{"id":27585,"date":"2016-04-22T20:22:22","date_gmt":"2016-04-22T23:22:22","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=27585"},"modified":"2022-08-14T20:29:47","modified_gmt":"2022-08-14T23:29:47","slug":"bela-recatada-e-do-lar","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/bela-recatada-e-do-lar\/","title":{"rendered":"BELA, RECATADA E DO LAR…"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"bela\"<\/a><\/p>\n

Segundo o fil\u00f3sofo, historiador e escritor estadunidense William James Durant (1885-1981), conhecido mundialmente, sobretudo pela obra \u201cA Hist\u00f3ria da Civiliza\u00e7\u00e3o\u201d<\/em>, em coautoria com sua incans\u00e1vel e batalhadora esposa Ariel Durant (1898-1981), a mulher foi a respons\u00e1vel por despertar no homem o instinto de agregar-se e fixar-se \u00e0 terra, ap\u00f3s ter dado in\u00edcio \u00e0 agricultura, ainda que de forma bem rudimentar, nos locais em que se detinham temporariamente. Ela foi t\u00e3o importante nas sociedades primitivas, que o progresso econ\u00f4mico foi muito mais fruto da mulher do que do homem. Foi respons\u00e1vel n\u00e3o apenas pela agricultura, iniciada ao redor dos acampamentos, mas tamb\u00e9m pelas artes caseiras e pela transforma\u00e7\u00e3o dessas em ind\u00fastria e pela domestica\u00e7\u00e3o de animais. A mulher preparou os alicerces para a civiliza\u00e7\u00e3o. E nem mesmo \u00e9 poss\u00edvel mensurar seu papel na cria\u00e7\u00e3o dos filhos.<\/p>\n

No est\u00e1gio da ca\u00e7a, todo o trabalho restante era de responsabilidade das mulheres. Quando os ca\u00e7adores chegavam, extenuados pelo cansa\u00e7o, limitavam-se a descansar, enquanto a elas cabia a tarefa de limpar, cozer ou moquear as presas, e ainda tratar os ferimentos que os seus homens tivessem. Durante as guerras, cabia \u00e0s mulheres, seguindo atr\u00e1s de seus homens, carregar todo o equipamento de sobrevida, exceto as armas (para que os guerreiros n\u00e3o fossem pegos de emboscada), a fim de que esses n\u00e3o ficassem cansados na hora do ataque. Al\u00e9m disso, durante os intervalos da luta, deles cuidavam, tanto no que diz respeito \u00e0 alimenta\u00e7\u00e3o quanto aos ferimentos do corpo, e ainda lhes proporcionavam prazer atrav\u00e9s do coito. E, mesmo naquela \u00e9poca, casos excepcionais mostram mulheres na chefia de algumas tribos, enquanto em algumas outras havia at\u00e9 um conselho de mulheres mais velhas.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 um \u00fanico per\u00edodo na hist\u00f3ria da humanidade em que a mulher (ainda que em menor n\u00famero) n\u00e3o tenha sa\u00eddo de casa para ir \u00e0 luta, em diferentes lugares do mundo. E assim vem atravessando os tempos, seja aqui ou acol\u00e1. Mas tomando como exemplo o Brasil, mesmo nos tempos do coronelismo \u201c\u00e0s claras\u201d, \u00e9 bom que se diga, muitas mulheres protestaram pelos seus direitos e pelos direitos de outras mulheres. E nem mesmo a \u201cditadura brasileira\u201d proibiu que mulheres trabalhassem fora de casa.<\/p>\n

Todo este pr\u00f3logo, come\u00e7ando pelo per\u00edodo em que o homem era ca\u00e7ador\/coletor at\u00e9 chegar aos dias de hoje, deve-se \u00e0 minha repugn\u00e2ncia diante da fal\u00e1cia de certa revista de \u00e2mbito nacional, ao tentar asseverar, ainda que entrelinhas, que a mulher que \u00e9 \u201cbela\u201d, \u201crecatada\u201d e \u201cdo lar\u201d \u00e9 a ideal, o exemplo a ser seguido pela \u201ccorte\u201d. As demais, aquelas que est\u00e3o trabalhando nas f\u00e1bricas, nas escolas, nos hospitais, nas lavanderias, nas casas de fam\u00edlias, nos escrit\u00f3rios, nas lojas, nas constru\u00e7\u00f5es, nas ruas, ocupando cargos p\u00fablicos (quaisquer que sejam eles) e tantos outros of\u00edcios, n\u00e3o s\u00e3o merecedoras\u00a0 de elogios, principalmente se forem \u201cfeias\u201d e \u201cimpudicas\u201d. Engana-se quem v\u00ea a\u00ed apenas uma ofensa \u201cdireta\u201d a outrem. Esta declara\u00e7\u00e3o atinge todas n\u00f3s, mulheres, que lutamos por dignidade, por um espa\u00e7o na sociedade e, sobretudo, por respeito, indiferentemente da cor de nossa pele, cabelos, tipo f\u00edsico, idade, op\u00e7\u00f5es sexuais, etc., quer fiquemos em casa ou n\u00e3o.<\/p>\n

A declara\u00e7\u00e3o infeliz de que a senhora \u201cX\u201d ou \u201cY\u201d \u00e9 \u201cbela, recatada e do lar\u201d, al\u00e9m de botar \u00e0 vista um doentio e malcheiroso \u201cpuxa-saquismo\u201d,\u00a0 \u00e9 tamb\u00e9m perversa com aquelas trabalhadoras que n\u00e3o podem ter m\u00e3os lisas, corpos massageados, treinadores pessoais, unhas porcelanizadas, cabelos embelezados por sal\u00f5es famosos (que cobrariam mais do que um m\u00eas de trabalho de muitas brasileiras, por uma \u00fanica visita), sapatos e roupas finos e importados, joias \u00edmpares, e tudo isso que tanto faz pela \u201cbeleza\u201d das celebridades. Trata-se realmente de uma afirmativa leviana. Mas fazendo uso de um pouquinho do cerebelo de quem escreveu tamanha asneira, gostaria de saber: 1- Em que o substantivo \u201cbeleza\u201d pesa no quesito \u201ccapacidade\u201d? 2- Em que o adjetivo \u201crecatada\u201d exerce influ\u00eancia no requisito \u201ccompet\u00eancia\u201d? Observe bem, caro leitor, n\u00e3o estou me referindo a certos empregos adquiridos por outros vieses t\u00e3o conhecidos neste pa\u00eds. Estou na defesa de todas as mulheres que saem de casa para trabalhar e ajudar suas fam\u00edlias e que n\u00e3o s\u00e3o \u00a0apenas \u201cdo lar\u201d. Tamb\u00e9m nada tenho contra aquelas que podem se dar ao luxo de ficar em casa, dirigindo seu \u201cstaff\u201d de empregados ou que, por motivos diversos, n\u00e3o podem trabalhar fora.<\/p>\n

Vou ficar aqui \u201cconversando com os meus bot\u00f5es\u201d, refletindo em como \u00e9 poss\u00edvel, em pleno s\u00e9culo XXI, algu\u00e9m dizer que uma mulher \u00e9 \u201cdo lar\u201d (Aur\u00e9lio: de prendas dom\u00e9sticas<\/em>)? Isso soa como se a pessoa estivesse fossilizada e, repentinamente, emergisse do tempo do rococ\u00f3, bem antes do final do s\u00e9culo XIX, \u00e9poca em que teve in\u00edcio a Revolu\u00e7\u00e3o Industrial em nosso pa\u00eds, que j\u00e1 exista na Europa desde meados do s\u00e9culo XVIII. Essa express\u00e3o \u00e9 t\u00e3o antediluviana, antiquada, pr\u00e9-hist\u00f3rica, matusal\u00eamica e bolorenta que at\u00e9 minha bisav\u00f3 teria vergonha em us\u00e1-la, se viva fosse.<\/p>\n

Nota: imagens copiadas de\u00a0\u00a0 www.em.com.br<\/a>;construtoramodulo.com.br<\/a> e portaldoprofessor.mec.gov.br<\/a><\/p>\n

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