{"id":18754,"date":"2015-05-29T23:28:31","date_gmt":"2015-05-30T02:28:31","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=18754"},"modified":"2022-08-11T20:43:28","modified_gmt":"2022-08-11T23:43:28","slug":"filme-a-festa-de-babette","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/filme-a-festa-de-babette\/","title":{"rendered":"Filme \u2013 A FESTA DE BABETTE"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"Babette\"<\/a><\/p>\n

O homem \u00e9 fr\u00e1gil e tolo. A todos j\u00e1 nos foi dito que a gra\u00e7a divina encontra-se por todo o universo. Mas em nossa tolice e miopia humanas, imaginamos ser a gra\u00e7a finita. Por esse motivo, trememos antes de fazer nossas escolhas na vida, e ap\u00f3s t\u00ea-las feito trememos de medo de ter escolhido errado. Mas eis que chega o momento em que nossos olhos est\u00e3o abertos, e vemos, e percebemos que a gra\u00e7a \u00e9 infinita. A gra\u00e7a n\u00e3o exige nada de n\u00f3s, sen\u00e3o que a aguardemos com confian\u00e7a e a reconhe\u00e7amos com gratid\u00e3o. A gra\u00e7a, irm\u00e3os, n\u00e3o imp\u00f5e condi\u00e7\u00f5es e n\u00e3o escolhe nenhum de n\u00f3s em particular; a gra\u00e7a toma a todos em seu seio e proclama anistia geral. Aquilo que escolhemos nos \u00e9 dado, e aquilo que recusamos nos \u00e9 igualmente, e ao mesmo tempo, concedido. Sim, que o que rejeitamos seja copiosamente vertido sobre n\u00f3s. Pois que a miseric\u00f3rdia e a verdade encontraram uma a outra e a retid\u00e3o e a bem-aventuran\u00e7a beijaram uma a outra. (Discurso do general Loewenhielm )<\/em><\/strong><\/p>\n

O filme dinamarqu\u00eas A Festa de Babette<\/em> (1987), obra do cineasta e roteirista Gabriel Axel, \u00e9 um dos mais premiados filmes estrangeiros, tendo ganhado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o Bafta e a Palma de Ouro.<\/p>\n

A hist\u00f3ria acontece na Noruega, na cidadezinha de Berlevaag, banhada pelo mar e encimada por montanhas. Ali moram as duas irm\u00e3s, Martine e Philippa, cujos nomes homenageiam Martinho Lutero e seu amigo Philipp Melanchthon. Eram filhas de um pastor respons\u00e1vel por criar uma seita, que pregava a ren\u00fancia aos prazeres, sob a alega\u00e7\u00e3o de que o mundo s\u00f3 oferecia ilus\u00f5es, sendo que a verdadeira vida encontrava-se na Nova Jerusal\u00e9m, \u00e0 qual teriam acesso todos que praticassem uma vida modesta e sem deleite.<\/p>\n

Quando o filme tem in\u00edcio, o pastor j\u00e1 se encontrava morto, deixando as duas filhas \u00e0 frente do grupo, cujos membros tornavam-se cada vez mais escassos. J\u00e1 n\u00e3o havia mais a harmonia de antes, tendo elas que lidar com brigas e descontentamentos. Ainda assim, o pequeno grupo reunia-se para estudar a palavra do antigo mestre.<\/p>\n

Martine e Philippa tinha uma criada francesa, apesar de viverem com parcos rendimentos, gastos em obras de caridade. Babette batera \u00e0 porta das duas irm\u00e3s, 12 anos antes, numa noite de intenso temporal. O povo do lugar logo compreendeu que o cora\u00e7\u00e3o generoso das duas irm\u00e3s, que atendiam a todos que a procuravam, era o respons\u00e1vel pela presen\u00e7a da mulher na casa. Por\u00e9m, a hist\u00f3ria era muito mais complexa. Retrocedendo no tempo, o filme passa ent\u00e3o a narrar a hist\u00f3ria das duas irm\u00e3s e Babette.<\/p>\n

Embora muito belas e desej\u00e1veis na juventude, Martine e Philippa viviam voltadas apenas para a seita do pai, que via nelas a m\u00e3o direita e a esquerda, n\u00e3o tendo elas acesso a nenhum tipo de divertimento. Al\u00e9m disso, ele n\u00e3o permitia que algu\u00e9m pudesse priv\u00e1-lo de uma das filhas. Mesmo assim, dois cavalheiros chegaram a Berlevaag, em tempos diferentes, e ambicionaram a m\u00e3o das garotas.<\/p>\n

O primeiro deles foi um oficial, Lorens Loewenhielm, envolvido em d\u00edvidas, e enviado pelo pai para conviver com a tia no campo, por certo tempo, a fim de refletir sobre sua vida desregrada. Ao ver Martine, a mais nova delas, ele caiu de amores pela mo\u00e7a. Passou ent\u00e3o a frequentar a casa do pastor, ouvindo suas prega\u00e7\u00f5es, com o intuito de v\u00ea-la. Ao findar de sua perman\u00eancia no lugar, e certo de n\u00e3o obter o amor da mo\u00e7a, agarrou sua m\u00e3o, dizendo-lhe que nunca mais voltaria a v\u00ea-la. Com o passar dos anos, ele se casou com uma dama importante da corte francesa.<\/p>\n

Um ano mais tarde, chegou a vez de um grande cantor franc\u00eas de \u00f3peras, Achille Papin, apaixonar-se pela bela voz de Philippa, ap\u00f3s ouvi-la cantar na igreja. Com a permiss\u00e3o do pastor, ela chegou a estudar canto com ele, que s\u00f3 pensava em torn\u00e1-la uma grande dama da \u00f3pera, viajando pelo mundo. Mas, quando a beijou, ela, sem dizer nada ao pai, pediu que esse comunicasse ao cantor que n\u00e3o iria mais \u00e0s aulas. Achille Papin retornou a Paris, sozinho.<\/p>\n

Passados quinze anos, numa noite de intenso temporal, uma mulher quase desfalecida, bateu \u00e0 porta das duas irm\u00e3s, com uma carta de Achille Papin, pedindo-lhes que a acolhessem, pois era uma fugitiva francesa, cuja fam\u00edlia havia sido fuzilada na guerra civil, e\u00a0 com a sua ajuda e a do sobrinho, que trabalhava como cozinheiro num navio, ela conseguira escapar. As duas irm\u00e3s disseram \u00e0 fugitiva que n\u00e3o poderiam pagar-lhe por seus servi\u00e7os. Babette afirmou-lhes que trabalharia de gra\u00e7a, e, se elas n\u00e3o a quisessem, ela n\u00e3o trabalharia para mais ningu\u00e9m. E assim ficou ali por 12 anos, sem ter conseguido aprender a l\u00edngua daquela gente e, tampouco, abra\u00e7ar a sua seita, permanecendo cat\u00f3lica. Era uma governanta exemplar, ajudando as irm\u00e3s em tudo. Segundo ela, a \u00fanica coisa que a ligava a seu pa\u00eds de origem era um bilhete de loteria, que um amigo renovava a cada ano. Acontece, ent\u00e3o, a segunda parte da hist\u00f3ria.<\/p>\n

Martine e Philippa resolveram comemorar o dia em que o pai faria cem anos, como se ele ainda se encontrasse entre elas e seus adeptos, ainda que a disc\u00f3rdia grassasse entre esses. Fariam uma modesta ceia com uma x\u00edcara de caf\u00e9. Nesse \u00ednterim, Babette recebeu a not\u00edcia de que seu bilhete fora premiado com a quantia de dez mil francos. E, para surpresa das duas irm\u00e3s, pediu-lhes para preparar um jantar franc\u00eas, desconhecido para ambas, em homenagem ao pai delas. Embora relutantes, acabaram aceitando a oferta da governanta. A partir da\u00ed desenrola toda a prepara\u00e7\u00e3o do jantar, com Martine e Philippa apavoradas, pois n\u00e3o imaginavam que fosse daquele porte, onde entraria at\u00e9 vinho. O que pensariam os devotos?<\/p>\n

Numa reuni\u00e3o com Philippa, os adeptos prometeram uns aos outros que iriam ao jantar, mas n\u00e3o fariam coment\u00e1rio algum sobre a comida ou bebida, preservando as recomenda\u00e7\u00f5es do mestre. E assim, com a presen\u00e7a de 12 pessoas, foi realizado o jantar. O resto fica para que o leitor descubra, ao assistir a esse comovente filme.<\/p>\n

Nota:<\/span> Esse filme, narrado em grande parte, tem o roteiro baseado no conto da escritora dinamarquesa Karen Blixen, a mesma autora de A Fazenda Africana<\/em>, em que foi baseado o filme Entre dois Amores<\/em>.<\/p>\n

Ficha t\u00e9cnica<\/span>
\nAno:1987
\nG\u00eanero: drama
\nDire\u00e7\u00e3o: Gabriel Axel
\nRoteiro: Gabriel Axel
\nElenco: Bibi Andersson, Ebbe Rode, Gudmar Wivesson, Jarl Kulle, Jean-Philippe Lafont, St\u00e9phane Audran
\nProdu\u00e7\u00e3o: Bo Christensen, Just Betzer
\nFotografia: Henning Kristiansen
\nTrilha Sonora: Per Norgaard
\nDura\u00e7\u00e3o: 102 minutos<\/p>\n

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