{"id":27968,"date":"2016-06-02T12:15:52","date_gmt":"2016-06-02T15:15:52","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=27968"},"modified":"2022-08-14T20:57:38","modified_gmt":"2022-08-14T23:57:38","slug":"historiando-chico-buarque-construcao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/historiando-chico-buarque-construcao\/","title":{"rendered":"Historiando Chico Buarque \u2013 CONSTRU\u00c7\u00c3O"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"chico\"<\/a><\/p>\n

Amou daquela vez como se fosse a \u00faltima\/ Beijou sua mulher como se fosse a \u00faltima\/ E a cada filho seu como se fosse o \u00fanico.\u201d (Chico Buarque)<\/em><\/strong><\/p>\n

Os arranha-c\u00e9us pipocando por todos os lados eram a marca mais vis\u00edvel do poderio do capitalismo. O dia ainda nem nascera e filas de oper\u00e1rios sonolentos j\u00e1 aguardavam nos pontos escuros da distante periferia a condu\u00e7\u00e3o para o trabalho. Eram milhares de Jo\u00e3os, Joaquins, Man\u00e9s e Jos\u00e9s, sendo imposs\u00edvel nomin\u00e1-los. Todos eles frutos da mesma sina, irm\u00e3os do mesm\u00edssimo amargor. A cada dia subiam mais alto na vida, engatados nos possantes andaimes a cruzar os ares. Embaixo, o v\u00e3o da morte a rond\u00e1-los diariamente.<\/p>\n

O oper\u00e1rio acordou com um pressentimento ruim. Antes de levantar-se do catre, sentiu um imenso desejo de fazer amor com sua mulher. E \u201cAmou daquela vez como se fosse a \u00faltima\u201d.<\/em> Levantou-se apressado, com medo perder a hora, e \u201cBeijou sua mulher como se fosse a \u00faltima\/ E a cada filho seu como se fosse o \u00fanic\u201d<\/em>. No outro lado da rua, alguns colegas de igual sorte j\u00e1 o esperavam: \u201cE atravessou a rua com seu passo t\u00edmido\u201d<\/em>.<\/p>\n

Chegou ao ainda esquel\u00e9tico arranha-c\u00e9u, j\u00e1 cansado pelo esgotante trajeto e obsoleta condu\u00e7\u00e3o. E sem perda de tempo \u201cSubiu a constru\u00e7\u00e3o como se fosse m\u00e1quina\/ Ergueu no patamar quatro paredes s\u00f3lidas\/ Tijolo com tijolo num desenho m\u00e1gico\u201d<\/em>. Poucos repararam nos \u201cSeus olhos embotados de cimento e l\u00e1grima\u201d<\/em>. Que vida danada de cruenta, meu Deus!<\/p>\n

Uma sirene avisou ao oper\u00e1rio que era hora do rango e ele \u201cSentou pra descansar como se fosse s\u00e1bado\/ Comeu feij\u00e3o com arroz como se fosse um pr\u00edncipe\/ Bebeu e solu\u00e7ou como se fosse um n\u00e1ufrago\u201d. <\/em>Da altura em que se encontrava acreditou que poderia at\u00e9 tocar na m\u00e3o de Deus. Por isso, \u201cDan\u00e7ou e gargalhou como se ouvisse m\u00fasica\u201d. <\/em>Mas desequilibrou-se \u201cE trope\u00e7ou no c\u00e9u como se fosse um b\u00eabado\/ E flutuou no ar como se fosse um p\u00e1ssaro\/ E se acabou no ch\u00e3o feito um pacote fl\u00e1cido\u201d<\/em>.<\/p>\n

Sem socorro, o oper\u00e1rio \u201cAgonizou no meio do passeio p\u00fablico.\u201d<\/em>, enquanto os condutores de luxuosos autom\u00f3veis reclamavam que aquele traste \u201cMorreu na contram\u00e3o atrapalhando o tr\u00e1fego\u201d<\/em>. Somente os companheiros apiedaram-se do irm\u00e3o, cujos restos boiavam em meio a uma po\u00e7a de sangue escuro. Rodearam-no. Mas o patr\u00e3o obrigou-os a voltar ao trabalho, sob amea\u00e7a de demiss\u00e3o por justa causa. Manda quem pode e obedece quem precisa! \u00c9 a vida!<\/p>\n

Ainda bem que o oper\u00e1rio \u201cAmou daquela vez como se fosse o \u00faltimo\/ Beijou sua mulher como se fosse a \u00fanica\/ E cada filho seu como se fosse o pr\u00f3digo\u201d<\/em>. N\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil, portanto, entender porque \u201c(E) atravessou a rua com seu passo b\u00eabado\u201d<\/em> Seus colegas contam que ele \u201cSubiu a constru\u00e7\u00e3o como se fosse s\u00f3lido\/ Ergueu no patamar quatro paredes m\u00e1gicas\/ Tijolo com tijolo num desenho l\u00f3gico\u201d<\/em>, e muitos viram seus \u201cSeus olhos embotados de cimento e tr\u00e1fego\u201d<\/em>. E que depois, ele se \u201cSentou pra descansar como se fosse um pr\u00edncipe\/ Comeu feij\u00e3o com arroz como se fosse o m\u00e1ximo\/ Bebeu e solu\u00e7ou como se fosse m\u00e1quina\/ Dan\u00e7ou e gargalhou como se fosse o pr\u00f3ximo\u201d. <\/em><\/p>\n

Um dos Man\u00e9s ou Jos\u00e9s observou quando \u201cEle trope\u00e7ou no c\u00e9u como se ouvisse m\u00fasica\/ E flutuou no ar como se fosse s\u00e1bado\/ E se acabou no ch\u00e3o feito um pacote t\u00edmido\u201d<\/em>. Mas tamb\u00e9m os Jo\u00e3os e Joaquins viram quando ele \u201cAgonizou no meio do passeio n\u00e1ufrago\u201d <\/em>E \u201cMorreu na contram\u00e3o atrapalhando o p\u00fablico\u201d<\/em>.<\/p>\n

Durante dias n\u00e3o houve uma s\u00f3 constru\u00e7\u00e3o em que n\u00e3o se comentasse que o oper\u00e1rio \u201cAmou daquela vez como se fosse m\u00e1quina\/ Beijou sua mulher como se fosse l\u00f3gico\/ Ergueu no patamar quatro paredes fl\u00e1cidas\/ Sentou pra descansar como se fosse um p\u00e1ssaro\/ E flutuou no ar como se fosse um pr\u00edncipe\/ E se acabou no ch\u00e3o feito um pacote b\u00eabado\/ Morreu na contram\u00e3o atrapalhando o s\u00e1bado\u201d<\/em>. At\u00e9 que uma nova\u00a0 desgra\u00e7a aconteceu e essa foi esquecida. E depois mais outra, e outra, e outra…<\/p>\n

Obs.:<\/u> Ou\u00e7a a m\u00fasica\u00a0 CONSTRU\u00c7\u00c3O<\/a><\/p>\n

Nota:<\/span> imagem recebida via e-mail<\/p>\n

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Autoria de Lu Dias Carvalho Amou daquela vez como se fosse a \u00faltima\/ Beijou sua mulher como se fosse a \u00faltima\/ E a cada filho seu como se fosse o \u00fanico.\u201d (Chico Buarque) Os arranha-c\u00e9us pipocando por todos os lados eram a marca mais vis\u00edvel do poderio do capitalismo. O dia ainda nem nascera e […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[41],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27968"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=27968"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27968\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47073,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/27968\/revisions\/47073"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=27968"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=27968"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=27968"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}