{"id":31498,"date":"2017-02-02T18:35:30","date_gmt":"2017-02-02T20:35:30","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=31498"},"modified":"2022-10-01T14:59:47","modified_gmt":"2022-10-01T17:59:47","slug":"acucar-mata-mais-que-cigarro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/acucar-mata-mais-que-cigarro\/","title":{"rendered":"A\u00c7\u00daCAR MATA MAIS QUE CIGARRO"},"content":{"rendered":"

Autoria de William Ecenbarger e Mary S. Aikins * <\/strong><\/p>\n

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H\u00e1 um setor que vende um produto que faz mal \u00e0 sa\u00fade. Uma gera\u00e7\u00e3o atr\u00e1s era o setor fumageiro, e o produto era o cigarro. Hoje \u00e9 o aliment\u00edcio cujo produto \u00e9 o a\u00e7\u00facar. O Dr. Aseem Malhotra \u2013 cardiologista em Londres \u2013 \u00e9 um dos l\u00edderes da campanha contra o a\u00e7\u00facar na Europa. Afirma que a ind\u00fastria de alimentos imitou o \u201croteiro corporativo\u201d da fumageira para rejeitar a regulamenta\u00e7\u00e3o. \u201cA \u00fanica diferen\u00e7a \u00e9 que, enquanto o fumo era evit\u00e1vel, o a\u00e7\u00facar atualmente \u00e9 quase inevit\u00e1vel.\u201d.<\/p>\n

O a\u00e7\u00facar adicionado \u2013 n\u00e3o o a\u00e7\u00facar natural que existe em frutas e legumes \u2013 est\u00e1 em tudo. Uma das maiores fontes s\u00e3o bebidas como refrigerantes, energ\u00e9ticos e sucos. No supermercado h\u00e1 a\u00e7\u00facar adicionado aos p\u00e3es, iogurtes, manteiga de amendoim, sopas, vinhos, salsichas \u2013 em quase todos os alimentos industrializados. Uma \u00fanica colher de sopa de Ketchup pode conter uma colher de ch\u00e1 de a\u00e7\u00facar. Helen Bond, nutricionista da Associa\u00e7\u00e3o Diet\u00e9tica Brit\u00e2nica diz: \u201c\u00c9 um marketing inteligente: palavras como \u2018frutose\u2019 fazem pensar que estamos reduzindo o a\u00e7\u00facar adicionado, mas o fato \u00e9 que estamos polvilhando a\u00e7\u00facar branco sobre a comida.\u201d Diz o Dr. Malhotra: \u201cEsse a\u00e7\u00facar a mais \u00e9 completamente desnecess\u00e1rio. Ao contr\u00e1rio do que a ind\u00fastria aliment\u00edcia quer que acreditemos, o organismo n\u00e3o precisa da energia de nenhum a\u00e7\u00facar adicionado.\u201d O Dr. Robert Lustig, endocrinologista pedi\u00e1trico do campus de San Francisco da Universidade da Calif\u00f3rnia e l\u00edder mundial da campanha contra o a\u00e7\u00facar, observa que o consumo mundial de a\u00e7\u00facar per capta aumentou 50%.<\/p>\n

No Brasil, segundo dados divulgados pelo Minist\u00e9rio da Sa\u00fade, o a\u00e7\u00facar adicionado representa 19% da ingest\u00e3o total de a\u00e7\u00facar do brasileiro e o excesso de a\u00e7\u00facar na dieta \u00e9 fator de risco para o desenvolvimento da obesidade, al\u00e9m de doen\u00e7as como o diabetes. Mais da metade da popula\u00e7\u00e3o brasileira (53,9%) est\u00e1 acima do peso. Entre as crian\u00e7as de 5 a 9 anos, um ter\u00e7o delas est\u00e1 com sobrepeso.<\/p>\n

\u201cHoje, nossa alimenta\u00e7\u00e3o tem tanto a\u00e7\u00facar adicionado, que o sistema metab\u00f3lico (que processa a energia) simplesmente n\u00e3o aguenta. Nosso corpo faz coisas diferentes com tipos diferentes de calorias. Na quantidade ingerida hoje, a frutose (a\u00e7\u00facar adicionado) \u00e9 armazenada principalmente como gordura. Em geral, essa gordura vai para a barriga\u201d, diz Lustig. O perigo para a sa\u00fade n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 a obesidade: h\u00e1 ind\u00edcios que ligam o a\u00e7\u00facar a doen\u00e7as hep\u00e1ticas, diabetes tipo 2, cardiopatias e c\u00e1ries. O setor de bebidas e alimentos continua a promover o a\u00e7\u00facar com muita publicidade de seus produtos a\u00e7ucarados.<\/p>\n

No ano passado, a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade (OMS) reafirmou a recomenda\u00e7\u00e3o anterior de que, num par\u00e2metro ideal, a ingest\u00e3o de a\u00e7\u00facar, fora aquele que existe naturalmente em frutas e legumes, n\u00e3o deveria exceder 10% da ingest\u00e3o total de energia (no Brasil, o consumo m\u00e9dio \u00e9 de 16,3%). Na alimenta\u00e7\u00e3o m\u00e9dia, 10% da ingest\u00e3o total de energia corresponderiam a umas 12 de colheres de ch\u00e1 de a\u00e7\u00facar por dia. Uma \u00fanica lata de 330 ml de refrigerante pode conter at\u00e9 10 colheres de a\u00e7\u00facar adicionado. \u201cTemos provas de que manter no limite de 10% a ingest\u00e3o de a\u00e7\u00facar livre reduz o risco de sobrepeso, obesidade e c\u00e1rie\u201d, disse o Dr. Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutri\u00e7\u00e3o para a Sa\u00fade e o desenvolvimento, da OMS, no comunicado em que apresentou o relat\u00f3rio \u00e0 imprensa mundial.<\/p>\n

O Conselho Internacional de Associa\u00e7\u00f5es de Fabricantes de Bebidas, um grupo de press\u00e3o do setor, rejeitou o relat\u00f3rio da OMS e fez o seguinte coment\u00e1rio: \u201cQuanto \u00e0 obesidade, n\u00e3o h\u00e1 qualquer base cient\u00edfica para tratar o a\u00e7\u00facar livre de forma diferente do a\u00e7\u00facar intr\u00ednseco (n\u00e3o adicionado).\u201d O Dr. Malhotra contesta: \u201cIsso n\u00e3o \u00e9 verdade. \u00c9 preciso levar em conta a qualidade dessas calorias. O a\u00e7\u00facar intr\u00ednseco ocorre em alimentos que trazem outros benef\u00edcios nutricionais.\u201d<\/p>\n

O sobrepeso e a obesidade em crian\u00e7as e a quantidade de alimentos a\u00e7ucarados que consomem s\u00e3o uma preocupa\u00e7\u00e3o dos profissionais da sa\u00fade. Uma medida que, segundo especialistas, pode fazer a diferen\u00e7a \u00e9 a redu\u00e7\u00e3o ou a suspens\u00e3o da publicidade desses alimentos durante a programa\u00e7\u00e3o infantil. A prov\u00edncia canadense do Quebec restringe esses an\u00fancios de junk food<\/em> na TV desde 1978. Hoje tem taxas de obesidade bem mais baixas que o resto do Canad\u00e1. Outros pa\u00edses que restringiram os comerciais de bebidas e flocos de milhos a\u00e7ucarados e outros alimentos nocivos nos hor\u00e1rios em que as crian\u00e7as assistem \u00e0 TV s\u00e3o Noruega, Su\u00e9cia, Dinamarca, M\u00e9xico e o Reino Unido. No entanto, uma an\u00e1lise constatou que, no Reino Unido, os fabricantes anunciam alimentos nocivos \u00e0s crian\u00e7as: na internet, em merchandising durante programas populares e em videogames.<\/p>\n

Na Europa, uma iniciativa estimulante para limitar a publicidade para crian\u00e7as \u00e9 o EU Pledge. As principais f\u00e1bricas de alimentos concordaram voluntariamente em limitar a publicidade de alimentos a\u00e7ucarados para crian\u00e7as at\u00e9 12 anos. Elas n\u00e3o fazem comerciais de TV nem an\u00fancios na internet para essa faixa et\u00e1ria e n\u00e3o vendem seus produtos em escolas prim\u00e1rias, o que representa uma mudan\u00e7a significativa da maneira como esses alimentos s\u00e3o vendidos a crian\u00e7as.<\/p>\n

Marlene Schwartz \u00e9 diretora do Centro Rudd para Pol\u00edticas Alimentares e Obesidade, organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos, sediada nos EUA, e dedicada a encontrar solu\u00e7\u00f5es na pesquisa e na pol\u00edtica para a obesidade, a m\u00e1 alimenta\u00e7\u00e3o e o preconceito ligado ao peso durante a inf\u00e2ncia. Ela diz que as diretrizes do EU Pledge \u201cn\u00e3o v\u00e3o suficientemente longe. O ideal seria ampli\u00e1-las para crian\u00e7as at\u00e9 14 anos.\u201d<\/p>\n

Outra \u00e1rea da publicidade de alimentos e bebidas \u00e0 qual o Dr. Malhotra se op\u00f5e \u00e9 a associa\u00e7\u00e3o entre produtos e atletas, t\u00e1tica usada pela ind\u00fastria fumageira h\u00e1 apenas 50 anos, quando atletas e celebridade eram contratados para endossar os cigarros. Ele questiona a permiss\u00e3o \u00e0 Coca-Cola para patrocinar as Olimp\u00edadas. A parceria da empresa com as Olimp\u00edadas come\u00e7ou em 1928 e foi estendida at\u00e9 2020. \u201cA Coca-Cola (…) associa seus produtos ao esporte, sugerindo que n\u00e3o h\u00e1 problema em consumir suas bebidas desde que se pratiquem exerc\u00edcios\u201d, escreveu o Dr. Malhotra recentemente na revista British Journal of Sports Medicine. \u201cMas n\u00e3o d\u00e1 para vencer a m\u00e1 alimenta\u00e7\u00e3o com corrida.\u201d<\/p>\n

Os defensores da sa\u00fade p\u00fablica dizem que duas abordagens bem-sucedidas na redu\u00e7\u00e3o do h\u00e1bito de fumar \u2013 educa\u00e7\u00e3o do consumidor e tributa\u00e7\u00e3o \u2013 s\u00e3o necess\u00e1rias no combate ao consumo excessivo de a\u00e7\u00facar. O M\u00e9xico criou um imposto de 10% sobre bebidas a\u00e7ucaradas e sua venda caiu 12% no primeiro ano. Na Fran\u00e7a um imposto sobre refrigerantes criado em 2012 resultou no decl\u00ednio gradual do consumo. A Noruega tributa alimentos e bebidas a\u00e7ucarados e divulga informa\u00e7\u00f5es h\u00e1 muitos anos, com bons resultados. Em mar\u00e7o deste ano, o chanceler brit\u00e2nico George Osborne anunciou a cria\u00e7\u00e3o de um imposto sobre bebidas a\u00e7ucaradas a ser cobrado de produtores e importadores de refrigerantes.<\/p>\n

Embora tenha havido algum sucesso com a tributa\u00e7\u00e3o, o setor de alimentos e bebidas continua a fazer press\u00e3o contra informar sobre o a\u00e7\u00facar adicionado ao consumidor \u2013 exatamente como fizeram as empresas fumageiras ao combaterem as tentativas do governo de p\u00f4r nas embalagens de cigarros mensagens alertando para o perigo de fumar (medida adotada tamb\u00e9m no Brasil).<\/p>\n

Uma abordagem proposta para solucionar a quest\u00e3o foi p\u00f4r nos r\u00f3tulos \u201csinais de tr\u00e2nsito\u201d \u2013 c\u00edrculos vermelhos, amarelos e verdes \u2013 para indicar a \u201csalubridade\u201d dos produtos aliment\u00edcios. Esse esquema, atualmente um programa volunt\u00e1rio bem-sucedido no Reino Unido, foi rejeitado pela maioria dos membros do Parlamento Europeu. \u201cAs pessoas n\u00e3o fazem ideia de quanto a\u00e7\u00facar ingerem\u201d, diz Ilaria Passarani, chefe do Departamento de Alimenta\u00e7\u00e3o e Sa\u00fade, uma entidade com sede em Bruxelas. Na esteira das preocupa\u00e7\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o ao a\u00e7\u00facar, a Associa\u00e7\u00e3o Brasileira das Ind\u00fastrias da Alimenta\u00e7\u00e3o (Abia) anunciaram recentemente que estudam um acordo para reduzir a quantidade de a\u00e7\u00facar nos alimentos processados, semelhante ao que \u00e9 feito com o sal. A primeira etapa deve come\u00e7ar em 2017, com an\u00e1lise das principais fontes de a\u00e7\u00facar na dieta dos brasileiros.<\/p>\n

Os ind\u00edcios contra o a\u00e7\u00facar e seus efeitos nocivos \u00e0 sa\u00fade continuam a se acumular, conforme os estudos s\u00e3o publicados. A Dra. Kimber Stanhope, bi\u00f3loga nutricional da Universidade da Calif\u00f3rnia, que completou em 2015 cinco anos de uma pesquisa que ligou o xarope de milho rico em frutose \u2013 comum nos Estados Unidos \u2013 ao aumento do risco de infarto e acidente vascular cerebral. \u201cTodos deviam perceber que n\u00e3o h\u00e1 perigo nenhum em reduzir a ingest\u00e3o de a\u00e7\u00facar, mas h\u00e1 fatores de risco em continuar a comer grande quantidade, enquanto aguardam mais ind\u00edcios\u201d.<\/p>\n

Os pais deveriam afastar-se e aos filhos do consumo di\u00e1rio de a\u00e7\u00facar e consider\u00e1-lo um alimento para ocasi\u00f5es especiais. Novas pesquisas tamb\u00e9m indicam que o a\u00e7\u00facar, assim como o fumo, pode ser viciante. Eric Stice, neurocientista do Instituto de Pesquisas do Oregon, est\u00e1 usando resson\u00e2ncias magn\u00e9ticas do c\u00e9rebro de adolescentes para mostrar que \u201co a\u00e7\u00facar ativa o c\u00e9rebro de um modo que lembra drogas como a coca\u00edna\u201d. Ele acrescenta que as pessoas criam toler\u00e2ncia ao a\u00e7\u00facar, como acontece com os fumantes e usu\u00e1rios de drogas: \u201cIsso significa que, quanto mais a\u00e7\u00facar se consome, menor a recompensa. O resultado: come-se mais do que nunca.\u201d.<\/p>\n

O que fazer para reduzir a ingest\u00e3o de a\u00e7\u00facar adicionado? \u201cH\u00e1 um jeito f\u00e1cil de resolver esse problema em casa: chama-se comida de verdade\u201d, diz o Dr. Lustig. Alimentos n\u00e3o industrializados que n\u00f3s cozinhamos. Um peda\u00e7o de peixe \u00e9 comida de verdade: nuggets<\/em> de peixe comprados prontos, n\u00e3o. \u00c9 assim que temos de alimentarmo-nos e alimentar nossos filhos\u201d. E podemos provocar mudan\u00e7as na ind\u00fastria de alimentos e bebidas. \u201cO ativismo de cidad\u00e3os comuns tirou o cigarro dos restaurantes, avi\u00f5es, locais de trabalho e escolas. Temos de fazer o mesmo contra essa avalanche de a\u00e7\u00facar em nossa alimenta\u00e7\u00e3o\u201d, continua o Dr. Lustig. \u201cSe n\u00e3o pararmos de envenenar o nosso organismo com a\u00e7\u00facar, n\u00f3s e nossos filhos s\u00f3 ficaremos mais gordos e mais doentes. E o custo ser\u00e1 astron\u00f4mico.\u201d<\/p>\n

Nota:<\/u> termos usados para o \u201ca\u00e7\u00facar adicionado\u201d: n\u00e9ctar de agave \u2013 melado – <\/strong>a\u00e7\u00facar de beterraba \u2013 xarope de bordo \u2013 caldo de cana \u2013 sacarose, xarope de arroz \u2013 a\u00e7\u00facar de confeiteiro \u2013 rapadura \u2013 xarope de milho \u2013 gomme \u2013 galactose \u2013 a\u00e7\u00facar de t\u00e2maras \u2013 dextrose \u2013 drimol \u2013 malte \u2013 xarope de arroz integral \u2013 dri sweet<\/em> \u2013 ado\u00e7ante de passas \u2013 lactose comest\u00edvel \u2013 kona ame \u2013 sucrovert \u2013 flomalt<\/em> \u2013 frutose \u2013 a\u00e7\u00facar invertido \u2013 clintose \u2013 xarope de sorgo \u2013 xarope dourado \u2013 isoglicose \u2013 muzi amt<\/em>.<\/p>\n

Meu nome \u00e9 Fernando Carvalho<\/span> e sou autor de “O Livro Negro do A\u00e7\u00facar” de gra\u00e7a na internet h\u00e1 15 anos. Gostaria de fazer alguns reparos ao artigo acima que \u00e9 de 2016:<\/p>\n