Raízes da MPB – LAMARTINE BABO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

lala

Lamartine Babo era um moderno por excelência. E um pós-moderno, por antecipação. Humorista, fundador do nonsense e do besteirol autóctones, radialista, compositor, ator, cantor, poeta, trocadilhista. Outrora multiartista, hoje seria classificado como multimídia. Ou mesmo neorrenascentista. (Mathilda Kóvak, jornalista, roteirista, escritora e compositora)

Eu era tão magro, que conseguia passar incólume sobre os pingos de chuva. (…) Eu me achava um colosso. Mas um dia, olhando-me no espelho, vi que não tenho colo, só tenho osso. (Lamartine Babo)

Ele escrevia todo o arranjo, cantando a introdução, o meio e o fim, solfejava acordes e sugeria partes instrumentais. A gente só fazia escrever. (maestro Radamés Gnatalli)

Com o canto direito da boca ele faz o trombone; no canto esquerdo faz o saxofone; o pistom sai do meio; o violino pelo nariz; belisca o pescoço e faz pizzicatos; aperta uma narina e imita surdina; e, castigando a mesa, pratos copos e talheres, é melhor que qualquer esquipe de ritmistas. (cronista Nestor Holanda)

O compositor radialista, ator, cantor, poeta e trocadilhista, Lamartine de Azeredo Babo (1904-1963) nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Ao lado de Noel Rosa, João de Barra, Ary Barroso, Custódio Mequita, Joubert de Carvalho, Antônio Nássara, Vadico, Orestes Barbosa, Assis Valente, dentre outros, Lamartine Babo, também conhecido como Lalá, reinou com sucesso no carnaval carioca e na música, na chamada Época de Ouro da Música Popular Brasileira.

Lamartine Babo nasceu de uma família de classe média, teve 12 irmãos, nove dos quais não chegaram à vida adulta, em razão das várias enfermidades existentes na época, inclusive a febre amarela. Ele era o penúltimo filho de tão numerosa prole. E um dos três que sobreviveram, apesar da magreza que o perseguiu até à vida adulta, quando diziam, troçando dele, que seu pijama tinha apenas uma única listra.

O contato de Lamartine Babo com as letras e a música deu-se muito cedo.  Seu pai, um grande amante da música, abria sua casa para os saraus, e sua mãe era carnavalesca e muito festiva. Naquela época, nas salas de espera dos cinemas havia músicas tocadas ao vivo. O garoto Lalá gostava de acompanhar seu pai, de modo que, aos seis anos de idade, já era capaz de imitar, com a boca, os sons dos instrumentos musicais. Gostava também de acompanhar as bandas do exército tocando suas marchas pelas ruas da cidade. Desse aprendizado infantil, nasceram inúmeras marchinhas na mente criativa do adulto Lalá, e os sons feitos com a boca viriam a se transformar numa orquestra, ao fazer suas músicas embora não tocasse realmente nenhum instrumento. Começou a compor aos 14 anos.

Quando a vitrola passou a substituir o gramofone, Lamartine Babo, junto com sua turma, apressou-se em modernizar a música brasileira, tornando-a nacional e cosmopolita. Até então, a música popular da cidade do Rio de Janeiro era guiada pela batuta do ritmo baiano de origem africana. Lamartine Babo abraçou uma série de gêneros: samba, maxixe, marchas-rancho, foxtrote, tango, valsa, cantiga de folguedo junino, hino de clube de futebol e de concurso de miss, Charleston, conga, embolada, frevo, cateretê, etc.

Lamartine Babo e Noel Rosa, dois baluartes da música popular brasileira, compuseram juntos cinco canções, embora um fosse a antítese do outro. O boêmio Noel buscava sua inspiração em seus complicados relacionamentos amorosos, e só se dedicava à musica, morrendo jovem, vitimado pela tuberculose. Lamartine, por sua vez, trabalhava muito, nas mais diferentes funções: autor e ator de teatro de revista, animador de bloco, entre outros trabalhos, deixando uma grande obra.

Lalá, aos 47 anos, conheceu sua esposa Maria José num hospital de Petrópolis, onde a irmã dela estava internada. Dizia sempre que não tinha sorte no amor. Ele estava no hospital animando os doentes, num trabalho voluntário. Compôs para ela:

O nome dela irradia/ toda a ternura da fé/ tem o M de Maria/e o J de José

Lamartine era muito espirituoso. Após se recuperar de um infarto, deu uma entrevista para um repórter da TV Rio, e perguntou-lhe se a matéria seria editada naquela mesma noite. O repórter disse-lhe que não, pois, havia uma entrevista com o jovem Tom Jobim na sua frente. Ao que ele respondeu:

– Quer dizer então que eu estou um tom abaixo?

Outra que se conta sobre ele é que, quando estava no correio enviando um telegrama, o telegrafista, usando o lápis, enviou a seguinte mensagem para o colega:

 Magro, feio e de voz fina.

Lalá então, pegou-lhe o lápis emprestado e bateu na mesa a resposta:

Magro, feio, de voz fina e ex telegrafista.

Nas letras das canções de Lamartine Babo predominavam o humor e a irreverência. Tinha sempre na ponta da língua um trocadilho ou uma piada. Suas marchinhas de carnaval fizeram dele o Rei do Carnaval carioca. Elas estão vivas até hoje: O Teu Cabelo Não Nega, Linda Morena, etc. Lamartine Babo morreu em 1963, aos 61 anos de idade, vítima de um enfarto, deixando mais de 400 composições. Seu nome se insere no hall dos grandes compositores brasileiros.

Nota:
Ouçam, clicando no link abaixo, Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda.
http://www.youtube.com/watch?v=5V-Zk7wilmo

Fontes de pesquisa:
Raízesda Música Popular Brasileira/Coleção Folha
Wikipédia

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