{"id":23955,"date":"2015-10-19T23:04:38","date_gmt":"2015-10-20T01:04:38","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=23955"},"modified":"2022-08-13T18:41:34","modified_gmt":"2022-08-13T21:41:34","slug":"mit-o-homem-que-desprezava-os-deuses","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/mit-o-homem-que-desprezava-os-deuses\/","title":{"rendered":"Mit. \u2013 O HOMEM QUE DESPREZAVA OS DEUSES"},"content":{"rendered":"

Recontado por Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"Ceres\"<\/a><\/p>\n

O mortal Eris\u00edchton, al\u00e9m de nutrir um grande desd\u00e9m pelos deuses do Olimpo, ainda agia de modo a ofend\u00ea-los. De uma feita, com o intuito de desacat\u00e1-los, tomou de seu machado e partiu para o bosque dedicado \u00e0 deusa Ceres, onde havia um gigantesco carvalho que causava admira\u00e7\u00e3o a deuses e mortais. Servia tamb\u00e9m de dep\u00f3sito para as oferendas dedicadas \u00e0 ninfa daquela majestosa \u00e1rvore. E foi justamente essa maravilha que o arrogante e miser\u00e1vel humano pediu a seus servos que cortassem. Como esses fossem tementes aos deuses, al\u00e9m de nutrirem grande respeito pelo carvalho e sua moradora, mostraram-se temerosos de realizar tal empreitada. O homem impiedoso arrancou o machado das m\u00e3os de um deles, dizendo que ele mesmo poria abaixo aquela \u00e1rvore.<\/p>\n

Ao aproximar-se do frondoso carvalho com o machado em punho, todos que ali se encontravam, angustiados com tal a\u00e7\u00e3o, viram-no tremer e ouviram-no dar um gemido lancinante. Ainda assim, o homem n\u00e3o se amedrontou, j\u00e1 que n\u00e3o se apiedava de nada. A primeira machadada fez esvoa\u00e7ar sangue pela ferida aberta no tronco. Um dos presentes tentou segurar o machado, mas foi morto pelo homem mau, que lhe decepou a cabe\u00e7a. Nesse momento, a ninfa que morava na \u00e1rvore, disse ao agressor que era amada pela deusa Ceres, sendo ali a sua morada, e, que ao matar o carvalho, ele tamb\u00e9m a mataria, mas, se isso acontecesse, seu castigo n\u00e3o tardaria a acontecer, pois nenhuma a\u00e7\u00e3o perversa dos humanos ficaria impune ante o olhar dos seres divinos.<\/p>\n

Nem \u00e9 preciso dizer que Eris\u00edchton n\u00e3o deu a m\u00ednima para os dizeres da ninfa. O carvalho, depois de in\u00fameras machadadas, tombou esguichando sangue por todos os lados e esmigalhando grande parte do bosque, para sofrimento das dr\u00edades (ninfas associadas aos carvalhos), que viram uma companheira morrer sob uma m\u00e3o impiedosa. Dirigiram-se \u00e0 deusa Ceres, vestidas de luto, pedindo-lhe que castigasse o insolente. Essa prontamente aquiesceu. Castigaria o assassino entregando-o \u00e0 deusa Fome. Como ela e tal deusa n\u00e3o pudessem se encontrar, por ordem das Parcas (Cloto, L\u00e1quesis e \u00c1tropos, respons\u00e1veis por tecer o fio do destino, cortando-o quando assim o desejassem), pediu a uma Or\u00e9ade (as \u00d3reades eram ninfas que habitavam e protegiam as montanhas, cavernas e grutas) que fosse \u00e0 regi\u00e3o gelada da C\u00edtia, onde nada sobrevivia, em busca da Fome, que ali morava juntamente com o Frio, o Tremor e o Medo. Ela deveria apossar-se das entranhas do humano Eris\u00edchton.<\/p>\n

A deusa Fome tomou posse do corpo embrutecido do assassino, enquanto esse dormia, injetando o pr\u00f3prio veneno em suas veias. Mesmo em sonho, o criminoso angustiava-se por comida. Acordou varado de fome, mas nada lhe era suficiente. Quanto mais comia, mais faminto ficava. Passou a gastar todos os seus bens com comida, at\u00e9 que lhe sobrou apenas uma filha, que foi vendida para que obtivesse dinheiro para comprar comida.<\/p>\n

O fato, meus caros leitores, \u00e9 que o homem cruel, que destro\u00e7ou o carvalho sem piedade alguma, como tantos outros humanos fazem com as \u00e1rvores, para que essas lhes cedam o espa\u00e7o que sempre pertenceu a elas, n\u00e3o mais tendo o que comer, passou a devorar seus pr\u00f3prios membros, ou seja, seu corpo passou a alimentar-se de si mesmo. Depois de muito sofrimento, somente a morte foi capaz de libert\u00e1-lo de t\u00e3o cruel destino. Assim como carvalho, ele morreu esguichando sangue pelos membros que ainda restavam. Cumpriu-se o castigo da deusa Ceres. Vingou-se a morte da ninfa e do Carvalho. E assim aconte\u00e7a a todos os homens impiedosos com a M\u00e3e Natureza.<\/p>\n

Nota:<\/span> Ceres no Ver\u00e3o<\/em>, obra do pintor franc\u00eas franc\u00eas Jean-Antoine Watteau.<\/p>\n

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