acedia<\/em>, significa abatimento do corpo e do esp\u00edrito, moleza, frouxid\u00e3o. Traduzindo, para uma linguagem mais pr\u00f3xima de nosso tempo, \u00e9 o \u201cn\u00e3o se importar<\/i>\u201d com nada ou ningu\u00e9m, \u00e9 a indiferen\u00e7a. \u00c9 o comportamento carregado de amargura ou cinismo em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 vida. \u00c9 o fastio, o enfado, a indol\u00eancia, a passividade, a indiferen\u00e7a, a languidez proveniente do t\u00e9dio, ou a omiss\u00e3o no tratar com o mundo.<\/p>\nO capitalismo selvagem \u2013 sistema econ\u00f4mico em que o consumismo abunda \u2013 tem sido um campo f\u00e9rtil para que a indiferen\u00e7a se propague. De certa forma, o t\u00e9dio, a omiss\u00e3o e o niilismo (aniquilamento, descren\u00e7a absoluta) est\u00e3o impregnados de um desespero mudo. Muitos j\u00e1 nem possuem mais a percep\u00e7\u00e3o de que parte do mundo agoniza, t\u00e3o voltados que est\u00e3o para o\u00a0 pr\u00f3prio umbigo. S\u00e3o incapazes de ver al\u00e9m de si mesmos. E por mais que tenham, sempre querem ter mais, indiferentes ao resto do mundo.<\/p>\n
O conhecido psic\u00f3logo e escritor Erich Fromm acredita que a cultura contempor\u00e2nea tem sido respons\u00e1vel pelo aumento do t\u00e9dio que avassala a humanidade. Segundo ele, as pessoas entediadas s\u00e3o g\u00e9lidas. N\u00e3o sentem alegria, mas tamb\u00e9m n\u00e3o sentem tristeza ou dor. Perdem a capacidade de posicionarem-se diante de fatos importantes, pois carregam pela vida uma indiferen\u00e7a total e absoluta, como se dela n\u00e3o fizessem parte. E muitos s\u00e3o entediados por possu\u00edrem em excesso, de modo que nenhuma conquista traz-lhes prazer. Tudo leva a crer que o homem moderno vive uma epidemia de t\u00e9dio, t\u00e3o grande \u00e9 o seu descompromisso para com o planeta como um todo. Ele passa por uma profunda crise de valores e de imagina\u00e7\u00e3o. Vem se tornando cada vez mais solit\u00e1rio e triste, porque est\u00e1 desaprendendo compartilhar e interferir no que passa ao seu redor. N\u00e3o tem compromisso com o mundo \u00e0 sua volta. \u00c9 cada vez mais omisso.<\/p>\n
A esp\u00e9cie humana tem vivido a cultura do \u201cn\u00e3o estou nem a\u00ed\u201d.<\/i> Totalmente indiferente em rela\u00e7\u00e3o ao destino da Terra, como se n\u00e3o houvesse nada que pudesse fazer, ou se n\u00e3o tivesse nenhum poder de interfer\u00eancia, ou\u00a0 se vivesse numa outra dimens\u00e3o, num outro planeta. Nem percebe mais que \u00e9 parte integrante da natureza, de modo que n\u00e3o pode pilh\u00e1-la, explor\u00e1-la e viol\u00e1-la sem que pague por isso at\u00e9 mesmo com\u00a0 a vida, e isso sem levar em conta seus descendentes \u2013 correm o risco de viver num planeta totalmente exaurido.<\/p>\n
A humanidade tem amargado um pre\u00e7o muito alto por sua postura de alien\u00edgena no planeta Terra. Este aniquilamento e desprazer de viver t\u00eam suas ra\u00edzes fincadas no desd\u00e9m pela natureza, ao envenenar rios e mares, desnudar montanhas, extinguir a vida selvagem, poluir a atmosfera, aumentar a temperatura do planeta, ignorando que \u00e9 parte de um \u00fanico corpo. Esquece-se de que aquilo que deixamos de fazer, muitas vezes, pode ser muito mais importante do que aquilo que fazemos. Parvo \u00e9 quem pensa que, ao se omitir, fica com a consci\u00eancia limpa, sem culpa no cart\u00f3rio. A n\u00e3o a\u00e7\u00e3o<\/i>, tamb\u00e9m \u00e9 um tipo de a\u00e7\u00e3o, ainda que ao contr\u00e1rio, como provou Ghandi. S\u00f3 que, no caso do indiano, ela foi usada positivamente, enquanto agora floresce como uma erva daninha, um produto da in\u00e9rcia e da omiss\u00e3o.<\/p>\n
A civiliza\u00e7\u00e3o atual est\u00e1 promovendo um ecoc\u00eddio<\/i> ao acabar com o equil\u00edbrio entre o humano e o n\u00e3o humano. A liga\u00e7\u00e3o entre as duas partes, al\u00e9m de ser fator de bem-estar moral e espiritual, \u00e9 imprescind\u00edvel para a sobreviv\u00eancia do planeta. O homem n\u00e3o pode ser autossuficiente a ponto de desprezar os outros seres que coabitam consigo. A \u00e9tica \u00e9 muito mais ampla de que se imagina. Ela deve estar n\u00e3o apenas nas rela\u00e7\u00f5es entre os seres humanos, como na rela\u00e7\u00e3o com o ambiente e as demais esp\u00e9cies. Somente o respeito \u00e0s diferentes formas de vida poder\u00e1 salvar a Terra.<\/p>\n
A cultura atual vem levando ao p\u00e9 da letra o conceito de antropocentrismo<\/i>. O homem est\u00e1 imbu\u00eddo do convencimento e da vaidade de que tudo na Terra foi criado para benefici\u00e1-lo. Ironicamente, ao ignorar os direitos dos outros seres, ele est\u00e1 construindo o seu pr\u00f3prio caos. Engana-se ao pensar que n\u00e3o \u00e9 interdependente com os outros elementos do planeta. Desconhece o sentido da palavra humanidade (h\u00famus = terra, em latim). O planeta Terra \u00e9 o nosso lar, \u00e9 a nossa terra, ainda que finjamos n\u00e3o compreender isto. Subestim\u00e1-lo \u00e9 transform\u00e1-lo, em curto prazo, num hospital de humanos doentes de corpo e de alma.<\/p>\n
\u00c9 bom que todos n\u00f3s, diante do ecoc\u00eddio perpetrado por governantes insanos e por humanos ignorantes e vis, afeitos apenas ao “ter”, saibamos que a complac\u00eancia sem limites \u00e9 t\u00e3o nociva quanto a intoler\u00e2ncia. A omiss\u00e3o contrap\u00f5e-se \u00e0 justi\u00e7a, quando cruzamos os bra\u00e7os, ao ver que nossa civiliza\u00e7\u00e3o est\u00e1 destruindo \u00e1guas, solos, \u00e1rvores nas cidades e florestas, e outras esp\u00e9cies, num ritmo nunca visto. Tenhamos a certeza de que pagaremos um grande pre\u00e7o, pois a toda a\u00e7\u00e3o corresponde uma rea\u00e7\u00e3o. N\u00e3o perdemos por esperar. Precisamos botar um freio no capitalismo selvagem que est\u00e1 destruindo o planeta, quando o lucro f\u00e1cil passa a ser a parte mais importante de tudo, sem nenhuma forma de remorso.<\/p>\n
Views: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Segundo o Aur\u00e9lio, a ac\u00eddia, tamb\u00e9m conhecida por acedia, significa abatimento do corpo e do esp\u00edrito, moleza, frouxid\u00e3o. Traduzindo, para uma linguagem mais pr\u00f3xima de nosso tempo, \u00e9 o \u201cn\u00e3o se importar\u201d com nada ou ningu\u00e9m, \u00e9 a indiferen\u00e7a. \u00c9 o comportamento carregado de amargura ou cinismo em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[9],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1199"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1199"}],"version-history":[{"count":14,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1199\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":48109,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1199\/revisions\/48109"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1199"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1199"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1199"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}