{"id":1921,"date":"2013-03-02T10:58:13","date_gmt":"2013-03-02T13:58:13","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=1921"},"modified":"2020-06-05T17:55:22","modified_gmt":"2020-06-05T20:55:22","slug":"o-principio-do-culto-e-da-hierarquia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-principio-do-culto-e-da-hierarquia\/","title":{"rendered":"O PRINC\u00cdPIO DO CULTO E DA HIERARQUIA"},"content":{"rendered":"

Autoria do Prof.<\/strong> Pierre Santos<\/b><\/p>\n

\"cultier\"<\/a><\/p>\n

Creio que todo mundo tem uma grande curiosidade de saber como foi o princ\u00edpio do Cristianismo na aus\u00eancia de Jesus, principalmente naquelas cidades, como Jerusal\u00e9m, Constantinopla, Roma, Anti\u00f3quia e Alexandria, que tiveram maior envolvimento com a forma\u00e7\u00e3o do novo culto. Este, quando da morte de Cristo, j\u00e1 havia conhecido, \u00e9 verdade, relativa difus\u00e3o por v\u00e1rias regi\u00f5es europ\u00e9ias e orientais e o que manteve sua chama acesa foi sem d\u00favida o apelo forte e aut\u00eantico de que vinham imbu\u00eddas as suas prega\u00e7\u00f5es.Todavia, a multid\u00e3o dos novos crist\u00e3os estava se sentindo abandonada e deserdada, uma vez que o Mestre j\u00e1 n\u00e3o estava mais entre eles, e os Ap\u00f3stolos, por sua ordem, espalharam-se pelas mais variadas regi\u00f5es, a cujas comunidades iam levando as palavras do Senhor contidas nos Evangelhos e batizando os ne\u00f3fitos convertidos.<\/p>\n

Gra\u00e7as ao trabalho de divulga\u00e7\u00e3o e proselitismo, as hostes da religiosidade iam sendo mais e mais engrossadas. Enquanto isso, as fam\u00edlias, que ficaram com a sensa\u00e7\u00e3o de abandono, mas sem nunca deixar a f\u00e9 arrefecer-se, adquiriram o h\u00e1bito de se reunirem, cada vez na moradia de uma delas, para rezarem, ocasi\u00f5es em que um anci\u00e3o, geralmente o que fosse o de\u00e3o, junto com os demais anci\u00f5es, sentados em volta de uma comprida mesa, lia e comentava a passagem evang\u00e9lica do dia, repetia as palavras proferidas por Jesus Cristo na \u00daltima Ceia, elevando acima das cabe\u00e7as o alimento, e repartia com os presentes, inclusive com todos que assistiam \u00e0quela cerim\u00f4nia aqu\u00e9m da mesa, o vinho e o p\u00e3o assim consagrados. Como se pode entender, tratava-se de cerim\u00f4nia muito simplificada, que s\u00f3 com o tempo iria completar-se em sua liturgia, tornando-se a missa tal como hoje a compreendemos; mas isto levou muitos s\u00e9culos.<\/p>\n

Essa situa\u00e7\u00e3o vinha se arrastando desde o in\u00edcio da terceira d\u00e9cada, at\u00e9 quase o final da sexta d\u00e9cada de nossa era, durante cujo per\u00edodo S\u00e3o Pedro era o respons\u00e1vel pelo novo culto \u2013 miss\u00e3o que recebera do pr\u00f3prio Cristo, pelo que \u00e9 considerado o primeiro Papa da Igreja que os crist\u00e3os pretendiam Cat\u00f3lica, ou seja, Universal. Nesse \u00ednterim, as fam\u00edlias, que na origem n\u00e3o eram t\u00e3o numerosas assim, foram crescendo de maneira incontrol\u00e1vel, chegando a um ponto em que o culto demandou com urg\u00eancia por organiza\u00e7\u00e3o e lideran\u00e7a condignas. Ent\u00e3o, os l\u00edderes comunit\u00e1rios, que, \u00e0quela altura, j\u00e1 n\u00e3o mais precisavam ser necessariamente os decanos dentre os velhos, mas aqueles que tivessem mais tino e lideran\u00e7a, n\u00e3o importando a idade, de comum acordo dividiram o espa\u00e7o total ao longo do qual a religi\u00e3o se espalhava, em tantas comunidades independentes quantas necess\u00e1rias, cada uma com seu l\u00edder, no qual encontramos a origem do sacerdote, cujo conjunto viria a ser chamado \u2018baixo clero\u2019.<\/p>\n

Precisamos entender que tais divis\u00f5es territoriais eram necess\u00e1rias, n\u00e3o s\u00f3 para facilita\u00e7\u00e3o dos rituais lit\u00fargicos, mas tamb\u00e9m por causa das persegui\u00e7\u00f5es da pol\u00edcia romana, a que os crist\u00e3os estavam sujeitos. Esse era o motivo pelo qual, principalmente em Roma e nas circunvizinhan\u00e7as, aquelas reuni\u00f5es precisavam ser feitas na clandestinidade, \u00e0s escondidas daquela pol\u00edcia, pelo que todo o cuidado era pouco. Esse preocupante problema levou, em Roma, in\u00fameros patr\u00edcios romanos convertidos, naturalmente os melhor aquinhoados, a doarem ao novo culto casas de bom tamanho, que eram adaptadas \u00e0s necessidades da liturgia. Em outras regi\u00f5es n\u00e3o havia ou era sensivelmente abrandada essa persegui\u00e7\u00e3o. As dist\u00e2ncias geogr\u00e1ficas eram outro motivo para a referida divis\u00e3o, tal a expans\u00e3o do culto.<\/p>\n

Afinal, que expans\u00e3o geogr\u00e1fica era essa? Se bem no princ\u00edpio a pr\u00e1tica de rezas familiares conjuntas acontecia praticamente s\u00f3 numa regi\u00e3o de Roma, devidamente afastada para n\u00e3o provocar suspeitas, logo outras regi\u00f5es romanas aprenderam a pr\u00e1tica, a qual, n\u00e3o demorou muito, se estendeu por outras regi\u00f5es al\u00e9m das fronteiras romanas e, no final do primeiro s\u00e9culo, j\u00e1 era usada em regi\u00f5es muito long\u00ednquas umas das outras, pois al\u00e9m de Roma, Constantinopla, Alexandria, Anti\u00f3quia e Jerusal\u00e9m, lugares no princ\u00edpio mais envolvidos com o novo culto, esse se estendeu tamb\u00e9m para regi\u00f5es como Gr\u00e9cia, Palestina, S\u00edria, Egito, Nic\u00e9ia, L\u00edbia, \u00c9feso, Calced\u00f4nia e Tr\u00e1cia, entre outros lugares, isto sem considerar que, em cada uma dessas na\u00e7\u00f5es, al\u00e9m da capital, outras cidades iam se tornando importantes em seus contextos nacionais e sendo centros religiosos de peso no contexto do Cristianismo.<\/p>\n

Tal situa\u00e7\u00e3o arrastou-se por todo o s\u00e9culo I, sob o papado de Pedro, Lino (sucessor por Pedro escolhido), Anacleto, Clemente I e Evaristo e do primeiro do s\u00e9culo seguinte, Alexandre I. As reivindica\u00e7\u00f5es de melhor organiza\u00e7\u00e3o por parte das in\u00fameras regi\u00f5es pelas quais a religi\u00e3o havia se divido s\u00f3 foram atendidas pelo segundo Papa do s\u00e9culo II: S\u00e3o Sisto I, que assimilou bem as raz\u00f5es do que o povo pretendia. Cada regi\u00e3o foi considerada uma Diocese<\/i>, que passou a ser dirigida por um Bispo, enquanto cada subdivis\u00e3o ficava sob a responsabilidade de um Padre, a\u00ed estando o come\u00e7o do sacerd\u00f3cio<\/span>. Passou-se tamb\u00e9m a exigir de cada aspirante, seja a bispo, seja a padre, um est\u00e1gio mais ou menos longo de estudo e aprendizado.<\/p>\n

O t\u00edtulo da autoridade eclesi\u00e1stica maior continuou por mais um s\u00e9culo a ser Bispo de Roma<\/i>, porque essa cidade era considerada, hierarquicamente, superior \u00e0s demais, por ser a sede episcopal da Igreja; em decorr\u00eancia, seu Bispo estava acima de todos os outros, pelo mesmo motivo. Contudo, a repeti\u00e7\u00e3o do nome do cargo sempre criava certa confus\u00e3o. Apesar disso, somente sob o papado de Urbano I, o segundo Papa do s\u00e9culo III, \u00e9 que o herdeiro das sand\u00e1lias do pescador passou a chamar-se Papa<\/i>, palavra para mim derivada do grego: ??????, que significa pai. Muitos estudiosos acreditam seja a palavra um acr\u00f3stico de P<\/i><\/b>etrus A<\/b>postolus P<\/b>rinceps A<\/b>postolarum<\/i> (Pedro Ap\u00f3stolo Pr\u00edncipe dos Ap\u00f3stolos), ou de P<\/i><\/b>etri A<\/b>postoli P<\/b>otestatem A<\/b>ccipiens<\/i> (Aquele que recebe o poder de Pedro).<\/p>\n

Somente ao longo dos s\u00e9culos IV, V e VI \u2013 depois de intrincadas pol\u00eamicas, prolongadas desaven\u00e7as e duros conflitos, uns querendo que o mando papal fosse uma pentarquia <\/i>(mando dividido por cinco papas), outros, uma triarquia<\/i> (mando divido por tr\u00eas papas) e outros ainda, uma monarquia<\/i> (mando pessoal de um papa) \u2013 as categorias de Arcebispo, Cardeal e outras dignidades, como Patriarca, Primaz etc., foram criadas, o papado ficou definido ad perpetuam<\/i> como Monarquia, a Religi\u00e3o como Cat\u00f3lica e a Igreja como Ecum\u00eanica. Todavia, somente sob o papado de Inoc\u00eancio III, no s\u00e9culo XII, \u00e9 que toda a estrutura hier\u00e1rquica da Igreja foi afinal definida como a conhecemos hoje, com raras modifica\u00e7\u00f5es posteriores. Assim, de Pedro a Bento XVI, o Catolicismo j\u00e1 teve nada menos do que 265 ocupantes do trono papal.<\/p>\n

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