{"id":19597,"date":"2015-07-07T23:11:45","date_gmt":"2015-07-08T02:11:45","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=19597"},"modified":"2024-10-30T12:55:43","modified_gmt":"2024-10-30T15:55:43","slug":"a-indigena-presuncosa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/a-indigena-presuncosa\/","title":{"rendered":"A IND\u00cdGENA PRESUN\u00c7OSA"},"content":{"rendered":"

Recontada por Lu Dias Carvalho
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Numa tribo amaz\u00f4nica, situada pr\u00f3xima ao rio Madeira, havia uma ind\u00edgena que era t\u00e3o linda, mas t\u00e3o linda, que muitos diziam que, antigamente, ela era uma estrela de grande fulgor que havia ca\u00eddo do c\u00e9u. Mas n\u00e3o era bem isso, pois havia nascido na aldeia, dado o seu primeiro choro nos bra\u00e7os de uma ind\u00edgena idosa, que servira de ajuda no seu nascimento, e tendo como primeiro alimento o leite de sua m\u00e3e.<\/p>\n

\u00c0 medida que aquela menina ganhava corpo, mais formosura seu corpo recebia, encantando os olhares dos jovens guerreiros da tribo. E ela, sem ju\u00edzo, movida apenas pela futilidade da presun\u00e7\u00e3o, seduzia-os e, ao mesmo tempo, repelia-os, como se fossem brinquedos de palha. Alguns a temiam, mas outros, dominados pela paix\u00e3o, tentavam ganhar o seu amor. Dentre os \u00faltimos estava certo jovem guerreiro, por quem ela se interessou. Mas a revela\u00e7\u00e3o de que a amava n\u00e3o lhe era suficiente. Queria provas. Exigiu que o guerreiro pegasse certo veado-galheiro, j\u00e1 conhecido por sua rapidez, e trouxesse-lhe a pele do animal, que seria usada na rede do casal, na noite de n\u00fapcias.<\/p>\n

O guerreiro n\u00e3o se intimidou diante do pedido, tamanho era o seu ardor pela jovem. Assim, depois de tentar pegar o animal das mais diferentes maneiras, viu que s\u00f3 lhe restava um jeito: montar nele e tentar subjug\u00e1-lo. Quando o veado-galheiro passou em disparada, o \u00edndio p\u00f4s-se a correr, enlouquecido, atr\u00e1s dele, ambos parecendo flechas cortando o ar. A alguns quil\u00f4metros de onde come\u00e7ara a ca\u00e7ada havia um acentuado declive, que se fundia com um sorvedouro. E foi esse lugar que serviu de sepultura para ca\u00e7ador e ca\u00e7a.<\/p>\n

Durante dias e dias houve uma procura infrut\u00edfera pelo corpo do guerreiro. Todos se apiedavam de sua sorte, e sentiam grande indigna\u00e7\u00e3o pela formosa ind\u00edgena, respons\u00e1vel por aquela trag\u00e9dia. Ela tamb\u00e9m se sentiu culpada. Chorando dia e noite, olhava em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 mata, na tentativa de vislumbrar a imagem do jovem. Junto com suas l\u00e1grimas, sua beleza foi fugindo do corpo, assim como suas for\u00e7as, e ela n\u00e3o demorou muito a partir para a morada dos mortos.<\/p>\n

Dizem os mais velhos da tribo que o lamento que se ouve \u00e0 beira do abismo, vem do cora\u00e7\u00e3o da mo\u00e7a, pois seu esp\u00edrito ainda espera a volta daquele que seria seu amado companheiro.<\/p>\n

Nota:<\/span> Iracema<\/em>, obra de Jos\u00e9 Maria de Medeiros, 1884<\/p>\n

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