{"id":27661,"date":"2016-05-11T01:45:06","date_gmt":"2016-05-11T04:45:06","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=27661"},"modified":"2022-08-14T20:50:26","modified_gmt":"2022-08-14T23:50:26","slug":"historiando-chico-buarque-calabar","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/historiando-chico-buarque-calabar\/","title":{"rendered":"Historiando Chico Buarque – CALABAR"},"content":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho <\/p>\n Est\u00e3o todos gordos\/ Sempre cem por cento cegos\/ Cem por cento surdos-mudos\/ Cem por cento sem perceber\/ A agonia\/ Da Luz\/ do Dia. (Chico Buarque)<\/em><\/strong><\/p>\n O povo do reino dividiu-se confuso quanto \u00e0s profecias do or\u00e1culo. Elas alardeavam que apocal\u00edpticos dias estavam para chegar, se toda a gente n\u00e3o permanecesse em vig\u00edlia. Diziam tamb\u00e9m que os c\u00e9us iriam se rasgar e o inferno subiria \u00e0 superf\u00edcie do solo, em labaredas de fogo que tragariam os mais fracos, incapazes de safarem-se da estupidez da tormenta que se avizinhava, pois n\u00e3o teriam mais nada em que se amparar.\u00a0 E disse mais: a maldade, a prepot\u00eancia, a mentira e a estupidez encontravam-se a caminho, travestidas com uma roupagem roubada do bem, bordada em letras garrafais as suas diferentes siglas. O tempo era escasso e urgia que atitudes fossem tomadas.<\/p>\n Indiferentes, os fortes, querendo manter seus servos no eito e totalmente atracados \u00e0 \u00edndole avara, clamavam por mais poder, mesmo \u00e0 custa da derrocada do reino. Eles estamparam nas telas e jornais a seus servi\u00e7os, que os aug\u00farios eram inverdades. Espalharam pelas f\u00e1bricas, bancos, constru\u00e7\u00f5es, hospitais e escolas que tudo aquilo era uma genu\u00edna fantasia dos artistas e intelectuais, gente que n\u00e3o queria ver o reino na opul\u00eancia, que somente eles poderiam proporcionar.\u00a0 Disseram-lhes para ficar tranquilos, pois doravante todo o reino gozaria de uma prosperidade jamais vista, e que eles, os trabalhadores, nada tinham com que se preocupar.<\/p>\n Uma parte dos camponeses ouviu o apelo, enquanto a outra fez ouvidos moucos aos press\u00e1gios do or\u00e1culo. Um grupo de pessoas corajosas alertava para o flagelo a caminho, que estava a fazer ninho justamente nos galhos da ignor\u00e2ncia e da descren\u00e7a do povo. At\u00e9 mesmo profecias sobre a cat\u00e1strofe anunciada, vindas das mais distantes regi\u00f5es da Terra, \u00e0quele reino chegavam. E mesmo assim nem todos os fracos importaram-se. Uns at\u00e9 falavam com a ironia e o deboche dos fortes: \u201cNingu\u00e9m sabe de nada\/ Ningu\u00e9m viu nada<\/em>\u201d. Achavam que tudo era invencionice de quem os queria enganar, n\u00e3o passando de uma mentira fajuta e deslavada. Melhor seria fazer ouvidos de mercador, pois o reino livre de maus aug\u00farios encontrava-se.<\/p>\n Muito contristado e aborrecido, o or\u00e1culo chamou os incr\u00e9dulos de \u201ctolos\u201d. E previu que logo estariam a reclamar da sorte, dizendo que \u201cNingu\u00e9m fez nada\/ Ningu\u00e9m \u00e9 culpado\u201d.<\/em> Disse tamb\u00e9m que melhor seria falar aos \u201cBichos de estima\u00e7\u00e3o\/ Nesse jardim\u201d<\/em>. E dirigindo-se ao reino, o or\u00e1culo fez sua \u00faltima previs\u00e3o: \u201cVoc\u00ea\/ Seu ventre inchado\/ Ainda vai gerar\/ Um fruto errado\/ Um bonequinho\/ Um macaquinho de marfim\/ Castrado\u201d<\/em>. E desapareceu, deixando atr\u00e1s de si apenas o campo aberto para o caos anunciado.<\/p>\n As predi\u00e7\u00f5es aconteceram tal e qual a vaticina\u00e7\u00e3o do or\u00e1culo. Durante muito tempo s\u00f3 se viu \u201cA Agonia\/ Da luz\/ Do dia\u201d<\/em> e o solu\u00e7ar dos camponeses, pois tudo lhes foi tirado. O reino, antes admirado, virou piada em todo o mundo, depois de totalmente estilha\u00e7ado. Os grandes, em luta, digladiaram-se pelo poder, at\u00e9 que ca\u00edram os corruptos, traidores e safados, um ap\u00f3s o outro. A “Justi\u00e7a” virou letra morta. Mas uma nova civiliza\u00e7\u00e3o come\u00e7ou a brotar, depois do banho de sangue\u00a0 com que o solo do reino fora lavado. E livres da opress\u00e3o dos fortes veio um governo do povo, para o povo e pelo povo. E foi assim que nasceu um mundo novo num reino chamado Brasil!<\/p>\n E Calabar? – perguntaram alguns.<\/p>\n O or\u00e1culo reapareceu para responder:<\/p>\n – Est\u00e1 no lugar que lhe foi reservado – o dos traidores da p\u00e1tria!<\/p>\n Nota:<\/span> Letra de uma can\u00e7\u00e3o de Chico Buarque, can\u00e7\u00e3o essa que foi censurada pela ditadura.<\/p>\n Views: 2<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria de Lu Dias Carvalho Est\u00e3o todos gordos\/ Sempre cem por cento cegos\/ Cem por cento surdos-mudos\/ Cem por cento sem perceber\/ A agonia\/ Da Luz\/ do Dia. (Chico Buarque) O povo do reino dividiu-se confuso quanto \u00e0s profecias do or\u00e1culo. Elas alardeavam que apocal\u00edpticos dias estavam para chegar, se toda a gente n\u00e3o permanecesse […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[41],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27661"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=27661"}],"version-history":[{"count":11,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27661\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47061,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27661\/revisions\/47061"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=27661"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=27661"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=27661"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
\n<\/strong><\/p>\n