{"id":10484,"date":"2014-02-12T00:03:02","date_gmt":"2014-02-12T03:03:02","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=10484"},"modified":"2022-08-04T23:03:50","modified_gmt":"2022-08-05T02:03:50","slug":"holanda-a-autopsia-na-baixa-idade-media","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/holanda-a-autopsia-na-baixa-idade-media\/","title":{"rendered":"HOLANDA – A AUT\u00d3PSIA NA BAIXA IDADE M\u00c9DIA"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/b><\/p>\n

\"autopsia\"<\/a><\/p>\n

At\u00e9 a Baixa Idade M\u00e9dia, a toda poderosa Igreja proibia terminantemente que se olhasse no interior do corpo humano, pois ser algum poderia questionar a perfei\u00e7\u00e3o de Deus. E a cria\u00e7\u00e3o divina n\u00e3o poderia ser destru\u00edda ou danificada, para atender a curiosidade de quem quer que fosse, pois o corpo era o templo do Esp\u00edrito Santo.\u00a0 As aut\u00f3psias eram, portanto, um tabu. A princ\u00edpio, elas eram expressamente probidas pela Igreja. Abria-se uma exce\u00e7\u00e3o para os reis e papas, para se determinar a causa da morte, muitas vezes por envenenamento. Mas durante o Renascimento houve certo relaxamento por parte dos \u00f3rg\u00e3os religiosos. E foi nessa brecha que Leonardo da Vinci inseriu-se para fazer suas disseca\u00e7\u00f5es de cad\u00e1veres, para o bem da humanidade. Ainda assim, era preciso ter a permiss\u00e3o da Igreja.<\/p>\n

As aut\u00f3psias s\u00f3 podiam ser realizadas uma vez por ano, nos chamados \u201cteatros anat\u00f4micos\u201d, durante os meses frios, pois esses ajudavam na conserva\u00e7\u00e3o do corpo. Havia uma liturgia toda especial, com car\u00e1ter quase religioso. O espet\u00e1culo durava dias. <\/b>Os presentes tinham que permanecer s\u00e9rios e ao m\u00e9dico era vedada a retirada de qualquer \u00f3rg\u00e3o. O mais interessante \u00e9 que uma aut\u00f3psia era vista como um acontecimento social, quando se expedia convites para os observadores que eram, normalmente, not\u00e1veis do lugar, burgueses, estudantes e colegas do sindicato dos cirurgi\u00f5es. A entrada era paga. O dinheiro arrecadado era usado pelos cirurgi\u00f5es para pagar o carrasco, respons\u00e1vel por fornecer o cad\u00e1ver, e o cozinheiro, que preparava a refei\u00e7\u00e3o dos presentes.<\/p>\n

O pintor Rembrandt pintou a ocorr\u00eancia de uma aut\u00f3psia (Vejam Rembrandt \u2013 LI\u00c7\u00c3O DE ANATOMIA DO DR. TULP<\/a>), em 1632, ocasi\u00e3o em que o cirurgi\u00e3o Dr. Nicolaas Tulp dissecou o corpo de um assassino, que morreu enforcado, numa aut\u00f3psia p\u00fablica. Dizem que, a \u00e9poca, as pessoas ficaram muito curiosas, pois, finalmente, iria se descobrir \u201ca morada da alma durante a exist\u00eancia humana\u201d, ou seja, presumia-se que a alma estava dentro do corpo humano. Por isso, tal investiga\u00e7\u00e3o cient\u00edfica s\u00f3 podia ser concebida e permitida, se reafirmasse a onipot\u00eancia de Deus. Caso contr\u00e1rio, os estudos emp\u00edricos sobre o corpo humano, no s\u00e9culo XVII, n\u00e3o teriam raz\u00e3o de ser.<\/p>\n

Durante a aut\u00f3psia, o cirurgi\u00e3o formado n\u00e3o tocava no corpo do cad\u00e1ver. Quem realizava essa fun\u00e7\u00e3o era o cirurgi\u00e3o pr\u00e1tico. Tal procedimento tinha a ver com uma postura religiosa, pois se pensava que somente as pessoas muito jovens ou muito simples precisavam de provas palp\u00e1veis para conhecer a verdade. Os acad\u00eamicos, homens s\u00e1bios, j\u00e1 tinham a verdade em seus livros, n\u00e3o sendo necess\u00e1rio \u201cver para crer\u201d, como no caso de Tom\u00e9, na B\u00edblia, ao querer ver Cristo ressuscitado. Somente o tempo reverteria essa atitude.<\/p>\n

Algu\u00e9m, em s\u00e3 consci\u00eancia, poderia imaginar que os t\u00e3o sisudos cirurgi\u00f5es pudessem trabalhar como barbeiros naquela \u00e9poca? Pois \u00e9 isso mesmo! Eles cuidavam de ferimentos leves, membros quebrados, faziam sangrias e, pasme o leitor, faziam barbas e cuidavam dos cabelos, pois somente eles podiam manipular o corpo com as m\u00e3os. Mas o pior n\u00e3o era isso. O assustador \u00e9 que muitos deles jamais se encostaram a um banco de faculdade. Mas fazer o qu\u00ea? Perdido por pouco, perdido por muito!<\/p>\n

Como os m\u00e9dicos daquela \u00e9poca conheciam muito pouco sobre o corpo humano, eles n\u00e3o eram vistos com muita simpatia. Ao contr\u00e1rio, al\u00e9m de possu\u00edrem m\u00e1 reputa\u00e7\u00e3o, poucos acreditavam em seu of\u00edcio. Nas pe\u00e7as de teatro, eram o alvo de muitas provoca\u00e7\u00f5es, o que pode ser visto na Comm\u00e9dia dell\u2019Arte e nas farsas de Moli\u00e9re.<\/p>\n

Nota:<\/span> a imagem do texto \u00e9 um quadro do pintor Yiull Damaso que mostra o corpo de Nelson Mandela sendo submetido a uma aut\u00f3psia, e que foi condenado pelo partido dominante na \u00c1frica do Sul, alegando que \u201cviola a dignidade de Mandela\u201d. A tela mostra o corpo do l\u00edder hist\u00f3rico tendo o bra\u00e7o aberto, enquanto l\u00edderes proeminentes se juntam \u00e0 sua volta.<\/p>\n

Fontes de pesquisa
\n<\/span>Los secretos de las obras de arte\/ Taschen
\n
ecopoltico.blogspot.com<\/a><\/p>\n

Views: 6<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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