{"id":27473,"date":"2016-04-11T01:19:11","date_gmt":"2016-04-11T04:19:11","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=27473"},"modified":"2022-08-14T20:41:44","modified_gmt":"2022-08-14T23:41:44","slug":"o-duelo-e-a-defesa-da-honra","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-duelo-e-a-defesa-da-honra\/","title":{"rendered":"O DUELO E A DEFESA DA HONRA"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"duelo1\"\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 <\/a>\"duelo12\"<\/a><\/strong><\/p>\n

Os nobres […] levavam a honra t\u00e3o a s\u00e9rio que praticamente qualquer ofensa tornava-se uma afronta \u00e0 honra. Dois ingleses duelaram porque seus c\u00e3es haviam brigado. (Arthur Krystal)<\/em><\/strong><\/p>\n

Um homem pode atirar no homem que invade seu car\u00e1ter, tanto quanto no homem que invade a sua casa. ( Samuel Johnson)<\/em><\/strong><\/p>\n

Ande dez passos, vire-se e atire!<\/p>\n

Ao dar continuidade aos artigos sobre a viol\u00eancia atrav\u00e9s dos tempos, \u00e9 imposs\u00edvel n\u00e3o listar o duelo, sendo aqui retratado aquele que acontecia entre dois oponentes, na alegada \u201cdefesa da honra\u201d. Tratava-se de uma luta com armas iguais, cujo objetivo era \u201cdefender\u201d a honra do supostamente ofendido, que muitas vezes tornava-se a pr\u00f3pria v\u00edtima fatal. Morria, mas com a \u201chonra limpa\u201d,\u00a0 lavada a sangue, deixando a fam\u00edlia e amigos felizes com sua grande coragem.\u00a0 Duelos de ideias estavam fora de cogita\u00e7\u00e3o, ainda mais porque se duelava por qualquer bobagem, o que mostra que a vida naquela \u00e9poca tinha pouco ou nenhum valor.<\/p>\n

Segundo Steven Pinker, autor de \u201cOs Anjos Bons da Nossa Natureza\u201d<\/em>, ao contr\u00e1rio do que aparenta, principalmente em fun\u00e7\u00e3o do Cinema, o duelo formal n\u00e3o teve sua origem nos Estados Unidos, mas sim durante o per\u00edodo da Renascen\u00e7a, vindo a espalhar-se por v\u00e1rias partes do mundo. Inicialmente, a exist\u00eancia de tamanha sandice tinha como objetivo diminuir os assassinatos, vingan\u00e7as e brigas de rua entre os nobres e suas comitivas que tomavam as dores de seu senhor. Estranho, n\u00e3o \u00e9? Como um duelo poderia diminuir a brutalidade entre a aristocracia e seus cortejos, se redundava em morte? O fato \u00e9 que a luta restringia-se unicamente aos dois brigalh\u00f5es, sem envolver terceiros. E o caso era dado por encerrado.<\/p>\n

Bastava um homem achar que sua honra fora posta em quest\u00e3o, para que desafiasse o causador de tamanha desdita para um duelo. O desafiado n\u00e3o poderia recusar? Sim, mas ficaria com a pecha de covarde por toda a vida, sendo melhor o \u00f3bito do que carregar t\u00e3o pesado fardo. A morte do infortunado, que tanto podia ser a do desafiante quanto a do difamador, n\u00e3o trazia qualquer tipo de ressentimento por parte de sua fam\u00edlia e seguidores, em rela\u00e7\u00e3o ao assassino, pois se tratara de um jogo limpo. Restava-lhes apenas prestar as honras f\u00fanebres \u00e0quele que tombara. Mas isso quando acontecia num pa\u00eds em que o duelo n\u00e3o fora banido. Caso\u00a0 contr\u00e1rio o descumpridor da lei que ficasse vivo, teria que responder pela morte do fulano de tal.<\/p>\n

O duelo, que acontecia normalmente ao amanhecer, trazia todo um ritual. Ap\u00f3s o desafio daquele que teve a \u201chonra manchada\u201d, as armas eram escolhidas. Cada duelista tinha a seu lado um padrinho, ou at\u00e9 mesmo dois. Era fun\u00e7\u00e3o desses levar as armas e procurar conciliar os dois rixosos. N\u00e3o obtendo \u00eaxito, \u00a0teriam que garantir assessoria ao afilhado radical e servir como testemunha. Havia tamb\u00e9m um juiz, que deveria ser totalmente neutro, encarregado de fazer cumprir as regras acordadas previamente. Em muitos casos, dependendo da arma usada, o perdedor era apenas ferido, mas ainda assim acabava morrendo por falta de ajuda m\u00e9dica, muitas vezes propositalmente, para que o ganhador tivesse a sua honra \u201clavada\u201d e passada.<\/p>\n

Quem pensa que o duelo foi apenas um modismo est\u00e1 muito enganado. Essa insensatez chegou at\u00e9 meados do s\u00e9culo XIX, em alguns pa\u00edses, e um pouco mais longe em outros, embora a Igreja e v\u00e1rios governos proibissem-no. A hist\u00f3ria conta que muita gente famosa participou de duelos, podendo ser citados Napole\u00e3o, Voltaire, Tolst\u00f3i e P\u00fachkin, como exemplos. Os duelos eram tamb\u00e9m um prato cheio para os escritores de fic\u00e7\u00e3o. Houve at\u00e9 duelos entre mulheres. Segundo historiadores, foi o rid\u00edculo que deu fim \u00e0 parvo\u00edce de duelar. A gera\u00e7\u00e3o mais nova passou a debochar dos duelistas. E isso era pior do que \u201cperder\u201d a honra.<\/p>\n

\u00c9 dif\u00edcil compreender, em raz\u00e3o de nossa cultura atual, que o ato de duelar n\u00e3o se ligava \u00e0 disputa por pec\u00falio ou mulheres, mas unicamente pela “honra”, essa mesma honra que ainda leva homens a matarem mulheres indefesas em muitos pa\u00edses.<\/p>\n

\u00a0Nota:<\/u> O Duelo<\/em>, 1820, obra de Francisco de Goya\/ Duelo de Cavaleiros<\/em>, 1824, obra de Delacroix<\/p>\n

Fonte de pesquisa
\n<\/u>Os Anjos Bons de Nossa Natureza\/ Steven Pinker\/ Editora Companhia das Letras<\/p>\n

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