{"id":16064,"date":"2014-11-18T00:01:17","date_gmt":"2014-11-18T02:01:17","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=16064"},"modified":"2014-11-30T21:00:13","modified_gmt":"2014-11-30T23:00:13","slug":"aleijadinho-200-anos-de-sua-morte","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/aleijadinho-200-anos-de-sua-morte\/","title":{"rendered":"ALEIJADINHO \u2013 200 ANOS DE SUA MORTE"},"content":{"rendered":"
Autoria de Luiz Cruz<\/strong><\/p>\n <\/a>\u00a0\u00a0\u00a0 <\/a><\/p>\n L\u00e1 fora os lundus dos escravos\/Acordam a lua do sono.\/A escultura bem que pede\/Uma for\u00e7a bem maior.\/- Homem se me acabas\/Eu acabo te abra\u00e7ando. – (Murilo Mendes)<\/strong><\/em><\/p>\n Aos dezoito dias de novembro de mil oitocentos e quatorze, faleceu Ant\u00f4nio Francisco Lisboa, pardo, solteiro, de setenta e seis anos, com todos os sacramentos, encomendado e sepultado em cova da Boa Morte e para clareza fiz este assento em que assino. (O coadjutor Jos\u00e9 Carneiro de Morais)<\/strong><\/em><\/p>\n Ant\u00f4nio Francisco Lisboa<\/em> nasceu em Vila Rica, era filho natural da forra Isabel e do mestre carpinteiro portugu\u00eas Manuel Francisco Lisboa. O sobrenome \u00e9 designativo de origem, ou seja, de Lisboa, Portugal. Segundo o pesquisador Marcos Paulo de Souza Miranda, o pai de Aleijadinho<\/em> chegou ao Brasil por volta de 1720, acompanhado de seus pais\u00a0 irm\u00e3os.<\/p>\n Aleijadinho<\/em> cresceu no seio de uma fam\u00edlia de talentosos mestres carpinteiros e desde muito cedo esteve em contato com a arte e a arquitetura. O meio ambiente em que foi criado era bastante prop\u00edcio para que pudesse desenvolver suas habilidades. \u00c9 prov\u00e1vel que tenha estudado com o portugu\u00eas abridor de cunhos Jo\u00e3o Gomes Batista, e a arte her\u00e1ldica ser\u00e1, posteriormente, reestruturada e executada em sua obra. Seu ambiente familiar foi muito significativo para a forma\u00e7\u00e3o do mestre mulato, mas tamb\u00e9m as condi\u00e7\u00f5es culturais, econ\u00f4micas e sociais foram prop\u00edcias para o desenvolvimento das artes de maneira geral. Minas Gerais setecentista tornou-se grande celeiro das artes e expressiva formadora de artistas, que circulavam por diversas vilas e arraiais, criando suas obras e embelezando as localidades.<\/p>\n Aleijadinho<\/em> foi escultor, entalhador, desenhista e arquiteto da melhor qualidade. Constituiu sua oficina. Deixou v\u00e1rias obras primas escult\u00f3ricas e arquitet\u00f4nicas. Seu apelido est\u00e1 associado a sua condi\u00e7\u00e3o f\u00edsica, que at\u00e9 hoje n\u00e3o se sabe exatamente o que lhe acontecera. Com vasta obra, sendo mulato \u2013 numa sociedade estratificada, foi um dos artistas mais valorizados de sua \u00e9poca, inovador nas \u00e1reas em que atuou e associando tudo isso ao seu problema f\u00edsico, o personagem, desde cedo, tinha todos os elementos para transformar-se em um \u201cmito\u201d. E como todo mito, j\u00e1 foi muito estudado, mas sua obra, sua vida e seu meio ambiente s\u00f3cio-econ\u00f4mico-cultural ainda nos propiciam vasto e complexo campo a ser investigado.<\/p>\n Alguns viajantes estrangeiros, ao longo do s\u00e9culo XIX, deixaram registros sobre o artista; seu primeiro bi\u00f3grafo Rodrigo Jos\u00e9 Ferreira Bretas teve oportunidade de coletar relatos de pessoas que ainda tinham convivido com o mestre. Mas o primeiro a estudar a obra de Aleijadinho<\/em> foi o modernista M\u00e1rio de Andrade, que visitou Minas em 1924, na caravana modernista. Seu ensaio sobre o artista foi publicado em 1928. O poeta franco-sui\u00e7o Blaise Cendrars, que participou da caravana, ficou encantado com a obra de Aleijadinho<\/em> e iniciou um estudo, que infelizmente n\u00e3o teve prosseguimento. Ainda da caravana, Oswald de Andrade e M\u00e1rio de Andrade criariam seus belos poemas e Tarsila do Amaral registraria em desenhos as diversas localidades que visitaram. O arquiteto e pesquisador Lucio Costa foi o primeiro a conectar a obra do artista de Minas Gerais com o rococ\u00f3 da Baviera. Viajou com o historiador Ivo Porto de Menezes pelo interior da Alemanha, identificando e analisando obras, que foram edificadas l\u00e1 com est\u00e9tica pr\u00f3xima e inspirada na tratad\u00edstica arquitet\u00f4nica, exatamente como ocorrera com as obras mineiras realizadas por nosso mestre. Seria imposs\u00edvel relacionar os pesquisadores envolvidos com as obras desse ouro-pretano e artista magistral.<\/p>\n Se a origem familiar e o clima prop\u00edcios \u00e0 cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica foram significativos para a forma\u00e7\u00e3o e produ\u00e7\u00e3o do mulato, n\u00e3o foram apenas esses fatos, mas especialmente sua pr\u00f3pria erudi\u00e7\u00e3o. Aleijadinho<\/em> foi, com certeza, um homem culto e sens\u00edvel, que sabia ler e interpretar a B\u00edblia, conhecia o latim e teve acesso aos tratados arquitet\u00f4nicos que circularam pelo Brasil col\u00f4nia. Com seu talento, soube como ningu\u00e9m se apropriar das informa\u00e7\u00f5es e conhecimentos, e transform\u00e1-los em obras-primas. Em Ouro Preto, encontra-se seu principal projeto arquitet\u00f4nico: a capela de S\u00e3o Francisco de Assis<\/em>; em Congonhas est\u00e1 seu maior conjunto de esculturas: os Passos da Paix\u00e3o<\/em> e em Tiradentes o seu \u00faltimo risco: o frontisp\u00edcio da Matriz de Santo Ant\u00f4nio<\/em>. Podemos apreciar obras de Aleijadinho<\/em> em diversas igrejas mineiras e, em cada uma, o artista imprimiu seu estilo inconfund\u00edvel. Com a associa\u00e7\u00e3o de um estilema a outro, torna-se mais f\u00e1cil identificar a escultura de nosso artista maior. Podemos considerar o conjunto de caracteres a sua marca, ou sua pr\u00f3pria assinatura nas obras de arte:<\/p>\n \u2022 o dom\u00ednio da estrutura anat\u00f4mica; \u2022 os olhos expressivos, com o globo ocular protuberante, com as pupilas planas, achinesados, tendo as lacrimais bem definidas, o olhar \u00e9 penetrante; \u2022 hipertelorismo \u2013 a dist\u00e2ncia acentuada entre as \u00f3rbitas oculares; \u2022 os cabelos organizados em mechas, estriados e formando volutas, em alguns exemplares o cabelo est\u00e1 em v\u00edrgulas invertidas sobre a testa; \u2022 as sobrancelhas arqueadas em V conectando-se com o desenho do nariz; \u2022 o nariz afilado, com termina\u00e7\u00e3o em esfera dilu\u00edda, tendo as aletas bem definidas e profundas; \u2022 a arquitetura labial \u00e9 muito pessoal e est\u00e1 intimamente conectada ao nariz pela forma\u00e7\u00e3o do septo nasal, que cria campo para destaque das colunas do filtrum; o sulco do filtrum \u00e9 profundo e convexo; o arco de cupido \u00e9 em forma de V; o tub\u00e9rculo da por\u00e7\u00e3o mucosa do l\u00e1bio superior destaca-se em mont\u00edculo; tanto o l\u00e1bio superior quanto o inferior possuem desenhos bem definidos e marcantes em cada escultura; \u2022 a boca \u00e9 entreaberta, salientando ainda mais os l\u00e1bios carnudos; ligeiramente aparecem os dentes, em alguns casos; \u2022 o queixo \u00e9 delineado em mont\u00edculos; \u2022 os bigodes nascem das narinas, afastados dos l\u00e1bios e formam a barba bipartida que desenvolve-se em duas aspirais bem definidas, deixando o queixo exposto; \u2022 a barba n\u00e3o \u00e9 conectada \u00e0s costeletas, desce de junto aos l\u00f3bulos das orelhas; \u2022 o semblante facial \u00e9 sempre expressivo e pode-se perceber a estrutura \u00f3ssea; \u2022 o pesco\u00e7o \u00e9 bem colocado e robusto; \u2022 o movimento de pernas e bra\u00e7os \u00e9 sempre original a cada escultura, a posi\u00e7\u00e3o dos p\u00e9s forma \u00e2ngulo pr\u00f3ximo do reto; os bra\u00e7os s\u00e3o ligeiramente curtos; \u2022 a m\u00e3o tem propor\u00e7\u00e3o quadrangular, com a forma\u00e7\u00e3o do polegar mais afastado e alongado; o desenho das unhas \u00e9 bem destacado e retangular; os dedos m\u00ednimo e indicador s\u00e3o mais afastados, contrastando com os dois dedos m\u00e9dios unidos e de comprimento muito pr\u00f3ximo; \u00e9 poss\u00edvel observar a estrutura \u00f3ssea e as veias; \u2022 os artelhos ou podod\u00e1ctilos s\u00e3o longos e sempre expostos; \u2022 o joelho \u00e9 ligeiramente elevado, para acentuar o movimento do planejamento, que \u00e9 anguloso, em dobras marcantes, esvoa\u00e7ante; \u2022 a veste em gola c\u00f4nica ou gola em V, sinuosa e ressaltada, em cabuch\u00e3o; \u2022 as esculturas s\u00e3o de tamanhos diversos, a maioria policromada, mas h\u00e1 belos exemplares sem policromia.<\/p>\n Fotos de Luiz Cruz:<\/span> Cristo com a cruz \u00e0s costas \u2013 Passos da Paix\u00e3o do Santu\u00e1rio de Congonhas\/MG; Santo Ant\u00f4nio, capela de S\u00e3o Francisco de Assis de S\u00e3o Jo\u00e3o del Rei\/MG.<\/p>\n Views: 3<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria de Luiz Cruz \u00a0\u00a0\u00a0 L\u00e1 fora os lundus dos escravos\/Acordam a lua do sono.\/A escultura bem que pede\/Uma for\u00e7a bem maior.\/- Homem se me acabas\/Eu acabo te abra\u00e7ando. – (Murilo Mendes) Aos dezoito dias de novembro de mil oitocentos e quatorze, faleceu Ant\u00f4nio Francisco Lisboa, pardo, solteiro, de setenta e seis anos, com todos […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[24],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/16064"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=16064"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/16064\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":16257,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/16064\/revisions\/16257"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=16064"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=16064"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=16064"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}