<\/a><\/p>\nA escritora americana Elizabeth Gilbert n\u00e3o poderia imaginar que o seu livro Comer, Rezar e Amar, lan\u00e7ado em 2006 e presente na lista dos mais lidos at\u00e9 hoje, e j\u00e1 traduzido para trinta idiomas, pudesse ser um best-seller, que viria a se transformar num filme. Provavelmente o sucesso do livro deve-se \u00e1 simplicidade da linguagem, ao fato de que muitas mulheres se identificaram com a hist\u00f3ria da autora e com a pregui\u00e7a de muitos para ler grandes obras da literatura.<\/p>\n
Na sua autobiografia, Elizabeth Gilbert conta como conseguiu superar o final de seu casamento, quando dele saiu sem o apartamento, o bom emprego jogado para o alto e emocionalmente para baixo. Em vez das comuns lam\u00farias de que se fazem v\u00edtimas as mulheres, ao sa\u00edrem de um relacionamento, a escritora diz que sacudiu a poeira, fez as malas e foi viajar mundo afora. Viveu em Roma, num retiro espiritual, na \u00cdndia e em Bali (Indon\u00e9sia). Resta lembrar que isso s\u00f3 \u00e9 permitido a quem tem dinheiro. Quem n\u00e3o o tem, o m\u00e1ximo que pode fazer \u00e9 visitar os parentes, at\u00e9 que eles se cansem do choror\u00f4 e mandem a lamentosa choramingar em outras freguesias. A\u00ed n\u00e3o tem reza que segure. No muito, pode comer at\u00e9 ficar balofa e mais cheia de rabugem.<\/p>\n
O fato \u00e9 que Liz Gilbert \u201csuperou\u201d t\u00e3o bem suas mazelas, que pouco tempo depois j\u00e1 estava casada com um nosso conterr\u00e2neo, Jos\u00e9 Lauro Nunes, ga\u00facho, apelidado de Felipe, embora ela tivesse jurado, de p\u00e9s juntos, que jamais voltaria a se casar. Como \u00e9 fugaz a const\u00e2ncia humana. A escritora est\u00e1 t\u00e3o bem, que j\u00e1 engatilhou um segundo livro, Comprometida, que mostra como ela anda mais feliz do que pinto no lixo.<\/p>\n
Voltando ao livro, Elizabeth Gilbert busca, atrav\u00e9s do autoconhecimento e da observa\u00e7\u00e3o das coisas do cotidiano, superar a \u201cbarra\u201d que estava passando, embora n\u00e3o tenha filhos. \u00c9 fato que, viajando por lugares desconhecidos e bonitos, a barra fica bem mais leve do que a de uma pobre mulher, sem len\u00e7o e nem documento, carregando uma prole chorosa nas costas, como as muitas donas gamb\u00e1s espalhadas pelo mundo.<\/p>\n
Comer, Rezar e Amar foi adaptado para o cinema e dirigido por Ryan Murphy, tendo Julia Roberts como protagonista, que faz par rom\u00e2ntico com Javier Bardem (interpreta o brasileiro Felipe), e levou parcos dez milh\u00f5es de d\u00f3lares pelo trabalho de comer, rezar e amar. Contam as m\u00e1s l\u00ednguas que J\u00falia tentou recusar o papel, mas acabou apaixonada pelo livro. E, com o maior sacrif\u00edcio, teve que viver cinco meses entre It\u00e1lia, \u00cdndia e Bali, percurso pavoroso vivido pela autora do livro.<\/p>\n
Mas falemos um pouco da hist\u00f3ria do marido \u201cbonach\u00e3o\u201d de Elizabeth Gilbert, pois foi ele o respons\u00e1vel pela origem de Comer, Rezar e Amar. N\u00e3o lhe render, ao menos, um par\u00e1grafo seria uma deslealdade para com os amantes do best-seller. Afinal, marido bom ou ruim tamb\u00e9m \u00e9 gente.<\/p>\n
Contam os anais da hist\u00f3ria que, certo dia, Liz levantou-se com a p\u00e1 virada e resolveu chamar o mo\u00e7oilo no arrocho. Ela estava se sentindo malditamente desafortunada, de modo que precisava partir em busca do seu eu interior. Iria mandar tudo pelos ares e botar o p\u00e9 na estrada, ou melhor, nos ares. De modo que o verdugo n\u00e3o entendeu muito bem o palavr\u00f3rio da dileta, mas nada fez para reter t\u00e3o \u201cinfeliz\u201d andeja. Sabia o r\u00e9probo que mulher, quando encasqueta, n\u00e3o h\u00e1 mandinga que d\u00ea jeito. De modo que a infausta foi obrigada a partir para a It\u00e1lia, lugar t\u00e3o pavoroso, para a \u00cdndia dos mil e um tormentos e para a o lugar mais feio do planeta, Bali. Como eu queria esse sofrimento!<\/p>\n
Mas nada se faz neste mundo, sem que o castigo venha a cavalo, alguns at\u00e9 de trem-bala. E assim se cumpriu a profecia: o brutamonte ficou sabendo que a sofrente havia fechado um contrato de duzentos mil d\u00f3lares com uma editora para, ao retornar a seu pa\u00eds, publicar a saga de seu calv\u00e1rio. E ele, o que ganharia como respons\u00e1vel pelo deslanchar das ideias da ex-mulher? Nadica de nada! E, para redobrar o castigo, ficou sabendo que as mem\u00f3rias da ex-esposa, em que ele \u00e9 o famigerado carrasco respons\u00e1vel pelo fim do id\u00edlio, havia se transformado num best-seller. E mais… num filme.<\/p>\n
Eu c\u00e1 com meus bot\u00f5es, estou morrendo de pena de Michael Cooper, o algoz, respons\u00e1vel por encher a conta de Liz com uma dinheirama de fazer inveja a qualquer mortal. Transformando-a de mulher desafortunada em afortunada mulher. O verdugo n\u00e3o possui nem mesmo uns trocados para encher a pan\u00e7a na It\u00e1lia dos sabores divinos, encontrar Shiva na multifacetada \u00cdndia e apreciar os pagodes (nada tem a ver com os nossos) da maravilhosa Bali.<\/p>\n
Segundo Ailin Aleixo, um jornalista da revista Alfa, se o protagonista da hist\u00f3ria fosse um homem, n\u00e3o seria reconhecido no planeta todo como um \u201cser forte, com coragem de enfrentar seus mais profundos questionamentos\u201d. Seria chamado de desgra\u00e7ado, apontado na rua como o bastardo que abandonou a mulher com uma desculpa esfarrapada e foi farrear mundo afora bancado por uma editora machista. Mas Elizabeth virou a Deepak das mocinhas (e das mulheres infelizes, completo eu)…<\/p>\n
Para quem n\u00e3o sabe, Michael Cooper \u00e9 um \u00e1rduo defensor dos direitos humanos, trabalho que vem fazendo ao longo de sua vida. J\u00e1 tendo viajado por Kosovo, Mong\u00f3lia, Ir\u00e3, Iraque e alguns pa\u00edses da \u00c1frica, ajudando as pessoas atingidas por conflitos armados e desastres naturais, mas sem jamais ter escrito um s\u00f3 livro sobre o assunto, pois tais hist\u00f3rias n\u00e3o interessam \u00e0 maioria do p\u00fablico.<\/p>\n
\u00c9 por estas e outras que eu me recuso a ler Comer, Rezar e Amar e, muito menos, a ver o filme. Os best-sellers, nos dias de hoje, t\u00eam deixado muito a desejar para a literatura. Esta \u00e9 a modernidade sem nenhuma profundidade. E (des)vivam os livros de auto-ajuda, essas estranhezas que entopem as estantes das livrarias e que todo mundo compra por causa da sele\u00e7\u00e3o dos 10+, que dificilmente s\u00e3o mesmo D+.<\/p>\n
Fonte de Pesquisa:
\n<\/span>Marie Clarie\/ outubro de 2010
\nAlfa\/ outubro\/2010<\/p>\nViews: 5<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho A escritora americana Elizabeth Gilbert n\u00e3o poderia imaginar que o seu livro Comer, Rezar e Amar, lan\u00e7ado em 2006 e presente na lista dos mais lidos at\u00e9 hoje, e j\u00e1 traduzido para trinta idiomas, pudesse ser um best-seller, que viria a se transformar num filme. Provavelmente o sucesso do livro […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[3],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/313"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=313"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/313\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45508,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/313\/revisions\/45508"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=313"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=313"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=313"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}