{"id":11213,"date":"2014-03-20T00:02:36","date_gmt":"2014-03-20T03:02:36","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=11213"},"modified":"2022-08-05T19:13:15","modified_gmt":"2022-08-05T22:13:15","slug":"a-teoria-do-instante-decisivo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/a-teoria-do-instante-decisivo\/","title":{"rendered":"A TEORIA DO \u201cINSTANTE DECISIVO\u201d"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b> \"ind.1\"<\/a><\/p>\n

O homem que fotografou a eternidade (Sartre sobre HCB)<\/i><\/b><\/p>\n

Fotografia de Henri Cartier-Bresson<\/i>, 1932, feita na Pra\u00e7a Europa, Paris, Fran\u00e7a, tamb\u00e9m conhecida como Atr\u00e1s da Esta\u00e7\u00e3o de Saint-Lazare<\/i>, que mostra exatamente o momento em que um homem d\u00e1 um salto sobre uma \u00e1rea alagada. Ele ainda se encontra no ar.<\/p>\n

O fot\u00f3grafo franc\u00eas Henri Cartier-Bresson<\/i> (1908-2004) come\u00e7ou seu trabalho como pintor, vindo a publicar seu primeiro trabalho fotogr\u00e1fico em 1932, foi tamb\u00e9m assistente do cineasta Jean Renoir (filho do pintor Renoir). Por ocasi\u00e3o da Segunda Guerra Mundial, ele foi convocado pelo ex\u00e9rcito franc\u00eas para cobri-la, mas acabou caindo nas m\u00e3os dos nazistas. Depois de ficar 3 anos preso, ap\u00f3s duas frustradas tentativas de fuga, acabou conseguindo lograr seu intento. Continuou no seu trabalho de fot\u00f3grafo at\u00e9 1970, viajando e fotografando v\u00e1rios lugares do mundo, quando ent\u00e3o retornou \u00e0 pintura, nela permanecendo at\u00e9 sua morte. C\u00e9zanne era um dos seus pintores prediletos e na literatura admirava Proust.<\/p>\n

Henri Cartier-Bresson<\/i> foi um fot\u00f3grafo incans\u00e1vel, com um faro incomum para os acontecimentos, o que o levou a v\u00e1rias partes do planeta. Ele tinha o que chamamos de sexto sentido para captar um momento \u00fanico, numa fra\u00e7\u00e3o de segundos. Esse momento foi definido por ele como o \u201cinstante decisivo<\/i>\u201d.<\/p>\n

Muitos livros mostrando o trabalho de Henri Cartier-Bresson<\/i> j\u00e1 foram lan\u00e7ados, sendo o mais famoso deles \u201cImages \u00e0 la Sauvette\u201d, publicado em l\u00edngua inglesa com o nome de \u201cThe Decisive Moment\u201d.<\/p>\n

Uma curiosidade sobre Henri Cartier-Bresson: ele detestava ser fotografado. Sua imagem s\u00f3 foi capturada em rar\u00edssimas ocasi\u00f5es.<\/p>\n

O instante decisivo
\n<\/span>(Artigo de Henri Cartier Bresson)<\/i><\/p>\n

Na fotografia existe um novo tipo de plasticidade, produto das linhas instant\u00e2neas tecidas pelo movimento do objeto. O fot\u00f3grafo trabalha em un\u00edssono com o movimento, como se este fosse o desdobramento natural da forma, como a vida se revela. No entanto, dentro do movimento existe um instante no qual todos os elementos que se movem ficam em equil\u00edbrio. A fotografia deve intervir neste instante, tornando o equil\u00edbrio im\u00f3vel.<\/i><\/p>\n

O olhar do fot\u00f3grafo est\u00e1 constantemente avaliando. Um fot\u00f3grafo pode captar a coincid\u00eancia de linhas simplesmente ao mover a cabe\u00e7a uma fra\u00e7\u00e3o de mil\u00edmetro. Pode modificar a perspectiva com um leve dobrar de joelhos. Ao colocar a c\u00e2mara pr\u00f3xima ou distante do objeto, o fot\u00f3grafo pode desenhar um detalhe – ao qual toda a imagem \u00a0pode ficar subordinada ou ainda que tiranize quem faz a foto. De qualquer modo, o fot\u00f3grafo comp\u00f5e a foto praticamente na mesma dura\u00e7\u00e3o de tempo que leva para apertar o disparador, na velocidade de um ato reflexo.<\/i><\/p>\n

Algumas vezes acontece de o fot\u00f3grafo paralisar, atrasar, esperar para que a cena aconte\u00e7a. Outras vezes, h\u00e1 a intui\u00e7\u00e3o de que todos os elementos da foto est\u00e3o l\u00e1, exceto por um pequeno detalhe. Mas que detalhe? Talvez algu\u00e9m repentinamente entrando no enquadramento do visor. O fot\u00f3grafo, ent\u00e3o, acompanha seu movimento atrav\u00e9s da c\u00e2mara. Espera, espera e espera, at\u00e9 que finalmente aperta o bot\u00e3o – e ent\u00e3o sai com a sensa\u00e7\u00e3o de que captou algo (embora n\u00e3o saiba exatamente o qu\u00ea).<\/i><\/p>\n

Mais tarde, no laborat\u00f3rio, ele faz uma amplia\u00e7\u00e3o da foto e procura nela as figuras geom\u00e9tricas que aparecem \u00e0 an\u00e1lise e o fot\u00f3grafo se d\u00e1 conta, ent\u00e3o, de que a foto foi feita no instante decisivo. O fot\u00f3grafo instintivamente fixou um padr\u00e3o geom\u00e9trico sem o qual a foto estaria sem forma e sem vida.<\/i><\/p>\n

A composi\u00e7\u00e3o deve ser uma das preocupa\u00e7\u00f5es do fot\u00f3grafo, mas no ato de fotografar isto s\u00f3 acontece a partir da sua intui\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que ele est\u00e1 ali para captar o momento fugidio e todas as rela\u00e7\u00f5es dos elementos que comp\u00f5em a cena est\u00e3o em movimento.<\/i><\/p>\n

Ao aplicar a “Regra dos Ter\u00e7os”, o \u00fanico compasso que o fot\u00f3grafo tem s\u00e3o seus pr\u00f3prios olhos. Qualquer an\u00e1lise geom\u00e9trica, qualquer redu\u00e7\u00e3o da foto a um esquema, s\u00f3 pode ser feita – pela sua pr\u00f3pria natureza – depois que a foto j\u00e1 foi tirada, revelada e ampliada. E a\u00ed, ela s\u00f3 pode ser usada para um exame “post-mortem” da cena.<\/i><\/p>\n

Espero nunca ver o dia em que as lojas de equipamentos fotogr\u00e1ficos vendam esquemas geom\u00e9tricos para colocarmos nos visores de nossas c\u00e2maras; ou a “Regra dos Ter\u00e7os” colada nos nossos \u00f3culos. Se um fot\u00f3grafo come\u00e7a a cortar uma boa foto, isto representa a morte \u00e0 correta rela\u00e7\u00e3o geom\u00e9trica das propor\u00e7\u00f5es entre os elementos que comp\u00f5em a imagem. Al\u00e9m do que, raramente ocorre de uma m\u00e1 foto, que tenha sido mal composta, seja salva pela reconstru\u00e7\u00e3o de sua composi\u00e7\u00e3o no laborat\u00f3rio, pois a integridade da vis\u00e3o do fot\u00f3grafo n\u00e3o estar\u00e1 mais l\u00e1. H\u00e1 muita conversa sobre os \u00e2ngulos da c\u00e2mara, mas os \u00fanicos \u00e2ngulos v\u00e1lidos existentes s\u00e3o os \u00e2ngulos da geometria da composi\u00e7\u00e3o e n\u00e3o naqueles fabricados pelo fot\u00f3grafo que se deita no ch\u00e3o, ou coisa que o valha, para encontrar seu enquadramento.<\/i><\/p>\n

Nota:<\/span> Tradu\u00e7\u00e3o livre e informal do ingl\u00eas por Paulo Thiago de Mello de trecho do livro The Decisive Moment<\/em>, New York, 1952. Copyright 1952 Cartier Bresson, Verve and Simon and Schuster.<\/p>\n

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