Aqueles que abominam a carne s\u00e3o os mesmos que superlotam os hospitais, sob qualquer pretexto, para buscar sa\u00fade para a carne, num ato de extrema hipocrisia. (Jason Ferrer)<\/strong><\/em><\/p>\n\u00c9 dif\u00edcil entender a preocupa\u00e7\u00e3o das religi\u00f5es em sua condena\u00e7\u00e3o \u00e0 carne (o corpo, a mat\u00e9ria em oposi\u00e7\u00e3o ao esp\u00edrito, \u00e0 alma), pouco se reportando ao esp\u00edrito. O que n\u00e3o deixa de ser um paradoxo, uma vez que a carne denota transitoriedade e o esp\u00edrito eternidade, segundo a vis\u00e3o religiosa de quase todas as culturas. Se toda carne perece, ao habitar este planeta min\u00fasculo por um tempo passageiro, por que os chamados pecados mortais<\/i> est\u00e3o voltados mais para a carne? N\u00e3o \u00e9 o esp\u00edrito que \u00e9 eterno, segundo pregam? E n\u00e3o \u00e9 ele que comanda o corpo? Por que, ent\u00e3o, n\u00e3o trabalh\u00e1-lo melhor, jogando toda a carga de responsabilidade sobre ele? O trato com a carne deveria ser apenas um cap\u00edtulo da preocupa\u00e7\u00e3o com o esp\u00edrito.<\/p>\n
Quer queiramos ou n\u00e3o, a nossa exist\u00eancia, para ser completa, precisa conhecer os deleites da carne (a natureza f\u00edsica do homem em oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 moral), uma vez que nascemos geneticamente preparados para isso. Nem mesmo o mundo animal despreza o contato carnal. \u00c9 preciso ser hip\u00f3crita para subestimar a delicadeza, o som e o prazer da carne. E, para os moralistas de plant\u00e3o, que fique bem entendido, que n\u00e3o comungo com a explora\u00e7\u00e3o ou abuso do corpo humano, ou seja, com a sua transforma\u00e7\u00e3o em mercadoria. Mas louvo, sim, os corpos que nos envolvem e nos enriquecem num contato permanente de amor, carinho, afeto e prazer.<\/p>\n
A grande maioria das religi\u00f5es em sua falsa moralidade desmerece o corpo f\u00edsico, como se dele pud\u00e9ssemos nos privar, vivendo apenas com o esp\u00edrito. Isso acontece, mesmo quando apregoam que o corpo humano \u00e9 feito \u00e0 imagem e semelhan\u00e7a do Criador, a quem devotam a vida. Pesquisas mostram que o descaso para com o pr\u00f3prio corpo denota baixa autoestima, pois carecemos do corpo carnal para existirmos. Logo, ele \u00e9 primordial para cada um de n\u00f3s. Se assim n\u00e3o fosse, bom seria que jog\u00e1ssemos um v\u00e9u roxo sobre a medicina. A nossa carne \u00e9 fr\u00e1gil, preciosa e importante para a nossa exist\u00eancia na Terra. Todo carinho e cuidado com ela v\u00eam de bom grado. Temos que amar e cuidar do corpo, nosso mais belo instrumento existencial. \u00c9 a nossa “casca” respons\u00e1vel pelo peso e pela marca das alegrias e tristezas que carregamos durante a vida. Ignor\u00e1-lo, a pedido das religi\u00f5es, \u00e9 loucura total.<\/p>\n
A exist\u00eancia da morte serve para nos acordar quanto \u00e0 import\u00e2ncia de nosso corpo carnal em vida. E a ele devemos devotar todo o nosso amor. Sempre me pareceu triste uma conviv\u00eancia for\u00e7ada, onde os corpos n\u00e3o se encontram. Onde eles perderam a voz, e o esp\u00edrito encontra-se mofado numa caixa sem vida. O contato espiritual e mental com o outro \u00e9 muito mais forte quando h\u00e1 sintonia de pele, empatia carnal que n\u00e3o significa apenas \u201csexo\u201d, mas tamb\u00e9m quando um sente prazer na presen\u00e7a e no contato com o outro.<\/p>\n
A carne \u00e9 t\u00e3o importante, a ponto de algumas religi\u00f5es terem como dogma a encarna\u00e7\u00e3o ou a reencarna\u00e7\u00e3o, o que \u00e9 um paradoxo. Contudo, certas Igrejas tratam-na como se fosse a coisa mais suja do mundo. De modo que certos religiosos melhor fariam, se meditassem sobre a express\u00e3o que pregam: \u201ca Palavra se fez carne\u201d ou \u201co Verbo se fez carne\u201d, em vez de blasfemarem contra o corpo humano \u2013 esta d\u00e1diva maravilhosa e t\u00e3o necess\u00e1ria para nos manter vivos. Muitas culturas t\u00eam sido envenenadas contra o corpo carnal, principalmente o da mulher. E isso de longas datas. \u00c9 deste desequil\u00edbrio que nascem o exibicionismo sexual e a ind\u00fastria pornogr\u00e1fica, pois tudo o que \u00e9 proibido traz tamb\u00e9m a sua cota de curiosidade, encontrando f\u00e1cil penetra\u00e7\u00e3o na mente humana. Portanto, abaixo a crueldade religiosa para com o corpo.<\/p>\n
A vida dos \u00edndios, que ainda n\u00e3o se aculturaram, \u00e9 imensamente rica, pois n\u00e3o carrega o peso do suposto \u201cpecado da carne\u201d, j\u00e1 embutido em n\u00f3s, ainda pequeninos, pelas religi\u00f5es, que tinham e t\u00eam como objetivo o controle da vida humana. O homem controlando o homem. O homem controlando os bens do homem, atrav\u00e9s de amea\u00e7as mentirosas contra o \u201cpecado da carne\u201d. E como isso d\u00e1 dinheiro! O maior dos mandamentos crist\u00e3os \u00e9: \u201cAme o pr\u00f3ximo como a si mesmo\u201d. Logo, se o nosso pr\u00f3ximo \u00e9 feito de carne que respira e transpira como a nossa pr\u00f3pria, n\u00e3o h\u00e1 como torn\u00e1-la sat\u00e2nica. O corpo carnal n\u00e3o pode ser tratado como r\u00e9u de todos os deslizes da esp\u00e9cie humana. Este desvio est\u00fapido\u00a0 somente favorece os vendilh\u00f5es dos templos.<\/p>\n
Nota:<\/span> ilustra\u00e7\u00e3o mostrando V\u00eanus e Ad\u00f4nis, <\/i>obra de Ticiano<\/p>\nViews: 2<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Aqueles que abominam a carne s\u00e3o os mesmos que superlotam os hospitais, sob qualquer pretexto, para buscar sa\u00fade para a carne, num ato de extrema hipocrisia. (Jason Ferrer) \u00c9 dif\u00edcil entender a preocupa\u00e7\u00e3o das religi\u00f5es em sua condena\u00e7\u00e3o \u00e0 carne (o corpo, a mat\u00e9ria em oposi\u00e7\u00e3o ao esp\u00edrito, \u00e0 alma), […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[37],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1195"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1195"}],"version-history":[{"count":17,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1195\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":49528,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1195\/revisions\/49528"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1195"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1195"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1195"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}