{"id":1561,"date":"2014-07-17T21:38:04","date_gmt":"2014-07-18T00:38:04","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=1561"},"modified":"2022-08-08T18:51:32","modified_gmt":"2022-08-08T21:51:32","slug":"africa-rio-omo-artes-magias-e-rituais","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/africa-rio-omo-artes-magias-e-rituais\/","title":{"rendered":"\u00c1FRICA – RIO OMO: ARTES, MAGIAS E RITUAIS"},"content":{"rendered":"

Autoria de<\/strong><\/b><\/b> Lu Dias Carvalho<\/strong>
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\"masc.123\"<\/a>\u00a0<\/b> \"masc.1234\"<\/a><\/p>\n

Os homens e as mulheres usam os corpos como um espa\u00e7o de express\u00e3o art\u00edstica. (Hans Silvester)<\/i><\/b><\/p>\n

O rio Omo<\/i> \u00e9 um importante rio do sul da Eti\u00f3pia<\/i>. Seu curso \u00e9 inteiramente contido dentro dos limites da Eti\u00f3pia,<\/i> desaguando no Lago Turkana, na fronteira Eti\u00f3pia-Qu\u00eania. Encontra-se ali, em constru\u00e7\u00e3o, a gigantesca barragem de Gibe III<\/i>, iniciada em 2006, para gerar energia el\u00e9trica para Addis Ababa (capital da Eti\u00f3pia). Muitos ecologistas op\u00f5em-se \u00e0 sua constru\u00e7\u00e3o, pois reduzir\u00e1 o rio e eliminar\u00e1 as plan\u00edcies alagadas de grande import\u00e2ncia para os agricultores tribais do Vale do Omo<\/i>.<\/p>\n

O Vale do rio Omo <\/i>\u00e9 um territ\u00f3rio cheio de beleza, mas tamb\u00e9m \u00e9 governado por magias, rituais e vingan\u00e7as, onde o homem ainda conserva comportamentos da \u00c1frica ancestral. Mas isso n\u00e3o parece ser por muito tempo, pois as transforma\u00e7\u00f5es j\u00e1 se aproximam. A presen\u00e7a de mission\u00e1rios, turistas e comerciantes contribui para o acesso a produtos estrangeiros. Bebidas alco\u00f3licas baratas e fortes, antes raras, j\u00e1 v\u00eam deixando seu rastro de destrui\u00e7\u00e3o. Durante muitas gera\u00e7\u00f5es, essas tribos foram protegidas por montanhas e savanas contra o contato com o mundo exterior. Mas o fator principal para mant\u00ea-las a salvo da \u201cciviliza\u00e7\u00e3o\u201d foi o fato de a Eti\u00f3pia<\/i> ter sido o \u00fanico pa\u00eds africano a n\u00e3o ser colonizado pelos europeus. De modo que os habitantes das margens do rio Omo<\/i> escaparam \u00e0 influ\u00eancia nefasta da coloniza\u00e7\u00e3o e dos conflitos que esmagaram muitas outras sociedades. As tribos, at\u00e9 ent\u00e3o, permaneceram intocadas, migrando e guerreando entre si, e convivendo de acordo com seus costumes, inexistentes em quase todas as outras regi\u00f5es do pa\u00eds.<\/p>\n

S\u00e3o muitas as tribos africanas que habitam as margens do rio Omo<\/i>, regi\u00e3o abundante em \u00e1gua: Kara<\/i>, Mursi<\/i>, Suri<\/i>, Nyangatom<\/i>, Kwegu<\/i> e Dassanech<\/i>, entre outras, uma popula\u00e7\u00e3o de cerca de 200 mil pessoas. Os povoados estendem-se ao longo do Omo<\/i>, agrupamento de cho\u00e7as com cercados para cabra e dep\u00f3sitos de cereais. A riqueza mais importante dessa gente s\u00e3o os pequenos rebanhos de bois e cabras, mas eles tamb\u00e9m trabalham na lavoura, irrigada com a \u00e1gua do rio. Em muitas tribos, um homem n\u00e3o pode se casar, se n\u00e3o oferecer dotes de gado \u00e0 fam\u00edlia da noiva. Aos homens cabe a responsabilidade com o rebanho.<\/p>\n

As mulheres mursis<\/i> ainda usam discos labiais (peda\u00e7o circular de madeira ou cer\u00e2mica no l\u00e1bio inferior) e cobrem o corpo com desenhos, s\u00edmbolos da beleza feminina. O adorno labial \u00e9 substitu\u00eddo de tempo em tempo para ampliar o local.<\/p>\n

\u00a0Os suris <\/i>possuem suas temporadas de duelos, quando se vestem com armaduras de pele de cabra e usam bast\u00f5es compridos no enfrentamento.<\/p>\n

As mulheres hamars<\/i> pedem para ser a\u00e7oitadas at\u00e9 sangrar, num certo ritual. H\u00e1 tamb\u00e9m o rito de inicia\u00e7\u00e3o para os meninos da tribo hamar<\/i>, que devem correr pra cima do lombo do gado, provando que est\u00e3o aptos a enfrentar a vida adulta.<\/p>\n

Nos casamentos, realizados pela tribo Kara<\/i>, \u00e9 oferecida uma cerveja feita de sorgo aos convidados de todas as idades, inclusive crian\u00e7as. As vi\u00favas usam o luto tradicional: despem-se dos adornos, deixam o cabelo crescer e vestem apenas um couro grosseiro.<\/p>\n

Para muitas das tribos, os mortos continuam por perto. Em certos vilarejos, eles s\u00e3o enterrados debaixo dos barracos, separados dos vivos por menos de um metro de terra seca. Continuam interferindo na vida das fam\u00edlias, como pensam elas.<\/p>\n

Enquanto no Ocidente a vingan\u00e7a fica por conta dos tribunais, a lei das tribos, naquele canto remoto da Eti\u00f3pia<\/i>, \u00e9 feita por elas pr\u00f3prias. Ao filho mais velho cabe vingar a morte do pai. E uma vez morto esse, a incumb\u00eancia vai passando para o pr\u00f3ximo. Um homem da fam\u00edlia deve cobrar o tributo de sangue pela morte de um de seus membros. E aquele que d\u00e1 fim a um inimigo recebe honrarias especiais: cicatrizes escavadas na carne do ombro e da barriga.<\/p>\n

H\u00e1 tamb\u00e9m a circuncis\u00e3o feminina, comum em toda a Eti\u00f3pia<\/i>, e uma pr\u00e1tica que \u00e9 conhecida como \u201cdestrui\u00e7\u00e3o do mingi\u201d<\/i> (mingi<\/i> \u00e9 uma esp\u00e9cie de azar extremo). Se uma crian\u00e7a nasce deformada, ou se os seus dentes superiores nascem antes dos inferiores, ou se nascer fora do casamento, ela \u00e9 tida como mau agouro. Por isso, deve ser sacrificada antes que o mingi <\/i>se alastre.<\/p>\n

Aos poucos, o governo et\u00edope aumenta sua influ\u00eancia sobre as tribos, impondo seu c\u00f3digo jur\u00eddico, na tentativa de abolir as pr\u00e1ticas tradicionais nocivas<\/i>, como o ritual de fustiga\u00e7\u00e3o das mulheres, as lutas com bast\u00f5es e a cerim\u00f4nia de passar sobre o lombo do gado, etc.<\/p>\n

Os jovens das tribos percebem que \u00e9 preciso buscar a paz entre elas, se quiserem sobreviver. Eles come\u00e7am a entender que a tradi\u00e7\u00e3o n\u00e3o pode ser levada a ferro e fogo, pois as coisas est\u00e3o mudando. Alguns deles j\u00e1 estudam fora dali e possuem a consci\u00eancia de que \u00e9 preciso aceitar mudan\u00e7as.<\/p>\n

O fot\u00f3grafo alem\u00e3o, Hans Silvester<\/i>, que j\u00e1 esteve no Vale do<\/i> rio Omo<\/i> v\u00e1rias vezes, e passou seis anos entre as tribos, ficou impressionado com as imagens colhidas ali, principalmente nas tribos Surma<\/i> e Mursi<\/i>, conhecidas por suas exuberantes pinturas corporais. Elas utilizam material vulc\u00e2nico, para obter as mais diferentes cores e pintarem os corpos nus. E, como adere\u00e7os usam cascas, flores e folhagem. A natureza fornece-lhes um campo vasto de tinturas e enfeites.<\/p>\n

As fotos de Hans Silvester<\/i> percorrem o mundo como um alerta para a fragilidade dessas tribos, que precisam ser protegidas. A \u00edntegra de seu trabalho pode ser vista no livro Natural Fashion \u2013 Tribal Decoration from \u00c1frica\/ Editora Thames e Hudson. Existe tamb\u00e9m na internet, <\/i>um v\u00eddeo com seu trabalho sobre o Vale do Rio Omo. <\/i>Acessem-no, para verem as maravilhas que ele captou:
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