A Balsa da Medusa<\/em>, \u00e9 uma obra-prima do sens\u00edvel pintor franc\u00eas Th\u00e9odore G\u00e9ricault, um dos mais famosos artistas do estilo rom\u00e2ntico em seu in\u00edcio, na Fran\u00e7a. Foi inspirada num fato real que diz respeito \u00e0 fragata Medusa que, em 1816, so\u00e7obrou na costa da \u00c1frica Ocidental, quando se dirigia ao Senegal. Levava cerca de 400 passageiros a bordo, mas os botes salva-vidas s\u00f3 podiam resgatar 250. Assim, 150 pessoas foram jogadas numa jangada feita \u00e0s pressas. Dessas, apenas 10 sobreviveram depois de 13 dias perdidas no mar. Vitimados pela fome e sede, dizimaram-se uns aos outros. O fato tornou-se um acontecimento escandaloso, cuja responsabilidade caiu sobre o comandante, um homem arrogante, protegido pelo regime Bourbon.<\/p>\nG\u00e9ricault\u00a0 fez in\u00fameros desenhos e esbo\u00e7os a fim de captar melhor aquilo que queria externar. Escolheu para pintar o momento em que os sobreviventes do naufr\u00e1gio avistam ao longe o pequeno navio mercante Argus, respons\u00e1vel por salv\u00e1-los. Para criar sua obra de tom heroico, contatou dois sobreviventes (o m\u00e9dico Savigny e o cart\u00f3grafo Corr\u00e9ad) da trag\u00e9dia, al\u00e9m de ler o livro escrito por ambos. Fez uma maquete de uma jangada em tamanho real\u00a0 a fim melhor represent\u00e1-la, dispondo figuras de cera sobre ela. Fez esbo\u00e7os de feridos, moribundos e cad\u00e1veres na tentativa de ser fiel \u00e0 realidade. O artista chegou a visitar um hospital\u00a0 para compreender melhor os detalhes anat\u00f4micos humanos, levando uma cabe\u00e7a cortada e membros do corpo, colhidos num necrot\u00e9rio, para seu atelier. Tamb\u00e9m fez uso de modelos vivos. A obra tornou-se t\u00e3o real que \u00e9 poss\u00edvel ao observador imaginar-se entrando na jangada que ocupa o primeiro plano da tela. A parte dedicada ao mar ganhou pouco destaque.<\/p>\n
A obra \u2013 pintada quando o artista tinha apenas 27 anos\u00a0\u2013 apresenta um grupo desesperado de pessoas sobre uma jangada feita dos escombros (t\u00e1buas, cordas, partes do mastro, etc.) da fragata Medusa, \u00e0 deriva no mar, em meio a ondas bravias, aguardando socorro. Muitos dos n\u00e1ufragos j\u00e1 se encontram mortos. Apesar da tristeza e do desespero reinante \u00e9 poss\u00edvel captar o intenso al\u00edvio e a emo\u00e7\u00e3o do pequeno grupo, \u00e0 direita, \u00e0 vista de socorro, o que imbui a obra de grande dramaticidade. O grupo forma uma pir\u00e2mide menor. Vale lembrar que os sobreviventes j\u00e1 se encontravam quase mortos e enlouquecidos, mas, ainda assim, foram pintados como jovens fortes e musculosos.<\/p>\n
Corpos sem vida espalham-se por toda a jangada. Um deles, em primeiro plano, tem a cabe\u00e7a na \u00e1gua. \u00c0 esquerda, um pai, com um pano vermelho nas costas, lamenta a morte do filho, segurando seu corpo nu sobre a perna esquerda, sem mostrar interesse algum pela possibilidade de resgate. Atr\u00e1s dele, mais ao fundo, um homem segura a cabe\u00e7a com as m\u00e3os, lamentado a pr\u00f3pria sorte. O restante dos sobreviventes traz os olhos voltados para a embarca\u00e7\u00e3o, ainda min\u00fascula, ao longe, num ato de desespero e esperan\u00e7a, pois eles poderiam n\u00e3o ser vistos. Um homem, sobre um caixote, tenta levantar o mais alto poss\u00edvel a bandeira, sendo seguro por outro. Abaixo, recostado a um barril, outro homem ergue um pano branco. Outro se volta para tr\u00e1s, para anunciar aos companheiros o que acabara de ver, apontando para o horizonte distante.<\/p>\n
\u00c0 direita, um vagalh\u00e3o em forma de pir\u00e2mide amea\u00e7a a jangada, contrapondo-se \u00e0 vela. A natureza mostra sua for\u00e7a atrav\u00e9s da vela inflada pelo vento e pelos movimentos tempestuosos do mar. Ainda assim, raios de luz entrecortam as nuvens, como se trouxessem um vest\u00edgio de esperan\u00e7a. A presen\u00e7a de um machado com sangue na cena, em primeiro plano, \u00e9 uma refer\u00eancia ao canibalismo relatado pelos sobreviventes. A presen\u00e7a de uma figura em silhueta, com o bra\u00e7o em perspectiva, eleva os olhos do observador da parte baixa da embarca\u00e7\u00e3o para o topo dram\u00e1tico formado pelo pequeno grupo que tenta chamar a aten\u00e7\u00e3o do Argus.<\/p>\n
O artista\u00a0 usou duas pir\u00e2mides para fazer sua obra. A primeira \u00e9 formada pelas cordas que seguram a vela. A segunda \u00e9 feita pelas figuras humanas, tendo na bandeira o \u00e1pice. Ela traz na sua base os doentes e agonizantes at\u00e9 chegar ao grupo que aguarda o resgate, ou seja, vai da agonia \u00e0 esperan\u00e7a.\u00a0 Uma melanc\u00f3lica e dram\u00e1tica paleta de cores, predominando os tons de carne, presentes nos corpos p\u00e1lidos, postados nas mais diferentes posi\u00e7\u00f5es. Atrav\u00e9s do claro-escuro do estilo Caravaggio, eles recebem um destaque pungente. Tons quentes contrastam com o azul escuro do oceano em f\u00faria, debaixo de um c\u00e9u de nuvens revoltas, mas bem mais claro. O tom escuro da pintura parece fortalecer a desdita tenebrosa das v\u00edtimas. Uma infinidade de influ\u00eancias de artistas anteriores \u00e9 vista na obra.<\/p>\n
H\u00e1 no conjunto desta obra, considerada um cl\u00e1ssico do Movimento Rom\u00e2ntico, movida por uma brutal e intensa paix\u00e3o, muitos movimentos complexos e gesticula\u00e7\u00e3o. Sua estrutura \u00e9 piramidal e tem no mastro o seu \u00e1pice. Antes de cri\u00e1-la, o artista fez cerca de cinquenta estudos. A inclus\u00e3o de um negro segurando a bandeira vermelha e branca serviu de elemento polarizador, ao trazer para a discuss\u00e3o o movimento abolicionista, defendido pelo artista. G\u00e9ricault criou esta pintura com o objetivo de repassar uma mensagem ao povo. Ainda sob o calor do terr\u00edvel acontecimento, ela se tornou logo famosa, ganhando aplausos da cr\u00edtica e do p\u00fablico. Foi mostrada no Sal\u00e3o de 1819, com o t\u00edtulo \u201cCena de um Naufr\u00e1gio\u201d, sendo mal recebida. O j\u00fari n\u00e3o lhe concedeu nenhuma l\u00e1urea. Em raz\u00e3o do boicote a seu trabalho, o artista foi a seguir para a Inglaterra, a convite, onde permaneceu dois anos. S\u00f3 foi vendida ap\u00f3s a morte prematura do artista, quando tinha 32 anos, ao amigo Dedreux-Dorcy.<\/p>\n
A pintura, vista antes como um panfleto contra o governo, foi mudando aos poucos o seu enfoque diante do realismo e da como\u00e7\u00e3o produzida, pois os fatos que se escondem por tr\u00e1s dela s\u00e3o ainda mais cru\u00e9is. A cr\u00edtica pol\u00edtica ficou em segundo plano, e o sofrimento humano, ou seja, a vida humana abandonada \u00e0 pr\u00f3pria sorte, passou a ocupar o primeiro lugar. Embora se trate de uma das primeiras pinturas do Movimento Rom\u00e2ntico, com sua obra G\u00e9ricault vislumbrou a chegada do Realismo, assim como o uso da m\u00eddia como uma ferramenta pol\u00edtica.<\/p>\n
Obs.:<\/span> Esta pintura vem se degradando com o tempo, j\u00e1 tendo perdido muitas partes dos detalhes originais. O pr\u00f3prio pigmento (betume) utilizado pela artista tem contribu\u00eddo para isso, sem possibilidade de restaura\u00e7\u00e3o.<\/p>\nFicha t\u00e9cnica
\n<\/u>Ano: 1818
\nT\u00e9cnica: \u00f3leo sobre tela
\nDimens\u00f5es: 491 x 716 cm
\nLocaliza\u00e7\u00e3o: Museu do Louvre, Paris, Fran\u00e7a<\/p>\n
Fontes de pesquisa
\n<\/u>Enciclop\u00e9dia dos Museus\/ Mirador
\n1000 obras-primas da pintura europeia\/ K\u00f6nemann
\nArte em Detalhes\/ Robert Cumming
\nhttp:\/\/www.louvre.fr\/en\/oeuvre-notices\/raft-medusa
\nhttp:\/\/estoriasdahistoria12.blogspot.com.br\/2013\/08\/a-jangada-da-medusa
\nhttp:\/\/www.artble.com\/artists\/theodore_gericault\/paintings\/the_raft_of_the_medusa<\/p>\n
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Autoria de Lu Dias Carvalho (Clique na foto para v\u00ea-la mais pr\u00f3xima e maior) A pintura atinge e atrai todos os olhos. (Le Journal de Paris). Nem a poesia nem a pintura conseguir\u00e3o um dia transmitir o horror e a ang\u00fastia dos homens na jangada. (Th\u00e9odore G\u00e9ricault) Esta pintura de G\u00e9ricault abriu novos caminhos, levando […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[49,11,42],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/32631"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=32631"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/32631\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47832,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/32631\/revisions\/47832"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=32631"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=32631"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=32631"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}