Tintoretto – A ORIGEM DA VIA-LÁCTEA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor italiano Jacopo Robusti (1518-1594), conhecido como Tintoretto, é o criador da obra A Origem da Via Láctea. Trata-se de uma gigantesca composição, carregada de grande sentido teatral. O artista nela representa o ápice da lenda sobre a origem da Via Láctea. Embora estivesse sobrecarregado de encomendas oficiais quando pintou a obra em estudo, Tintoretto foi o responsável por toda a sua criação. Ao ser restaurada em 1972, a pintura revelou a presença de uma versão anterior. Tratava-se do mesmo tema, só que menos elaborado. Presumem os historiadores que o cliente da primeira encomenda deva ter mudado e o adquirente da nova composição (Rodolfo II) exigiu o máximo na feitura da obra.

A deusa Juno, esposa de Júpiter, o deus dos deuses, apresenta-se nua, reclinada sobre um leito de nuvens situado no alto do céu. Ela é acordada bruscamente por seu esposo que se joga sobre ela com um bebê nos braços. Em torno do casal de deuses são vistos querubins e pontos de luz. Dois querubins são vistos na parte inferior a voar em torno do casal de deuses, carregando símbolos eróticos: a flecha e o arco de Cupido e a tocha da paixão. Os outros dois, presentes acima dos citados, trazem consigo as cadeias do casamento, numa referência à união de Júpiter e Juno, assim como a rede de engano (referente às peripécias do deus). Juno traz a seus pés seu conhecido pavão e Júpiter está acompanhado pela águia.

Júpiter, que sempre teve romances com mortais, leva o pequenino Hércules, filho de Alcmena, até Juno, para que ele amamentasse de seu leite, enquanto ela dormia, e assim atingisse a imortalidade. A deusa, no entanto, acorda bruscamente, e algumas gotas de seu leite esguicham-se no céu, logo se transformando em brilhantes estrelas. Esta foi a explicação de Gaius Julius Hygienus, bibliotecário do Imperador Augusto, para a origem da Via Láctea no século I a.C. O leite que se esguichou para baixo deu origem aos lírios que se encontravam presentes na base da pintura, quando a tela infelizmente foi cortada. A enorme cama da deusa está forrada com um lençol branco e um manto azul e outro vermelho. Traz na cabeceira uma cortina dourada que descansa sua parte superior numa densa nuvem e adeja entre estrelas e nuvens.

Por se tratar de uma pintura mitológica, presume-se que seja fácil de ser interpretada, contudo existem elementos que não foram compreendidos. A tocha do amor pertenceria a Júpiter ou a Alcmena? Que ser a águia de Júpiter leva em suas garras? Seus membros em forma de flecha estariam a simbolizar a arma tradicional do deus que é o raio? Ou seria um caranguejo, símbolo astrológico de Câncer, numa referência ao nascimento do imperador Rodolfo II, dono da obra? Alguns dos estudiosos optam pela segunda alternativa, uma vez que a constelação de Câncer situa-se entre Aquário (representado pelo querubim com a rede) e Sagitário (personificado pelo querubim com o arco). Como se vê, esta pintura, inspirada num mito romano, ainda não foi totalmente decifrada em sua simbologia.

A belíssima pintura mitológica aqui descrita teve a sua faixa inferior removida, o que alterou consideravelmente o seu equilíbrio, pois a parte inferior representava a personificação da Terra, como mostram dois desenhos e uma cópia antiga da obra. Além disso, as camadas de verniz escurecido fizeram com que suas cores perdessem a clareza de antes. Ainda assim, a tela chama a atenção pelo fascínio apresentado, a começar pela cama do século XVI que dela faz parte.

Obs.: De acordo com o mito, é o deus Mercúrio quem coloca o pequeno Hércules no peito de Juno para mamar seu leite. Contudo, a personagem representada por Tintoretto não apresenta nenhum elemento que possa identificá-la com Mercúrio, o mensageiro dos deuses, sendo, portanto, visto como Júpiter.

Ficha técnica
Ano: c. 1575-1580
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 127,5 x 165 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Konemann
Los secretos de las obras de arte/ Editora Taschen

 

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