Vidas Secas – O MENINO MAIS NOVO E O PAI (12)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

cap baleia

O guri mais novo, montado na porteira do curral,
torce as mãos com alegria e medo. Estica-se pra
ver as nuvens de poeira afumando as imburanas.
Ali vai seu herói domando o genioso animal.

O pai parece-lhe a figura mais distinta do mundo,
metido no couro, guarda peito, perneiras e gibão.
Atira-se na  sela, faz um redemoinho na caatinga.
Ele é seu ídolo e motivo de grande admiração.

Sinha Vitória marisca lêndeas no guri mais velho.
Baleia abre um olho, boceja e adormece outra vez.
O menino não se conforma com tanta indiferença,
depois daquela façanha que seu velho pai fez.

A querença pelo pai vai crescendo cada vez maior.
Até esquece os desentendimentos e suas rudezas.
Um prazimento efetivo enche-lhe a alma pequenina.
Ele é o mais valente dos vaqueiros da caatinga.

Apesar de temer seu pai, acerca-se dele devagar.
Esfrega-se nas  peneiras, tateia as asas do gibão.
Mas Fabiano, incauto, esquiva-se e anda pra sala,
onde se despoja de toda a sua riqueza de peão.

O menino mais novo sabe que carece de crescer,
tornar-se tão grande como seu guerreiro sertanejo.
Montar nos bichos e matar cabras a mão de pilão
e, na vasteza da caatinga, ser peão andejo.

Ficará taludo, usará uma faca de ponta na cintura,
deitará numa cama de vara como fazem seus pais,
calçará sapatos de couro, fumará cigarros de palha.
Aí sim, vai ser um vaqueiro bom até demais.

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