{"id":1687,"date":"2014-08-02T16:00:04","date_gmt":"2014-08-02T19:00:04","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=1687"},"modified":"2022-08-08T19:13:58","modified_gmt":"2022-08-08T22:13:58","slug":"india-as-torres-do-silencio-e-o-zoroastrismo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/india-as-torres-do-silencio-e-o-zoroastrismo\/","title":{"rendered":"\u00cdNDIA – AS TORRES DO SIL\u00caNCIO E O ZOROASTRISMO"},"content":{"rendered":"

Autoria de<\/strong> Lu Dias Carvalho<\/strong>
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\u00a0 \"viverd\" \u00a0 <\/a>\"tor\"<\/a><\/p>\n

O clima de Bombaim (hoje Mumbai), a maior cidade da \u00cdndia, possui um calor de chumbo, sufocante, o que impede muitos estrangeiros de ali se acostumarem. Dizem que a \u00cdndia n\u00e3o conv\u00e9m a todo mundo. Penso que lugar algum conv\u00e9m a todo mundo.<\/p>\n

Nas ruas, sente-se o odor forte das frutas, que estragam facilmente com o calor, o cheiro de barro e o de incenso de milhares de altares espalhados pela cidade. Aliado a isso, a fetidez do estrume de gado faz-se presente por onde quer que se v\u00e1. Os riquix\u00e1s correm pelas ruas, movimentados por homens esquel\u00e9ticos, a quem apenas uma for\u00e7a sobrenatural da luta pela sobreviv\u00eancia consegue manter de p\u00e9. Jamais esses poderiam ser puxados por parelhas de bois, pois, para os hindus, a vida de uma vaca vale infinitamente mais que a de um homem.<\/p>\n

Bombaim \u00e9 uma cidade onde a moda toma os mais diversos caminhos. H\u00e1 indianos enrolados em metros de tecidos, outros meio vestidos e alguns outros praticamente sem roupa alguma. Crian\u00e7as de pernas finas como palitos e olhos de khol <\/i>s\u00e3o vistas, aos montes, nas ruas centrais e favelas. Algumas s\u00e3o t\u00e3o doentes que parecem carregar o qu\u00e1druplo da idade, enquanto outras mal aguentam de p\u00e9 a barriga cheia de vermes. Os mendigos parecem arrancar a roupa dos turistas desavisados, pedindo esmolas, com suas m\u00faltiplas mutila\u00e7\u00f5es e doen\u00e7as, dentre essas, a lepra.<\/p>\n

Cinco torres enfeitam uma colina, onde o sil\u00eancio \u00e9 interrompido pelo voo dos abutres e o grasnado dos corvos gulosos. S\u00e3o as famosas Torres do Sil\u00eancio<\/i>, local onde os parses (ou p\u00e1rsis) celebram seus ritos funer\u00e1rios. Segundo a Wikip\u00e9dia \u201cuma torre do sil\u00eancio \u00e9 uma constru\u00e7\u00e3o em forma de torre, que possui usos e simbologias funer\u00e1rias para os adeptos do zoroastrismo.\u201d.<\/i><\/p>\n

O Zoroastrismo<\/i> \u00e9 uma das mais antigas religi\u00f5es da hist\u00f3ria da humanidade, tendo sido predominante na P\u00e9rsia (atual Ir\u00e3), antes de ser invadida pelos mu\u00e7ulmanos. Foi fundada por Zaratustra (ou Zoroastro), profeta do leste da P\u00e9rsia. E, segundo certos historiadores, alguns de seus baluartes religiosos, como a cren\u00e7a na exist\u00eancia do ju\u00edzo final (com a vinda do Messias), na ressurrei\u00e7\u00e3o e na exist\u00eancia do para\u00edso, influenciaram as tr\u00eas grandes religi\u00f5es: o juda\u00edsmo, o cristianismo e o islamismo.<\/p>\n

Ap\u00f3s os mu\u00e7ulmanos tomarem o poder na P\u00e9rsia, come\u00e7aram a matar os parses e a qualquer um que se negasse converter ao islamismo. Os parses, para escaparem das persegui\u00e7\u00f5es isl\u00e2micas, fugiram para a \u00cdndia no s\u00e9culo X. E ali, em Bombaim, os ingleses deram-lhes uma colina, para depositar seus mortos.<\/p>\n

Os parses n\u00e3o enterram e tampouco queimam seus mortos. Os corpos s\u00e3o colocados nus, sobre pedras de m\u00e1rmore, onde s\u00e3o deixados para que abutres e corvos devorem-nos, de modo que a morte volte \u00e0 vida o mais rapidamente poss\u00edvel. Somente os \u201ccondutores dos mortos<\/i>\u201d, vestidos com um mero peda\u00e7o de pano envolvendo a cintura, podem tocar nos cad\u00e1veres. Carregam como arma, para se defenderem dos animais carn\u00edvoros, um simples peda\u00e7o de pau. Esses homens jogam no mar os ossos e os restos que n\u00e3o foram devorados. Mas esta pr\u00e1tica vem sendo abandonada, por in\u00fameras raz\u00f5es, dentre elas, a diminui\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o de aves de rapina ou\u00a0 a ilegalidade dessa tradi\u00e7\u00e3o em muitos pa\u00edses, levando os seus seguidores, que habitam o Ocidente, a escolherem a crema\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Os zoroastrianos creem que o corpo humano \u00e9 puro, por isso, quando uma pessoa morre, o seu esp\u00edrito tem um prazo de tr\u00eas dias para deixar o corpo. Depois desse prazo, fica apenas o cad\u00e1ver, que \u00e9 impuro.\u00a0 E, se ele fica na natureza, que \u00e9 uma cria\u00e7\u00e3o divina marcada pela pureza, poder\u00e1 polu\u00ed-la. No quarto, onde se encontra o cad\u00e1ver, arde uma pira de fogo ou velas, durante tr\u00eas dias.<\/p>\n

As cerim\u00f4nias dessa religi\u00e3o s\u00e3o celebradas nos conhecidos templos de fogo<\/i>. A parte principal de seus templos \u00e9 a c\u00e2mara, onde se conserva o fogo sagrado (que queima numa pira met\u00e1lica, colocada sobre uma plataforma de pedra). Os sacerdotes zoroastrianos devem visitar o fogo cinco vezes por dia, de modo que n\u00e3o se apague. Usam o s\u00e2ndalo como oferenda e recitam ora\u00e7\u00f5es, sempre com a boca tapada por um tecido, para n\u00e3o polu\u00edrem o fogo, pois esse \u00e9 adorado como um s\u00edmbolo da sabedoria e luz divina de Ahura Mazda<\/i>.<\/p>\n

Apesar de sua vista deslumbrante, a grande maioria dos estrangeiros \u00e9 levada at\u00e9 as Torres do Sil\u00eancio<\/i> por uma curiosidade doentia, para acreditarem na descri\u00e7\u00e3o de um m\u00f3rbido espet\u00e1culo, que lhes chega aos ouvidos, sem entender esse mundo cheio de mist\u00e9rios e t\u00e3o pr\u00f3ximo da morte. Enquanto isso, as piras funer\u00e1rias estendem-se pela ba\u00eda, iluminando o dia ou a noite, num outro ritual de passagem da morte para a vida, agora dentro do hindu\u00edsmo.<\/p>\n

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