{"id":3131,"date":"2022-05-01T00:03:00","date_gmt":"2022-05-01T03:03:00","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=3131"},"modified":"2022-04-30T18:26:04","modified_gmt":"2022-04-30T21:26:04","slug":"quem-cala-consente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/quem-cala-consente\/","title":{"rendered":"QUEM CALA CONSENTE?"},"content":{"rendered":"

Autoria de Rosali Amaral
\n<\/b><\/p>\n

\"ziper\"<\/a><\/p>\n

Este \u00e9 mais um prov\u00e9rbio que faz parte da sabedoria popular e que merece uma reflex\u00e3o. Significa que aquele que n\u00e3o toma uma posi\u00e7\u00e3o diante de uma atitude concorda com a mesma. A express\u00e3o “Quien calla, otorga<\/i>” foi cunhada pelo 193\u00ba papa, Bonif\u00e1cio VIII, (aquele que conflitou com Dante Alighieri retratado por ele no inferno, em sua “Divina Com\u00e9dia”), no s\u00e9culo 13, entre 1294 e 1303, atrav\u00e9s de uma de suas decretais ou bulas em que respondia \u00e0s consultas populares.<\/p>\n

Nos textos b\u00edblicos era costume o fato de que bastava o sil\u00eancio de um pai para a aceita\u00e7\u00e3o e a homologa\u00e7\u00e3o de um voto feito pela filha sob sua tutela. Se algu\u00e9m escutasse uma blasf\u00eamia no meio do povo e n\u00e3o denunciasse, tornava-se c\u00famplice e poderia ser morto. No nosso meio jur\u00eddico existem v\u00e1rias situa\u00e7\u00f5es para a interpreta\u00e7\u00e3o do sil\u00eancio. Algumas s\u00e3o vistas como coniv\u00eancia, consentimento ou toler\u00e2ncia para com algu\u00e9m ou ato. Por exemplo, quando um r\u00e9u, que est\u00e1 sendo acusado por algum delito, e mesmo tendo provas contra si, permanece calado, \u00e9 considerado culpado. Temos tamb\u00e9m as leis que s\u00e3o validadas por excesso de prazo legal. Outro exemplo \u00e9 o do pai que se recusa a fazer o teste de DNA. Tal recusa, perante a lei redunda na confiss\u00e3o de que realmente \u00e9 o pai.<\/p>\n

Em certos ambientes de trabalho, funcion\u00e1rios s\u00e3o punidos por omiss\u00e3o e coniv\u00eancia, se souberem de fatos que possam causar preju\u00edzos \u00e0 empresa e n\u00e3o denunciarem. Muitos, no entanto, preferem se calar por medo de repres\u00e1lias e persegui\u00e7\u00f5es e at\u00e9 atentados contra suas vidas. Quando algu\u00e9m usa um subterf\u00fagio considerado imoral, que \u00e9 a explora\u00e7\u00e3o da boa vontade das pessoas, algumas delas n\u00e3o se manifestam por medo de serem severamente castigadas pelo explorador ou por incapacidade de se manifestarem, \u00e9 o caso das crian\u00e7as, dos idosos, dos doentes, ou dos mentalmente incapacitados.<\/p>\n

No \u00e2mbito psicol\u00f3gico cada ser humano tem um tipo de toler\u00e2ncia para verbalizar ideias, sentimentos e opini\u00f5es. E o calar tem v\u00e1rias facetas. Muitas vezes, quem cala \u00e9 porque concorda, mas pode ser tamb\u00e9m por falta de argumentos para se contrapor. Outras vezes, quando os fatos s\u00e3o \u00f3bvios e transparentes, n\u00e3o h\u00e1 necessidade de respostas nem explica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Quando algu\u00e9m magoa uma pessoa, ao ponto de extrapolar seus limites, ela reprime as emo\u00e7\u00f5es e n\u00e3o consegue extravasar os sentimentos e dor, devido ao seu temperamento introspectivo, ent\u00e3o surgem a tristeza e a ang\u00fastia. Neste caso, n\u00e3o seria melhor conversar com o respons\u00e1vel, colocando tudo em pratos limpos? Nem sempre. \u00c0s vezes \u00e9 melhor se calar, pois discutir pode significar trair valores morais e, com isso, sofrer mais ainda do que com a m\u00e1goa ou a dor reprimidas. H\u00e1 tamb\u00e9m vezes em que n\u00e3o vale a pena gastar energia \u00e0 toa.<\/p>\n

Trabalhar o interior e autoestima, perdoar, liberando-se dos sentimentos ruins pode ser mais vantajoso, principalmente quando certas pessoas j\u00e1 carregam dentro de si um preconceito e uma maldade na sua forma de encarar as pessoas e o mundo, antecipando suas conclus\u00f5es e julgamentos err\u00f4neos e injustos. A\u00ed o di\u00e1logo torna-se invi\u00e1vel. E se ele ocorrer ser\u00e1 intermin\u00e1vel, transformando-se numa briga acirrada em que cada um ir\u00e1 defender seus interesses e opini\u00f5es e n\u00e3o haver\u00e1 vencedor.<\/p>\n

Quando a pessoa se cala, qualquer argumento bate no vazio. Sinal de fraqueza, fuga ou medo de encarar o advers\u00e1rio? N\u00e3o, muitas vezes o sil\u00eancio \u00e9 a melhor resposta, demonstrando o dom\u00ednio do pr\u00f3prio eu. Quantas vezes j\u00e1 ouvimos o ditado de que “Quando um n\u00e3o quer dois n\u00e3o brigam<\/i>“? Ou mesmo, “Em boca fechada n\u00e3o entra mosquito<\/i>“? O sil\u00eancio pode servir como rem\u00e9dio que cura as duas partes, possibilitando uma avalia\u00e7\u00e3o de pensamentos, acusa\u00e7\u00f5es e a\u00e7\u00f5es e o rumo que isso nos leva.<\/p>\n

Nos dias de hoje, diversas vezes somos chamados a abra\u00e7ar uma causa, uma campanha, seja ela pol\u00edtica, social, moral, religiosa ou outra qualquer. N\u00e3o \u00e9 certo evitar o erro e se opor a ele, denunciando e combatendo-o ativamente? E quem permanece calado torna-se conivente com tal erro ou injusti\u00e7a e ajuda o mal a triunfar? Quem cala consente, \u00e9 conivente, \u00e9 covarde, \u00e9 prudente, \u00e9 passivo, \u00e9 medroso, ou quem cala n\u00e3o consente, n\u00e3o desmente, n\u00e3o se manifesta, n\u00e3o se envolve, n\u00e3o se compromete ou compromete-se? A decis\u00e3o \u00e9 de cada um, de acordo com a maneira como enxerga a vida.<\/p>\n

Fontes de Pesquisa<\/span>:
\nRevista Aventuras na Hist\u00f3ria – Abril Cultural
\n Catholic Encyclopedia \u2013 New Advent \u2013 Erica 1913.<\/span><\/p>\n

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