Qual \u00e9 o tamanho de um peda\u00e7o de barbante?<\/em>\u201d.<\/p>\nA compreens\u00e3o da pergunta \u00e9 f\u00e1cil. O que h\u00e1 de diferente \u00e9 a quebra do paradigma, dos padr\u00f5es, dos modelos usuais de refer\u00eancia, porque n\u00e3o fica expl\u00edcito o racioc\u00ednio de tamanhos ou medidas, com exatid\u00e3o ou n\u00fameros. E o que \u00e9 pior: A correta interpreta\u00e7\u00e3o do desafio, por se tratar de an\u00e1lise num\u00e9rica, poder\u00e1 ter milh\u00f5es de respostas. Todas elas poder\u00e3o ser precisas e matematicamente exatas. Ser\u00e1? Existe a percep\u00e7\u00e3o de que a resposta deve ser dada por meio do racioc\u00ednio matem\u00e1tico, conforme a dica fornecida. Mas a conclus\u00e3o oferece dificuldades. Superada a fase da compreens\u00e3o da pergunta, o leitor desafiado deveria procurar respostas al\u00e9m da gram\u00e1tica. \u00a0H\u00e1 dois exerc\u00edcios conjuntos na busca pela solu\u00e7\u00e3o:<\/p>\n
1) de criatividade, em que deve ser estimulado o racioc\u00ednio l\u00f3gico, ligado a \u201ctamanhos ou medidas\u201d, considerando que est\u00e1 expl\u00edcita na pergunta a palavra \u201ctamanho\u201d;<\/p>\n
2) de investiga\u00e7\u00e3o da sem\u00e2ntica (estudo do significado das palavras numa l\u00edngua). Nesse segundo caso, poderia haver outras significa\u00e7\u00f5es para o desafio, como a ambiguidade, por exemplo, que n\u00e3o \u00e9 o caso.<\/p>\n
Por exclus\u00e3o, a pessoa desafiada iria concluir que a resposta \u00e9 matem\u00e1tica, conforme foi alertada na dica. Assim, a solu\u00e7\u00e3o ficaria um pouco mais f\u00e1cil. O objetivo do desafio \u00e9 estimular a \u201cpensar diferente\u201d, com a quebra das refer\u00eancias que todos n\u00f3s usamos diariamente. No cotidiano, todos n\u00f3s pensamos de acordo com o que \u00e9 usual, com a familiaridade que temos com as palavras. Por isso, normalmente, n\u00e3o nos preocupamos com racioc\u00ednios desafiadores, pois a rotina humana torna o nosso c\u00e9rebro autom\u00e1tico na compreens\u00e3o de mundo. A fim de estimular a criatividade, dever\u00edamos aceitar, no m\u00ednimo, um desafio di\u00e1rio, principalmente com a an\u00e1lise do que ouvimos ou lemos, tentando descobrir outros significados das palavras.<\/p>\n
Uma boa sugest\u00e3o \u00e9 estudar a polissemia das palavras. Explico: a polissemia, ou polissemia lexical (do grego poli: “muitos”; sema: “significados”), s\u00e3o os v\u00e1rios significados que uma mesma palavra pode ter, de acordo com o contexto em que \u00e9 usada. Exemplos com a palavra \u201ccabe\u00e7a\u201d: quando digo \u201cSinto dores na cabe\u00e7a\u201d, todos compreender\u00e3o que \u201ccabe\u00e7a\u201d \u00e9 parte do corpo. Em outro contexto \u201cO cabe\u00e7a do bando \u00e9 Lampi\u00e3o\u201d, a palavra \u201ccabe\u00e7a\u201d tem o significado de l\u00edder. Mas a palavra muda completamente o significado se usada assim: \u201cAquele rapaz, al\u00e9m de \u2018cabe\u00e7a dura\u2019, ainda \u00e9 \u2018cabe\u00e7a oca\u2019.\u201d Quanta trag\u00e9dia de uma s\u00f3 vez, porque \u201ccabe\u00e7a dura\u201d significa que ele \u00e9 teimoso e \u201ccabe\u00e7a oca\u201d \u00e9 coisa de gente distra\u00edda, sem conte\u00fado.<\/p>\n
Consultar no dicion\u00e1rio a polissemia de palavras, diariamente, ser\u00e1 suficiente para aumentar de maneira expressiva o conhecimento sobre a l\u00edngua portuguesa. Al\u00e9m disso, pessoas que assim agem tornam-se mais cr\u00edticas, anal\u00edticas e, por conseguinte, mais cultas e inteligentes. O desafio mesmo \u00e9 deixar a pregui\u00e7a de lado.<\/p>\n
Na quest\u00e3o acima, o leitor pode descobrir a polissemia das palavras \u201ctamanho\u201d, \u201cpeda\u00e7o\u201d e \u201cbarbante\u201d, para tentar desvendar se o contexto da pergunta dar\u00e1 alguma solu\u00e7\u00e3o. No caso, por\u00e9m, o racioc\u00ednio oferece maior complexidade, pois a quest\u00e3o \u00e9 capciosa. A palavra \u201ctamanho\u201d pode ser um ind\u00edcio de que a pergunta n\u00e3o foi bem feita, de acordo com os v\u00e1rios significados que possui. Dessa maneira, pode exprimir muitas formas de grandeza como \u201caltura, dimens\u00e3o, envergadura, estatura, magnitude, massa, porte, volume\u201d.<\/p>\n
Ao perguntar \u201cqual \u00e9 o tamanho de um elefante?\u201d, certamente a grandeza a ser usada ser\u00e1 o peso (cinco toneladas) ou altura (tr\u00eas metros), mas e o comprimento do animal, algu\u00e9m se lembrar\u00e1 de perguntar? A pergunta, portanto, \u00e9 vaga. O racioc\u00ednio sobre o tamanho do elefante indica que as perguntas, para serem respondidas corretamente, devem ter precis\u00e3o. Da mesma forma, o uso da grandeza \u201ctamanho\u201d para expressar o \u201cpeda\u00e7o de barbante\u201d \u00e9 coisa vaga, pois \u201cbarbante\u201d tamb\u00e9m pode ser medido na grandeza massa (quilo), ou seja, a pergunta foi imprecisa. No caso do barbante a pergunta correta \u00e9: \u201cQual \u00e9 o comprimento de um barbante?\u201d Assim, n\u00e3o ir\u00e1 gerar d\u00favidas na resposta, porque comprimento \u00e9 a extens\u00e3o do barbante.<\/p>\n
A resposta surpreende. O comprimento de um peda\u00e7o de barbante \u00e9 duas vezes a sua metade; ou um d\u00e9cimo do seu comprimento multiplicado por dez; ou tr\u00eas vezes o seu ter\u00e7o; ou quatro vezes o seu quarto; ou cem vezes o seu cent\u00e9simo; ou mil vezes o seu mil\u00e9simo e assim por diante, infinitamente… Talvez o desafio do texto produza no leitor mais confus\u00e3o que explica\u00e7\u00e3o. Mas aqueles, que tiverem disposi\u00e7\u00e3o para refletir e raciocinar, ter\u00e3o \u201clucro mental\u201d (o que \u00e9 isso?). \u00a0Xiii… \u00e9 melhor n\u00e3o complicar.<\/p>\n
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Autoria de Danilo Vilela Prado Algu\u00e9m poderia me responder \u201cQual \u00e9 o tamanho de um peda\u00e7o de barbante?\u201d. A compreens\u00e3o da pergunta \u00e9 f\u00e1cil. O que h\u00e1 de diferente \u00e9 a quebra do paradigma, dos padr\u00f5es, dos modelos usuais de refer\u00eancia, porque n\u00e3o fica expl\u00edcito o racioc\u00ednio de tamanhos ou medidas, com exatid\u00e3o ou n\u00fameros. […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[9],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/31215"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=31215"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/31215\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":31217,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/31215\/revisions\/31217"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=31215"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=31215"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=31215"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}