{"id":29628,"date":"2016-09-15T00:15:47","date_gmt":"2016-09-15T03:15:47","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=29628"},"modified":"2022-08-15T21:51:20","modified_gmt":"2022-08-16T00:51:20","slug":"thoreau-e-as-roupas-novas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/thoreau-e-as-roupas-novas\/","title":{"rendered":"THOREAU E AS ROUPAS NOVAS"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"teasron\"<\/a><\/strong><\/p>\n

Os homens geralmente preocupam-se mais em ter roupas elegantes […] do que em ter uma consci\u00eancia limpa. (Thoreau)<\/em><\/strong><\/p>\n

\u00a0Somente quem vai a soir\u00e9es e bailes legislativos precisa de casaca nova, mudando de casaca com a mesma frequ\u00eancia com que muda o homem dentro dela. ( Thoreau)<\/em><\/strong><\/p>\n

Se o vestu\u00e1rio em seus prim\u00f3rdios tinha por objetivo manter o calor vital e cobrir a nudez, isso n\u00e3o deve ter durado muito tempo, pois os arm\u00e1rios e guarda-roupas estufam-se mais e mais. Foi-se o tempo em que uma pe\u00e7a de roupa, de tanto ser usada, moldava-se ao corpo do dono, oferecendo-lhe conforto e trazendo impresso o seu car\u00e1ter. Hoje, na grande maioria das vezes, tem sentido oposto, ou seja, o de camuflar os tra\u00e7os particulares inapropriados de certos usu\u00e1rios e usur\u00e1rios num mundo em que o \u201cter\u201d a qualquer pre\u00e7o d\u00e1 as cartas, suplantando o humilde e cada vez mais envergonhado “ser” que cada vez se consome diante da prepot\u00eancia do “eu”.<\/p>\n

O estadunidense Henry David Thoreau <\/em>(1817-1862) que foi historiador, fil\u00f3sofo e pesquisador, dentre outros predicados, questiona \u201cat\u00e9 que ponto os homens conservariam sua posi\u00e7\u00e3o social se tirassem suas roupas\u201d<\/em>, ou seja, se passassem a andar nus.\u00a0 Eu me embrenho em tal indaga\u00e7\u00e3o e dou boas risadas imaginando uns \u201ccertos tais\u201d pelad\u00f5es, com suas protuber\u00e2ncias e penduricalhos \u00e0 vista, e “outras tais” desprovidas de balangand\u00e3s, mas turbinadas como um foguete da NASA. Ser\u00e1 que a emp\u00e1fia, a prepot\u00eancia e a arrog\u00e2ncia ainda permaneceriam vis\u00edveis? Seria poss\u00edvel separar os \u201csem classe\u201d dos pertencentes \u00e0s\u00a0 \u201cclasses respeit\u00e1veis\u201d? Ser\u00e1 que as autoridades n\u00e3o passariam a ser apenas \u201cotoridades\u201d? Concluo ent\u00e3o que a roupa \u00e9 um \u00e1libi para esconder a real natureza humana, mas n\u00e3o para os pobrecos que as t\u00eam em quantidade t\u00e3o pequena que essas j\u00e1 trazem a modelagem do corpo e seu car\u00e1ter impressos. N\u00e3o \u00e9 pela roupa que a pol\u00edcia avalia o infrator? Se malvestido: “Teje” preso! Se elegante: Pode passar, “dot\u00f4”! Se mal arrumado: \u00c9 bandido! Se donairoso: Esse \u00e9 gente de bem! E assim, navega a humanidade atrav\u00e9s das apar\u00eancias.<\/p>\n

Thoreau tamb\u00e9m nos p\u00f5e em xeque-mate quando pergunta: \u201cSe o homem n\u00e3o \u00e9 um novo homem, como as roupas novas v\u00e3o lhe servir?\u201d<\/em>. De nada adianta ser por fora bela viola e por dentro p\u00e3o bolorento, dizia meu av\u00f4 acerca dos\u00a0 janotas de seu tempo. Tadinho, se vivesse hoje ficaria decepcionado, pois adianta muito, desde que junto \u00e0 vestimenta pomposa seja anexado um \u201cdr.\u201d ou um \u201cnobre colega\u201d, ainda que dos mais fajutos, sem classe alguma. Vindo em defendimento do meu avozinho, Thoreau adverte-me: \u201cCuidado com todas as atividades que requerem roupas novas em vez de um novo usu\u00e1rio das roupas.\u201d<\/em>. Isto \u00e9 verdade! N\u00e3o se pode usar as roupas novas como embu\u00e7o para os ardis prontos para serem perpetrados contra os que s\u00f3 podem usar roupas velhas. Mas \u00e9 assim que anda a carruagem!<\/p>\n

Existem \u201ccertos tais\u201d \u2013 alcunhados de defensores p\u00fablicos ou de representantes do povo \u2013 que usam uma montanha de roupas novas, pagas pelo mesmo povo que espolia, encomendando suas vestiduras \u00a0sob medida para esconder o seu car\u00e1ter nato e question\u00e1vel. Seria bom que eles se indagassem, como fazia Thoreau: \u201cDe que adianta tirar minhas medidas, se elas n\u00e3o medem meu car\u00e1ter, mas apenas a largura de meus ombros?\u201d<\/em>. O nosso personagem tamb\u00e9m n\u00e3o deixa de dar uma cutucada nas gera\u00e7\u00f5es posteriores, quando sabiamente diz: \u201cToda gera\u00e7\u00e3o ri das modas antigas, mas segue religiosamente (e pateticamente) as novas.\u201d<\/em>. O mais constrangedor \u00e9 que as gera\u00e7\u00f5es passadas ainda pareciam carregar um naco de autocr\u00edtica, coisa em desuso na de hoje.<\/p>\n

Aos sugadores do suor alheio, aos gatunos do er\u00e1rio p\u00fablico, aos janotas e outros semelhantes ensina Thoreau: \u201cToda roupa fora do corpo \u00e9 pat\u00e9tica ou grotesca. \u00c9 apenas o olhar s\u00e9rio e perscrutador no rosto acima dos trajes e a vida sincera sob eles que refreiam o riso e consagram a indument\u00e1ria.\u201d<\/em>. \u00c9 pelo fato de o bom car\u00e1ter encontrar-se em desuso que as pessoas s\u00e3o julgadas cada vez mais pelas roupas que usam e muito menos por aquilo que realmente s\u00e3o. E viva o nudismo!<\/p>\n

Fonte de pesquisa:
\n<\/u>Walden\/ H. D. Thoreau<\/p>\n

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