{"id":27411,"date":"2016-04-05T22:39:03","date_gmt":"2016-04-06T01:39:03","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=27411"},"modified":"2022-08-14T20:14:01","modified_gmt":"2022-08-14T23:14:01","slug":"historiando-chico-buarque-meu-refrao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/historiando-chico-buarque-meu-refrao\/","title":{"rendered":"Historiando Chico Buarque \u2013 MEU REFR\u00c3O"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"viol\"<\/a><\/strong><\/p>\n

Quem canta comigo\/ Canta o meu refr\u00e3o\/ Meu melhor amigo\/ \u00c9 meu viol\u00e3o. (Chico Buarque)<\/em><\/strong><\/p>\n

Vida de negro no meu pa\u00eds n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil, meu irm\u00e3o. Ainda mais quando se nasce no morro.<\/p>\n

Na favela, eu fui uma crian\u00e7a feliz, livre como um passarinho sem domestica\u00e7\u00e3o. Brinquei de bola, soltei pipa e muito bal\u00e3o. Eu at\u00e9 fugi da escola, cheio de curiosidade e simpatia, para conhecer a vida \u00a0na cidade, l\u00e1 embaixo. E foi a\u00ed que aprendi uma vergonhosa li\u00e7\u00e3o: n\u00e3o era um sujeito, como apregoava D. Adelaide em suas aulas de cidadania, mas t\u00e3o somente um objeto qualquer, sem pr\u00e9stimo ou sensibilidade. Era t\u00e3o somente um negro nesta grande na\u00e7\u00e3o. Compreendi, a duras penas, que, quando do morro os negros descem, s\u00e3o vistos com olhos de horror e tens\u00e3o. Os privilegiados ainda enxergam em cada um de n\u00f3s um marginal, um tipinho \u00e0 toa, um ladr\u00e3o. Eu \u201cJ\u00e1 chorei sentido\/ De desilus\u00e3o\/ Hoje estou crescido\/ J\u00e1 n\u00e3o choro n\u00e3o\u201d<\/em>.<\/p>\n

\u201cEu nasci sem sorte\/ Moro num barraco\/ Mas meu santo \u00e9 forte\u201d<\/em>, murmurava para mim mesmo, tentando elevar a autoestima. Chegado que era a um viol\u00e3o, vi que no samba, velho companheiro de quem nasce no morro, estava a minha salva\u00e7\u00e3o. N\u00e3o iria dar o bra\u00e7o a torcer, acreditar no que falam muitos brancos, que todo negro \u00e9 treiteiro e vadio, que n\u00e3o tem respeito ou qualquer tipo de brio. Iria moldar meu caminho, e fazer valer meu pr\u00f3prio refr\u00e3o. Jurei que meu melhor amigo seria meu viol\u00e3o.<\/p>\n

E foi assim que abracei o samba, sou compositor de gabarito e sambista de verdade, respeitado no morro e na cidade. N\u00e3o me fiz ref\u00e9m do racismo, e contra ele canto meu estribilho em alto e bom tom: “Quem canta comigo\/ Canta o meu refr\u00e3o\/ Meu melhor amigo\/ \u00c9 meu viol\u00e3o<\/em>“. E para quem n\u00e3o sabe, \u201cO samba \u00e9 o meu fraco\/ No meu samba eu digo\/ O que \u00e9 de cora\u00e7\u00e3o\u201d<\/em>.<\/p>\n

Obs.:\u00a0<\/span> ou\u00e7a a m\u00fasica: MEU REFR\u00c3O<\/a><\/p>\n

Nota: <\/u>pintura de Portinari, Samba
\n<\/u><\/em><\/p>\n

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