis imaginar o tamanho do animal aqui representado”. Ainda que o elefante possa se mostrar meio desajeitado, fica claro que os artistas medievais tinham consciência de pontos como proporções, ainda que não os usassem em suas obras. Mas por que deles não faziam uso? Simplesmente não  achavam necessários, ou seja, para eles tais incrementos  não faziam diferença nenhuma no conjunto da obra. E assim seguia a corrente…

Exercício
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as questões abaixo e acessar o link  para complementar a aula:

  1. Como era a formação do pintor medieval?
  2. Como eram criados os retratos nessa época?
  3. Nicola Pisano – ANUNCIAÇÃO, NATIVIDADE…

Ilustração: pintura românica medieval (data não encontrada) / 2. O Elefante de Matthew Paris, c. 1255

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

8 comentaram em “OS RETRATOS NA IDADE MÉDIA (Aula nº 27)

  1. Marinalva Dias Autor do post

    Lu
    Como vimos em aulas anteriores, levando em conta o que estudamos até agora, da Antiguidade até a Idade Média a arte sempre esteve a serviço dos poderosos, devido o patrocínio que eles ofereciam. A imaginação dos artistas ficava limitada, seguindo os parâmetros predeterminados. O aprendiz tinha uma longa jornada de aprendizado, o que tomava boa parte de sua vida, com as mudanças de paradigmas que viriam, o foco foi mudando.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Os artistas da Antiguidade e da Idade Média não viam a arte como uma profissão, até mesmo porque eles eram muito desvalorizados. Os arquitetos era olhados com mais admiração. Muitos deles usavam a arte apenas como bico, tendo outras profissões. Tanto é que nem mesmo assinavam seus trabalhos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Antônio Costa

    Lu

    É incrível o aprisionamento psicológico dos artistas em certos momentos da era medieval. Evidentemente eles tinham consciência da capacidade de ilustrar de forma correta as imagens vistas. Especificamente no caso do paquiderme, é óbvio que o artista percebeu que os pés não correspondiam à forma correta. É incrível como em todas as épocas é possível “induzir” até mesmo os cérebros mais inteligentes, e que se diga nos tempos atuais….

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      É preciso compreender também que a arte, à época, era muito desvalorizada. Acredito que fosse uma espécie de bico para a imensa maioria dos artistas, não tendo eles nenhuma vontade ou tempo para desenvolvê-la, uma vez que o retorno era ínfimo. Recebiam muito pouco por uma obra, tendo na Igreja Cristã seus melhores compradores. Tanto é fato que os artistas nem mesmo assinavam o próprio nome.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. Moacyr Autor do post

    Lu
    A vida de aprendiz não era fácil, pois além dos serviços na oficina do mestre, também ficavam à disposição dos trabalhos em sua casa. Além disso, eles participavam das imensas encomendas, mas nada recebiam pelo seu trabalho.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Moacyr

      Não era fácil mesmo, pois o aprendiz era “pau para toda obra”. É por isso que muitos deixavam a oficina, assim que sentiam que podiam dar conta do recado sozinhos. Há muitos casos em que o aprendiz superou o mestre.

      Abraços,

      Lu

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  4. Hernando Martins

    Lu

    Na vida todos nós precisamos de referências construtivas para seguirmos o caminho do aprendizado e da consciência plena. Isto também é verificado com os artistas da Idade Média. Todo mestre do ofício da arte tinha um aprendiz, no intuito de desenvolver seu talento para posteriormente transformar-se num mestre. Assim se dava continuidade aos trabalhos artísticos. O artista, nesse período histórico,seguia a rigor um protocolo estabelecido pelas normas vigentes, muitas vezes dificultando a expansão da criatividade, mas, mesmo assim, ele elaborava retratos fora dos padrões estabelecidos. Essas obras não eram compartilhadas com o público em geral, sendo algo mais pessoal.

    É interessante notar que os retratos tinham que ser desenvolvidos a partir de um modelo específico, no qual o artista ia agregando detalhes, de acordo com as normas, não podendo extrapolar na sua criatividade. O artista em todos os períodos históricos conseguiu comungar com as regras e desenvolver trabalhos belíssimos, mesmo nos períodos de tirania e de obscurantismo. Os medievais conseguira amenizar as tensões, iluminando os templos e castelos com sua arte, deixando um legado importantíssimo para acultura e a história da humanidade.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Os mestres medievais eram extremamente rigorosos com seus discípulos. Os mais famosos eram disputados pelos pais que queriam ter seus filhos artistas. De certa forma é compreensível o modo como eles iam desenvolvendo o aprendizado, ou seja, tal e qual eles aprenderam. Ainda que a criatividade tivesse pouco espaço – até que o aprendiz se transformasse num mestre – a formação era extremamente elaborada. Quando sob a tutela de um bom mestre, a exemplo do aprendiz Leonardo da Vinci e muitos outros, os alunos muitas vezes suplantavam o próprio mentor. À medida que vamos compreendendo a História da Arte, mais fácil fica entender o porquê de começar do básico (preparação da tinta), subindo degrau por degrau. É assim que se dá um saber eficiente, não baseado em decoreba, mas na eficiência do raciocínio que gera a compreensão profunda.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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