{"id":15980,"date":"2022-04-14T00:07:00","date_gmt":"2022-04-14T03:07:00","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=15980"},"modified":"2022-09-15T23:06:32","modified_gmt":"2022-09-16T02:06:32","slug":"cair-no-conto-do-vigario","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/cair-no-conto-do-vigario\/","title":{"rendered":"CAIR NO CONTO DO VIG\u00c1RIO"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b>
\n<\/strong><\/p>\n

\"PV<\/a><\/p>\n

Segundo o Aur\u00e9lio, “Conto do Vig\u00e1rio” significa: 1.Embuste para apanhar dinheiro, em que o embusteiro, o vigarista, procura aproveitar-se da boa-f\u00e9 da v\u00edtima, contando uma hist\u00f3ria meio complicada, mas com certa verossimilhan\u00e7a\/ 2. P. ext. Qualquer embuste para tirar dinheiro ou bem material alheio.<\/em> No vocabul\u00e1rio jur\u00eddico o termo usado para o conto do vig\u00e1rio \u00e9 \u201cestelionato\u201d,<\/p>\n

Quanto mais crescem os recursos de comunica\u00e7\u00e3o mais a trapa\u00e7a encontra um campo f\u00e9rtil. Ainda que vivamos em pleno s\u00e9culo XXI, os embusteiros encontram uma rica clientela, pois, segundo afirmou P. T. Barnum \u2013 ilusionista e dirigente de um circo de variedades \u2013 \u201cnasce um trouxa a cada minuto\u201d<\/em>. Engana-se quem pensa que s\u00e3o apenas as pessoas simpl\u00f3rias a cair em tais engodos. Em certos embustes, enganador e enganado tornam-se c\u00famplices, ainda que indiretamente, pois ambos est\u00e3o em busca de vantagens f\u00e1ceis, ou seja, o enganado tamb\u00e9m est\u00e1 \u00e0 procura de vantagens.<\/p>\n

Os trapaceiros encontram-se encarapitados at\u00e9 nos p\u00falpitos dos templos, vendendo a salva\u00e7\u00e3o eterna aos panacas. Trocando em mi\u00fados, para o fiel cr\u00e9dulo \u00e9 muito mais f\u00e1cil comprar a sua salva\u00e7\u00e3o do que levar uma vida regrada no mundo dos vivos, ou seja, ele \u00e9 t\u00e3o vivaz quanto o trambiqueiro. E assim, v\u00e3o proliferando as mentiras mundo afora como se verdades fossem. De ambos os lados n\u00e3o h\u00e1 santos.<\/p>\n

Se n\u00e3o houvesse a predisposi\u00e7\u00e3o para levar proveito por parte da v\u00edtima, os vigaristas n\u00e3o lograriam \u00eaxito em suas empreitadas. O embusteiro ainda conta com um ponto a seu favor: o sil\u00eancio do lesado, envergonhado por ter ca\u00eddo num golpe em que tamb\u00e9m estava \u00e0 cata de ganhos f\u00e1ceis. Enquanto o primeiro desaparece do cen\u00e1rio, o iludido \u00e9 projetado, servindo-se de motivo de chacota. Mas em s\u00e3 consci\u00eancia muitos poucos de n\u00f3s poderiam se orgulhar de nunca ter ca\u00eddo num conto do vig\u00e1rio.<\/p>\n

Ao que se sabe, apenas na l\u00edngua portuguesa este tipo de trapa\u00e7a \u00e9 associada ao \u201cvig\u00e1rio\u201d, tendo aparecido tal locu\u00e7\u00e3o primeiramente em Portugal e no Brasil. O que se presume \u00e9 que no passado, certos trapaceiros passavam-se por figuras eclesi\u00e1sticas (merecedoras de grande confiabilidade, \u00e0 \u00e9poca) para urdirem suas trapa\u00e7as. E sendo os dois pa\u00edses citados muito cat\u00f3licos, o fato de tratar-se de um “vig\u00e1rio” dava mais credibilidade \u00e0 trama, levando os espertalh\u00f5es a deitarem e rolarem.<\/p>\n

Segundo Vicente Reis, autor de Os Ladr\u00f5es do Rio<\/em>, havia uma quadrilha internacional, principalmente na Espanha, preparada para aplicar golpes nos pa\u00edses escolhidos. Enquanto uns meliantes ficavam no pa\u00eds de origem, outros partiam para terras estrangeiras (Portugal, Fran\u00e7a, Brasil, It\u00e1lia, Argentina, etc.) em busca das poss\u00edveis v\u00edtimas, normalmente pessoas ricas e respeit\u00e1veis e cheias de boa-f\u00e9, \u00e9 claro. Quando o escolhido para ser ludibriado menos esperava, chegava-lhe uma carta do exterior, de indiscut\u00edvel autenticidade (selos, carimbos, chancelas…) de um religioso, com a hist\u00f3ria de uma \u00f3rf\u00e3, grande heran\u00e7a e coisa e tal.<\/p>\n

Segundo alguns, o conto do vig\u00e1rio<\/em> \u00e9 t\u00e3o antigo, que j\u00e1 se encontra no Antigo Testamento, G\u00eanesis, cap. 30, vers\u00edculos: 31 a 45 , quando Jac\u00f3 enganou Lab\u00e3o. E n\u00e3o \u00e9 que \u00e9 verdade! Para Jos\u00e9 Augusto Dias J\u00fanior, “O conto do vig\u00e1rio aparece como um retrato invertido da vida e da cultura de uma comunidade em um per\u00edodo de sua hist\u00f3ria”. J\u00e1 Vicente Reis explica que “\u00c9 um la\u00e7o armado com habilidade e boa f\u00e9 do pr\u00f3ximo ambicioso. \u00c9 o caso em que os espertos fazem tolos e o tolo quer ser esperto”.<\/p>\n

O escritor portugu\u00eas Fernando Pessoa, contudo, tem outra explica\u00e7\u00e3o para a origem da express\u00e3o \u201cconto do vig\u00e1rio\u201d <\/em>que, segundo ele, foi nascida em Portugal. Atesta que certo propriet\u00e1rio rural e negociante de gado, de nome Manuel Peres Vig\u00e1rio foi o respons\u00e1vel pela origem da express\u00e3o. Para conhecer a hist\u00f3ria, leiam o artigo O CONTO DO VIG\u00c1RIO<\/a><\/b><\/p>\n

Fonte de pesquisa:<\/span>
\nOs Contos e Os Vigaristas\/Jos\u00e9 Augusto Dias Junior<\/p>\n

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