{"id":16716,"date":"2018-12-23T15:10:39","date_gmt":"2018-12-23T17:10:39","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=16716"},"modified":"2018-12-23T15:09:05","modified_gmt":"2018-12-23T17:09:05","slug":"o-mundo-de-hoje-e-o-natal","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-mundo-de-hoje-e-o-natal\/","title":{"rendered":"O MUNDO DE HOJE E O NATAL"},"content":{"rendered":"

Autoria de Celso Lungaretti<\/strong><\/p>\n

\"famintos\"<\/a><\/p>\n

O que o mundo realmente celebra no Natal? A saga de um carpinteiro que trouxe esperan\u00e7a a pescadores e outras pessoas simples de um pa\u00eds subjugado ao maior imp\u00e9rio da \u00e9poca. Os primeiros crist\u00e3os eram triplamente injusti\u00e7ados: economicamente, porque pobres; socialmente, porque insignificantes; e politicamente, porque tiranizados. Jesus Cristo nasceu tr\u00eas d\u00e9cadas depois da maior revolta de escravos enfrentada pelo Imp\u00e9rio Romano em toda a sua exist\u00eancia.<\/p>\n

As mais de seis mil cruzes fincadas ao longo da Via \u00c1pia foram o desfecho da epopeia de Spartacus, que, \u00e0 sua maneira r\u00fastica, acenou com a \u00fanica possibilidade ent\u00e3o existente de revitaliza\u00e7\u00e3o do imp\u00e9rio: o fim da escravid\u00e3o. Roma ganharia novo impulso caso passasse a alicer\u00e7ar-se sobre o trabalho de homens livres, n\u00e3o sobre a conquista e o chicote. Vencido Spartacus, n\u00e3o havia mais quem encarnasse (ou pudesse encarnar) a promessa de igualdade na Terra. Jesus Cristo a transferiu, portanto, para o plano m\u00edstico: todos os seres humanos seriam iguais aos olhos de Deus, devendo receber a compensa\u00e7\u00e3o por seus infort\u00fanios num reino para al\u00e9m deste mundo. Este foi o cristianismo das catacumbas: a resist\u00eancia dos esp\u00edritos a uma realidade dilacerante, avivando o ideal da fraternidade entre os homens.<\/p>\n

Hoje h\u00e1 enormes diferen\u00e7as e uma grande semelhan\u00e7a com os tempos b\u00edblicos: o imp\u00e9rio igualmente conseguiu neutralizar as for\u00e7as que poderiam conduzir a humanidade a um est\u00e1gio superior de civiliza\u00e7\u00e3o. A revolu\u00e7\u00e3o \u00e9 mais necess\u00e1ria do que nunca, mas inexiste uma classe capaz de assumi-la e concretiz\u00e1-la, como o fez a burguesia, ao estabelecer o capitalismo; e como se supunha que o proletariado industrial fizesse, edificando o socialismo.<\/p>\n

As amea\u00e7as de Cat\u00e1strofes e o fantasma do retrocesso<\/span><\/p>\n

O fantasma a nos assombrar \u00e9 o do fim do Imp\u00e9rio Romano: ou seja, o de que tal impasse nos fa\u00e7a retroceder a um est\u00e1gio h\u00e1 muito superado em nosso processo evolutivo. O capitalismo hoje produz legi\u00f5es de exclu\u00eddos que fazem lembrar os b\u00e1rbaros que deram fim a Roma; n\u00e3o s\u00f3 os que vivem na periferia do progresso, mas tamb\u00e9m os miser\u00e1veis existentes nos pr\u00f3prios pa\u00edses abastados, v\u00edtimas do desemprego cr\u00f4nico.<\/p>\n

E as agress\u00f5es ao meio ambiente, decorrentes da gan\u00e2ncia exacerbada, est\u00e3o atraindo sobre n\u00f3s a f\u00faria dos elementos, com consequ\u00eancias avassaladoras. D\u00e9cadas de cat\u00e1strofes ser\u00e3o o pre\u00e7o de nossa inc\u00faria. No entanto, como disse o grande jornalista Alberto Dines, \u201ccriaturas e na\u00e7\u00f5es cometem muitos desatinos, mas na beira do abismo recuam e escolhem viver\u201d<\/em>. Se a combina\u00e7\u00e3o do progresso material com a influ\u00eancia mesmerizante da ind\u00fastria cultural tornou o capitalismo avan\u00e7ado praticamente imune ao pensamento cr\u00edtico e \u00e0 gesta\u00e7\u00e3o\/concretiza\u00e7\u00e3o de projetos alternativos de organiza\u00e7\u00e3o da vida econ\u00f4mica, pol\u00edtica e social, tudo muda durante as grandes crises, quando se abrem brechas para evolu\u00e7\u00f5es hist\u00f3ricas diferentes.<\/p>\n

Temos pela frente n\u00e3o s\u00f3 a contagem regressiva at\u00e9 que as contradi\u00e7\u00f5es insol\u00faveis do capitalismo acabem desembocando numa depress\u00e3o t\u00e3o terr\u00edvel como a da d\u00e9cada de 1930, como a sucess\u00e3o de emerg\u00eancias e mazelas que decorrer\u00e3o das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. O sofrimento e a devasta\u00e7\u00e3o ser\u00e3o infinitamente maiores se os homens enfrentarem desunidos esses desafios. Caso as na\u00e7\u00f5es e os indiv\u00edduos pr\u00f3speros venham a priorizar a si pr\u00f3prios, voltando as costas aos exclu\u00eddos, estes morrer\u00e3o como moscas.<\/p>\n

O desprendimento<\/em>, substituindo a gan\u00e2ncia; a coopera\u00e7\u00e3o<\/em>, em lugar da competi\u00e7\u00e3o; e a solidariedade<\/em>, ao inv\u00e9s do ego\u00edsmo, ter\u00e3o de dar a t\u00f4nica do comportamento humano nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas, se as criaturas e na\u00e7\u00f5es escolherem viver. E h\u00e1 sempre a esperan\u00e7a de que os mutir\u00f5es, criados ao sabor dos acontecimentos, acabem apontando um novo caminho para os cidad\u00e3os, com a constata\u00e7\u00e3o de que, mobilizando-se e organizando-se para o bem comum, eles aproveitam muito melhor as suas pr\u00f3prias potencialidades e os recursos finitos do planeta.<\/p>\n

Ent\u00e3o, para al\u00e9m deste Natal mercantilizado, que se tornou a pr\u00f3pria celebra\u00e7\u00e3o do templo e de seus vendilh\u00f5es, vislumbra-se a possibilidade de outro. O verdadeiro: o Natal crist\u00e3o, dos explorados, dos humilhados e ofendidos. Se frutificarem os esfor\u00e7os dos homens de boa vontade.<\/p>\n

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