<\/a><\/p>\nConta-se que bem antigamente, uma formosa \u00edndia dormia tranquilamente \u00e0 margem de um igarap\u00e9-a\u00e7u, quando sentiu um grande peso sobre si. Era a Boiuna, tamb\u00e9m conhecida por outros nomes, dentre eles o de Cobra-grande e Sucuri, que estava a copular com ela, sem que obtivesse tal permiss\u00e3o. Ademais, contra a for\u00e7a n\u00e3o h\u00e1 nada que se possa fazer, pois Boiuna era conhecida por sua grande maldade, judiando dos pescadores, e at\u00e9 mesmo levando-os para o fundo do rio. Era um animal gigantesco, que tinha uma colora\u00e7\u00e3o cinzento-esverdeada, decorada com manchas arredondadas e escuras. Seu ventre era amarelado e sua cabe\u00e7a cheia de escamas. Engolia suas v\u00edtimas ap\u00f3s triturar-lhe os ossos. Era temida por toda a aldeia, at\u00e9 mesmo pelos guerreiros mais destemidos. Mas, para surpresa de todos, deixou a \u00edndia, logo ap\u00f3s possu\u00ed-la.<\/p>\n
Decorrido o tempo de gesta\u00e7\u00e3o, a \u00edndia pariu dois filhos g\u00eameos, ou melhor, dois filhotes de cobra. Deu-lhes o nome de Cobra Norato e Maria Caninana. Mas a pobre m\u00e3e viu que n\u00e3o poderia cri\u00e1-los junto \u00e0 tribo. Foi aconselhada pelo paj\u00e9 para que os jogasse no rio. E assim o fez. Ali, os dois cresciam, assemelhando-se cada vez mais ao pai. Por\u00e9m, quanto ao modo de agir, os dois irm\u00e3os eram muito diferentes entre si, com um representando o Bem e o outro o Mal. Maria Caninana era o terror das \u00e1guas, dos canoeiros e pescadores: escorra\u00e7ava os peixes, virava os barcos, rasgava as redes, matava os peixes grandes e levava para o fundo do rio os n\u00e1ufragos. Por sua vez, Cobra Norato era a prestimosidade em pessoa: protegia os canoeiros e pescadores, desprendia-lhes as redes, conduzia-os aos grandes cardumes, salvava os naufragados, etc. Por isso, os dois irm\u00e3os viviam em permanente confronto, at\u00e9 que, revoltado com a malvadez de Maria, Norato acabou por mat\u00e1-la numa briga.<\/p>\n
Cobra Norato, em certos dias do m\u00eas, bem depois do anoitecer, libertava-se da pele gigantesca de cobra, deixando-a na beira do rio, e transformava-se num maravilhoso guerreiro \u00edndio. Nessas ocasi\u00f5es, ele n\u00e3o apenas visitava sua m\u00e3e como tamb\u00e9m os amigos que ia fazendo, onde quer que ele aparecia. Sabedor da forma de se libertar do encantamento, o pobre rapaz pedia a uns e outros que o ajudassem. Ou seja, que fizessem um ferimento na cabe\u00e7a da cobra, quando essa se encontrasse dormindo, at\u00e9 sair sangue, e tamb\u00e9m pingasse na sua boca tr\u00eas gotas de leite materno. Mas, coitado, ningu\u00e9m se atrevia a tanto, com medo da fera descomunal. Muitos tentaram, mas mal a viam, saiam correndo, esbaforidos.<\/p>\n
De uma feita, Cobra Nonato resolveu ir mais longe, nadando atrav\u00e9s do rio Tocantins. Largou seu corpanzil de cobra na beira do rio e foi dan\u00e7ar. No local, ele fez amizade com um valente soldado, a quem contou sua terr\u00edvel sina. Compadecido, o novo amigo prometeu desencant\u00e1-lo, nem que tivesse de p\u00f4r em risco sua pr\u00f3pria vida. Aguardou o momento esperado e fez tudo como devia, livrando aquele jovem e formoso mo\u00e7o de passar sua exist\u00eancia como um amedrontador e asqueroso r\u00e9ptil. O couro da cobra foi queimado e suas cinzas jogadas no rio. E Norato (ou Honorato) passou a viver como qualquer mortal comum.<\/p>\n
Nota:<\/span> imagem copiada de noamazonaseassim.com.br<\/em><\/p>\nViews: 15<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Recontada por Lu Dias Carvalho Conta-se que bem antigamente, uma formosa \u00edndia dormia tranquilamente \u00e0 margem de um igarap\u00e9-a\u00e7u, quando sentiu um grande peso sobre si. Era a Boiuna, tamb\u00e9m conhecida por outros nomes, dentre eles o de Cobra-grande e Sucuri, que estava a copular com ela, sem que obtivesse tal permiss\u00e3o. Ademais, contra a […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[36],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19754"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=19754"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19754\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":46737,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19754\/revisions\/46737"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=19754"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=19754"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=19754"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}