{"id":27407,"date":"2016-04-18T18:16:37","date_gmt":"2016-04-18T21:16:37","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=27407"},"modified":"2022-08-14T20:37:27","modified_gmt":"2022-08-14T23:37:27","slug":"historiando-chico-buarque-ole-ola","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/historiando-chico-buarque-ole-ola\/","title":{"rendered":"Historiando Chico Buarque \u2013 OL\u00ca, OL\u00c1"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"ol\u00e9\"<\/a><\/p>\n

N\u00e3o chore ainda n\u00e3o\/ Que eu tenho uma raz\u00e3o\/ Pra voc\u00ea n\u00e3o chorar\/ Amiga me perdoa\/ Se eu insisto \u00e0 toa\/ Mas a vida \u00e9 bela\/ Para quem cantar. (Chico Buarque)<\/em><\/strong><\/p>\n

A menina compungida sentou-se no banco da pra\u00e7a, sem achar mais gra\u00e7a na vida, diante das not\u00edcias que a seus ouvidos chegavam. Era, como sempre, o forte dando rasteira no fraco.\u00a0 Aquela gente de moradias atapetadas\u00a0 queria bem mais do que carecia, sem que\u00a0 a debilidade do pequeno comovesse seu cora\u00e7\u00e3o duro. Muitos desses tais diziam seguir \u00e0 risca de Jesus as palavras. Mas o cora\u00e7\u00e3o mesquinho e a mente avara deixavam \u00e0 vista a mentira deslavada.<\/p>\n

Os olhos da menina marejavam. Ma eis que surge um poeta, viol\u00e3o em punho e sorriso franco, cora\u00e7\u00e3o amparado pela esperan\u00e7a. Acomoda-se ao seu lado e murmura: \u201cN\u00e3o chore ainda n\u00e3o\/ Que eu tenho um viol\u00e3o\/ E n\u00f3s vamos cantar\/ Felicidade aqui\/ Pode passar e ouvir\/ E se ela for de samba\/ H\u00e1 de querer ficar\u201d<\/em>. A menina ajeita o corpo e pondera nas palavras do poeta. E o mo\u00e7o continua cantando para alegr\u00e1-la: “Seu padre, toca o sino\/ Que pe para todo mundo saber\/ Que a noite \u00e9 crian\u00e7a\/ Que o samba \u00e9 menino\/ Que a dor \u00e9 t\u00e3o velha\/ Que pode morrer\/ Ol\u00ea ol\u00ea ol\u00e1\/ Tem samba de sobra\/ Quem sabe sambar\/ Que entre na roda\/ Que mostre o gingado\/ Mas muito cuidado\/ N\u00e3o vale chorar”.<\/em><\/p>\n

A noite ia surgindo, e o violonista continuava a insistir para alegrar a menina: “N\u00e3o chore ainda n\u00e3o\/ Que eu tenho uma raz\u00e3o\/ Pra voc\u00ea n\u00e3o chorar\/ Amiga me perdoa\/ Se eu insisto \u00e0 toa\/ Mas a vida \u00e9 boa\/ Para quem cantar”<\/em>. E virando-se para seu viol\u00e3o, fez um apelo: “Meu pinho, toca forte\/ Que \u00e9 pra todo mundo acordar\/ N\u00e3o fale da vida\/ N\u00e3o fale da morte\/ Tem d\u00f3 da menina\/ N\u00e3o deixa chorar\/ Ol\u00ea ol\u00ea ol\u00ea ol\u00e1”<\/em>.<\/p>\n

O poeta escutou um som vindo de longe. E mais uma vez dirigiu-se \u00e0 pequena: \u201cN\u00e3o chore ainda n\u00e3o\/ Que eu tenho a impress\u00e3o\/ Que o samba vem a\u00ed\/ E um samba t\u00e3o imenso\/ Que eu \u00e0s vezes penso\/ Que o pr\u00f3prio tempo\/ Vai parar para ouvir\u201d<\/em>. Ela acreditou que aquele samba, se cantado por milhares de vozes, vindas dos morros e dos cantinhos mais remotos de seu pa\u00eds, haveria de calar, n\u00e3o apenas o pr\u00f3prio tempo, mas tamb\u00e9m a estupidez, a agress\u00e3o, a brutalidade, a prepot\u00eancia e a coa\u00e7\u00e3o existentes em seu pa\u00eds.<\/p>\n

Menina e poeta cantaram juntos: “Luar, espere um pouco\/ Que \u00e9 pro meu samba poder chegar\/ Eu sei que o viol\u00e3o\/ Est\u00e1 fraco, est\u00e1 rouco\/ Mas a minha voz\/ N\u00e3o cansou de chamar\/ Ol\u00ea ol\u00ea ol\u00ea ol\u00e1”. <\/em>Contudo, eles compreenderam que “Tem samba de sobra\/ Ningu\u00e9m quer sambar\/ N\u00e3o h\u00e1 mais quem cante\/ Nem h\u00e1 mais lugar\/ O sol chegou antes\/ Do samba chegar\/ Quem passa nem liga\/ J\u00e1 vai trabalhar\/ E voc\u00ea, minha amiga\/ J\u00e1 pode chorar”<\/em>. E os dois, poeta e menina, choraram juntos, um no ombro do outro.<\/p>\n

Obs.:<\/span> ou\u00e7am a m\u00fasica – OL\u00ca, OL\u00c1<\/p>\n

Nota:<\/u> \u00a0pintura de Leonid Afremov, denominada George Benson<\/em>.<\/p>\n

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Autoria de Lu Dias Carvalho N\u00e3o chore ainda n\u00e3o\/ Que eu tenho uma raz\u00e3o\/ Pra voc\u00ea n\u00e3o chorar\/ Amiga me perdoa\/ Se eu insisto \u00e0 toa\/ Mas a vida \u00e9 bela\/ Para quem cantar. (Chico Buarque) A menina compungida sentou-se no banco da pra\u00e7a, sem achar mais gra\u00e7a na vida, diante das not\u00edcias que a […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[41],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27407"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=27407"}],"version-history":[{"count":11,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27407\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47041,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27407\/revisions\/47041"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=27407"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=27407"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=27407"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}