Giovent\u00f9<\/em> \u00e9 uma obra fechada, ou seja, de dif\u00edcil compreens\u00e3o, que necessita da acuidade do observador para compreend\u00ea-la.<\/p>\nEliseu Visconti usou, em sua composi\u00e7\u00e3o, uma paisagem outonal para inserir sua personagem, que ainda se encontra na puberdade, em primeiro plano. Ela est\u00e1 assentada em uma lage, banhada pela luz da manh\u00e3, de frente para o observador, fitando-o tranquilamente, como se dele estivesse muito pr\u00f3xima. Traz o bra\u00e7o direito levantado em dire\u00e7\u00e3o ao rosto, tocando o queixo com o dedo indicador, no qual enrola um cacho dourado dos longos cabelos, que lhe caem pelas costas e ombros, enquanto a m\u00e3o esquerda descansa calmamente em seu colo. A jovem est\u00e1 coberta da cintura para baixo com um tecido transparente, e traz o dorso nu. Seus pequeninos seios mostram que ainda se encontram em forma\u00e7\u00e3o. Ela se mostra cismativa e meio tristonha.<\/p>\n
O bosque, que se descortina atr\u00e1s da jovem, serve de pano de fundo para a sua delicada figura. Ao contr\u00e1rio dela, cuja representa\u00e7\u00e3o possui volume e relevo, sendo minuciosamente trabalhada, o bosque e as pombas parecem figurar apenas como cen\u00e1rio teatral, pintados, digamos assim, grosseiramente. Tal tratamento faz com que a figura da jovem destaque-se ainda mais. Portanto, o tosco acabamento da pintura de fundo n\u00e3o se deve ao desmazelo do artista. Tudo foi intencional, a fim de contemplar seu objetivo.<\/p>\n
As pombas brancas, que fazem parte da narrativa crist\u00e3, como s\u00edmbolo da pureza, inoc\u00eancia e da espiritualidade, postam-se \u00e0 direita e \u00e0 esquerda da garota. Uma das tr\u00eas aves, \u00e0 direita, chega a encostar o bico no seu bra\u00e7o. \u00c9 poss\u00edvel perceber que elas atravessam a composi\u00e7\u00e3o da esquerda para a direita, passando por tr\u00e1s da jovem. As aves s\u00e3o atributos, no caso, da juventude, que \u00e9 inocente, sublime e passageira. As flores de murta, vistas atr\u00e1s da garota, remetem \u00e0 primavera da vida adulta. \u00c0 direita da jovem figura um pequeno curso de \u00e1gua, atr\u00e1s da folhagem, que remete, em sentido figurado, ao caminho da vida.<\/p>\n
Normalmente na tradi\u00e7\u00e3o pict\u00f3rica, o rosto e as m\u00e3os, as partes mais expressivas da figura humana, possuem um acabamento mais refinado. Por\u00e9m, aqui n\u00e3o \u00e9 o caso, pois tal detalhamento deve-se \u00e0 sua import\u00e2ncia simb\u00f3lica. Em sua an\u00e1lise, Rafael Cardoso chama a aten\u00e7\u00e3o para o remate da m\u00e3o que jaz no colo, explicando que ela serve de contato entre a figura e o observador. E, ao pegar essa m\u00e3o, ele sobe com os olhos pelo antebra\u00e7o esquerdo da jovem, chega ao queixo apontado por ela, e termina na boca de carmesim, cor mais forte e quente, local onde se d\u00e1 a transi\u00e7\u00e3o entre a inoc\u00eancia e a maturidade que se aproxima.<\/p>\n
A conclus\u00e3o a que chega o perspicaz observador, ao analisar este quadro, \u00e9 a de que ele n\u00e3o representa coisas reais, mas t\u00e3o somente ideias abstratas. Tudo \u00e9, portanto, simb\u00f3lico, bastando ponderar sobre o modo como o artista fez sua pintura, ou seja, o tratamento pict\u00f3rico dado a ela.<\/p>\n
Ficha t\u00e9cnica
\n<\/u>Ano: 1898
\nT\u00e9cnica: \u00f3leo sobre tela
\nDimens\u00f5es: 65 x 49 cm
\nLocaliza\u00e7\u00e3o: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil<\/p>\n
Fonte de Pesquisa
\n<\/u>A arte brasileira em 25 quadros\/ Rafael Cardoso
\nEliseu Visconti\/ Cole\u00e7\u00e3o Folha<\/p>\n
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Autoria de Lu Dias Carvalho \u201cGiovant\u00f9\u201d \u00e9 um dos quadros mais intrigantes da hist\u00f3ria da arte p\u00e1tria. Guardada as devidas propor\u00e7\u00f5es, poderia ser definido como uma esp\u00e9cie de \u201cLa Gioconda Brasileira\u201d. (Rafael Cardoso) \u00a0O esplendor da vida ardendo no seu franzino busto de menina a se fazer mo\u00e7a. (Gonzaga Duque) \u00a0A composi\u00e7\u00e3o simbolista Giovant\u00f9, exposta […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[28],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/28572"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=28572"}],"version-history":[{"count":3,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/28572\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47152,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/28572\/revisions\/47152"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=28572"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=28572"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=28572"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}