<\/a><\/p>\nUm rumorejo espalha-se por todo o povoado de Manarairema, em raz\u00e3o da visita de Am\u00e2ncio aos homens misteriosos. A demora \u00e9 vista como um sinal de bons press\u00e1gios, pois \u201cconversa demorada \u00e9 briga adiada\u201d. Sem falar que \u201cpara saber se numa moita tem on\u00e7a \u00e9 preciso chegar perto\u201d. E de longe, corre-se o risco de confundir veado com jaguar.<\/p>\n
O carroceiro Geminiano transformara-se num enigma para a gente do povoado. Muitas pessoas estavam de acordo que ele \u201candava escondendo leite\u201d, de modo que poderia dizer com seguran\u00e7a, se se tratava de on\u00e7a ou veado. Outros o defendiam, dizendo que os forasteiros n\u00e3o iriam lhe contar nada.<\/p>\n
Am\u00e2ncio surgia como a salva\u00e7\u00e3o da lavoura. Era muito esperto para ser posto para tr\u00e1s. Al\u00e9m disso, n\u00e3o era funcion\u00e1rio dos intrusos. Enquanto a turma, reunida na venda do audaz pesquisador, discutia o assunto, um menino, que chegara na garupa de uma besta de carga, contou que vira os homens jogando peteca com o vendeiro. A not\u00edcia gerou um reboli\u00e7o geral. Aquilo era invencionice do moleque que n\u00e3o tinha o que falar. Pois, se fosse verdade, estaria \u201ctudo confuso, tran\u00e7ado, sobrando pontas\u201d.<\/p>\n
Com o sol j\u00e1 a pino, Am\u00e2ncio entra na venda, trancado no seu antigo palavr\u00f3rio. Parece querer martirizar as pessoas, botando mais curiosidade nelas. Ao ser indagado sobre a ida ao acampamento, apenas responde \u201cFui e voltei. N\u00e3o fui mordido. Proseamos, brincamos. Gente aberta, sem p\u00e9-atr\u00e1s\u201d. E tratou logo de botar outro rumo na conversa. Ao ser atochado por Manuel, acrescentou: \u201cCompadre, eu vou lhe dizer uma coisa. Todo mundo estava comendo gamb\u00e1 errado. Se todo mundo aqui fosse como eles, Manarairema seria um peda\u00e7o de c\u00e9u, ou uma na\u00e7\u00e3o estrangeira.\u201d.<\/p>\n
Tal como as gentes pensavam de Geminiano, tamb\u00e9m passaram a pensar de Am\u00e2ncio. Ele estaria escondendo o leite, ou querendo ser bajulado pelos intrusos. O melhor seria dar o caso por encerrado e n\u00e3o tentar tirar dele nenhuma bisbilhotice. Seria chover no molhado, e ainda deix\u00e1-lo se sentido o tal. O caso estava morto morrido!<\/p>\n
Quando o sol j\u00e1 ia dando de banda, a carro\u00e7a de Geminiano estacionou na porta do vendeiro. Dela apearam tr\u00eas dos intrusos, muito bem vestidos, sendo recebidos com muito aprazimento pelo vendeiro. Logo ap\u00f3s, a porta foi fechada. E o mais estranho \u00e9 que essas visitas, de tanto se repetirem, acabaram caindo na rotina. Se havia algum fregu\u00eas na venda, ele sa\u00eda assim que os homens chegavam. Ningu\u00e9m mais se preocupava com o que acontecia ali. Tudo j\u00e1 fazia parte da usan\u00e7a do povoado.<\/p>\n
Um fato incomum come\u00e7ou a mexer com o ramerr\u00e3o de Manarairema. O carroceiro Geminiano, antes t\u00e3o calado e confiante, come\u00e7ou a rezingar. A princ\u00edpio, suas lam\u00farias foram vistas como parte de se cansa\u00e7o num servi\u00e7o que nunca tinha fim. At\u00e9 seu bom burro Serrote andava \u201cdesespiritado\u201d. O caldo entornou, quando a carro\u00e7a quebrou e metade da areia vazou para o ch\u00e3o. Desesperado, Geminiano deitou a solu\u00e7ar como crian\u00e7a. Suas l\u00e1grimas misturavam-se a seus rogos: \u201cO que \u00e9 que eu fa\u00e7o, meu pai. Como vou sair desta pris\u00e3o? N\u00e3o aguento mais. O meu rem\u00e9dio \u00e9 um tiro na cabe\u00e7a ou um copo de veneno\u201d.<\/p>\n
O carroceiro, pranteando, consertou a carro\u00e7a, ajuntou a areia e partiu para o acampamento com seu fiel amigo Serrote. Seus amigos ficaram para tr\u00e1s, tentando decifrar a causa da tristeza e revolta de Geminiano. Um deles falou condo\u00eddo: \u201cTempo de escravo j\u00e1 acabou.\u201d O outro completou: \u201cPor que n\u00e3o manda os homens pentear macaco?\u201d. Mas Dild\u00e9rio, sempre comedido, arrematou \u201cCada um sabe, onde morde o borrachudo.\u201d.<\/p>\n
O fato \u00e9 que n\u00e3o mais existia o Geminiano de antes. Alguma coisa o impedia de largar aquele servi\u00e7o. E, se assim fosse, estaria comendo o p\u00e3o que o diabo amassou com o rabo. Mas, \u201cse ele entrou no rio com os pr\u00f3prios p\u00e9s, por que n\u00e3o sa\u00eda tamb\u00e9m com os pr\u00f3prios p\u00e9s, se n\u00e3o estava chumbado?\u201d.<\/p>\n
Passa o tempo e os fatos se repetem: Geminiano carreteando areia, cada vez mais deprimido e taciturno. Am\u00e2ncio recebendo os homens do acampamento e fechando a porta, t\u00e3o rebarbativo como as suas visitas. E a gente do povoado sem saber qual era a incumb\u00eancia dos visitantes em Manarairema.<\/p>\n
Pe\u00e7o a meus nobres colaboradores que me ajudem a desvendar as seguintes pend\u00eancias:<\/p>\n
1. O que aconteceu, para aproximar o vendeiro Am\u00e2ncio dos homens misteriosos, a ponto de se tornarem amigos?<\/p>\n
2. Qual \u00e9 a causa da depress\u00e3o de Gemininiano?<\/p>\n
3. A que fim se destina a areia?<\/p>\n
A seguir o cap\u00edtulo 6…<\/p>\n
\n
Views: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Um rumorejo espalha-se por todo o povoado de Manarairema, em raz\u00e3o da visita de Am\u00e2ncio aos homens misteriosos. A demora \u00e9 vista como um sinal de bons press\u00e1gios, pois \u201cconversa demorada \u00e9 briga adiada\u201d. Sem falar que \u201cpara saber se numa moita tem on\u00e7a \u00e9 preciso chegar perto\u201d. E de […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[3],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/305"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=305"}],"version-history":[{"count":7,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/305\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45512,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/305\/revisions\/45512"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=305"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=305"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=305"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}