Renoir – BAILE NO MOINHO DA GALLETE

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Autoria de Lu Dias Carvalho renoir7

É difícil entender por que este quadro provocou uma tempestade de indignação e escárnio. Percebemos sem dificuldade que a aparente superficialidade nada tem a ver com desleixo, mas é, pelo contrário, o resultado de um grande talento artístico. Se Renoir tivesse pintado todos os detalhes, o quadro teria um aspecto enfadonho e sem vida. (E. H. Gombrich)

Levou algum tempo até o público descobrir que, para apreciar um quadro impressionista, deve recuar alguns metros e desfrutar o milagre de ver essas manchas intrigantes súbito se organizarem e ganharem vida diante dos olhos. (E. H. Gombrich)

Os artistas da época do Impressionismo estavam sempre presentes nos bailes realizados no ex-moinho, situado na colina de Montmartre em Paris, a uma hora de caminhada do centro da cidade, onde se reuniam costureiras e trabalhadores em seus dias de folga, em busca de modelos para suas pinturas ou aventuras passageiras. Havia muitas garotas pobres ali que cobravam muito pouco para posar. Renoir retrata nesta composição um baile no local, onde os personagens são os seus amigos, garotas e operários que estão pousando para ele.

Baile no Moinho da Gallete é uma das mais conhecidas e admiradas pinturas de Renoir, tida como a mais bela do século XIX e uma das obras-primas do Impressionismo. Nela o pintor faz um uso excepcional do espaço,  trazendo uma fantástica ideia de multidão, através da superposição de rostos. Também dá vida a uma festiva combinação de cores brilhantes, trazendo o efeito da luz do sol sobre os alegres participantes. Raios de sol atravessam as folhas das árvores frondosas, iluminando pessoas e ambiente, o que nos traz a certeza de que ainda era dia (os bailes ali começavam às 15h e acabavam às 23h). Os postes brancos com lampiões dão uma beleza singular à cena.

O local, antes de Renoir, tinha trinta moinhos de vento funcionando. E “galette” — dá nome aos moinhos — era um tipo de pastel liso feito de farinha moída, servido ali. Os dois moinhos que sobraram pertenceram à família Debray, sendo um deles transformado em uma construção isolada, ao lado da qual foi aberto um local de dança. Tratava-se de um barracão já bem arruinado, ornamentado com vime e pintado de verde. Ao lado havia um jardim com muitas árvores, onde uma orquestrava tocava polcas, valsas, cancan, etc. Cobrava-se uma quantia insignificante para se frequentar os bailes.

O clima da composição é festivo, mostrando casais dançando, jovens conversando em suas mesas, pessoas de pé observando o movimento, algumas assentadas em bancos, outras próximas à orquestra e outras no pátio do local. O pintor francês organizou sua composição da seguinte maneira:

1- dois círculos, sendo um mais fechado, no lado direito em volta da mesa, e o outro mais aberto, à esquerda em volta da mulher de vestido cor de rosa e seu par;
2- uma pirâmide: as três figuras do primeiro plano formam uma pirâmide;
3- linhas verticais formadas por pessoas de pé, pares dançantes, suporte dos lampiões, etc;
4- linhas horizontais formadas pelos postes dos lampiões, pela construção de madeira pintada de branco, etc.

O quadro parece ter vida própria, tamanha é a vibração, que repassa ao observador, como se tudo fosse movimento. Como se trata de uma obra impressionista em que não há preocupação com os contornos e detalhes, a composição parece que ainda está por terminar, pois apenas algumas cabeças das figuras, no primeiro plano, trazem detalhes, ainda que de maneira não convencional.  À medida que vão se afastando do primeiro plano, as figuras vão se tornando cada vez mais fugidias, desmanchando-se ao sol e no ar.

É interessante notar que o pintor corta parte das figuras nas margens direita e esquerda, para repassar a ideia de continuidade, ou seja, a de que ele captara com seus pincéis apenas parte do ambiente onde se realiza o baile. É também um meio para dar mais naturalidade à cena, de modo a passar a impressão de que os personagens não estão pousando para ele e que tudo acontece naturalmente.

Os personagens ao redor das mesas formam o primeiro plano da composição. A moça do vaporoso vestido listrado, assentada num banco de frente para um rapaz assentado numa cadeira e de costas para o observador, tem os cabelos e parte do rosto coberto pelas sombras, enquanto o sol reflete sobre sua  boca e queixo. A modelo tinha 16 anos na época. A mulher de vestido cor de rosa e seu par ganharam um destaque especial no quadro, podendo ser visualizados por inteiro, isolados dos demais casais dançantes. Tem-se a sensação de que o par dança sobre nuvens. No centro da parte esquerda da tela é possível flagrar um casal em clima de flerte. O homem descansa o braço esquerdo no tronco da árvore, inclina-se para a frente, cortejando a moça vestida de azul, recostada na árvore bem à sua frente.

Crianças também estão presentes na composição, o que dá à cena um certo ar de pureza. No canto inferior esquerdo da pintura, uma garotinha de cabelos loiros com fita conversa com uma moça. Ambas estão assentadas num banco. Na verdade, à noite, quando se acendiam as lamparinas, para ali vinham delinquentes e  prostitutas com seus cafetões, acontecendo muitos brigas ou navalhadas. Durante a parte da tarde, ao contrário do que acontecia à noite, as mulheres eram obrigadas a se comporem com um chapéu em sinal da respeitabilidade. Quanto menos roupa uma garota usasse, mais duvidosa era a sua reputação, mas muitas garotas na composição de Renoir são vistas sem chapéu. Todos os homens são vistos usando chapéu no Moulin de la Galette, mesmo quando estavam dançando, pois uma pessoa educada devia deixar o chapéu na cabeça (Como mudam os tempos!). Alguns usavam um chapéu de palha de verão, outros um chapéu preto de feltro. Grenadine era a bebida mais usada. Tratava-se de um xarope de Granada, com água.

Renoir usou  pinceladas cintilantes para unir as personagens do baile, sem se preocupar com a clareza das formas. Talentoso, o artista nutria indiferença por qualquer tipo de intelectualismo.

Dados técnicos
Data: 1876
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 131 x 175 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de Pesquisa
istória da Arte/ E. H. Gombrich
Renoir/ Abril Coleções
Renoir/ Coleção Folha
Renoir/ Coleção Girassol
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

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