As Catadoras \u2014<\/em> \u00e9 uma obra-prima do artista. Ele apresenta uma paisagem com tr\u00eas mulheres em primeiro plano, tudo numa escala enorme, o que contrariava o academicismo da \u00e9poca, uma vez que as cenas grandiosas deviam dizer respeito apenas \u00e0s obras cl\u00e1ssicas e hist\u00f3ricas, o que acabou gerando grande pol\u00eamica em rela\u00e7\u00e3o a esta obra que foi mostrada no Sal\u00e3o de Paris de 1857, dividindo a opini\u00e3o dos cr\u00edticos de acordo com os ideais pol\u00edticos que detinham: os republicanos aplaudiram a obra em raz\u00e3o de sua representa\u00e7\u00e3o digna e realista das classes trabalhadoras rurais, enquanto os conservadores acharam-na excessivamente progressista e, portanto, subversiva.<\/p>\nMillet apresenta tr\u00eas monumentais mulheres camponesas no centro da composi\u00e7\u00e3o, num enorme campo de trigo na fase da respiga (termo que se refere ao ato de coletar as sobras do trigo depois que a colheita aconteceu). As camponesas s\u00e3o mostradas nas tr\u00eas fases da respiga: procurar as sobras, recolh\u00ea-las e as amarrar num feixe \u2014 o que fazem da esquerda para a direita. As respigadoras eram vistas como as mais pobres dos pobres.<\/p>\n
Apesar da aparente pobreza as mulheres mostram-se imbu\u00eddas de um grande senso de dignidade. Cabe-lhes a tarefa de recolher as espigas que ficaram para tr\u00e1s no campo, ap\u00f3s os homens terem feito a colheita. A aspereza do trabalho \u00e9 vista nos seus tra\u00e7os duros e fortes. A cores de suas toucas (azul, vermelho e amarelo) ganham destaque no meio da paisagem dourada com seus matizes acentuados pela luz do sol poente. As toucas vermelha e azul juntamente com as mangas brancas trazem \u00e0 lembran\u00e7a a bandeira francesa, s\u00edmbolo da luta pol\u00edtica da \u00e9poca.<\/p>\n
As mulheres encontram-se em primeiro plano, inclinadas em dire\u00e7\u00e3o ao solo. Seus olhos est\u00e3o voltados para o ch\u00e3o e seus rostos obscurecidos n\u00e3o t\u00eam nenhum contato com o observador, como se lhe dissessem que sabem da pouca import\u00e2ncia que possuem dentro do contexto social. Levam avante um trabalho penoso, cuja execu\u00e7\u00e3o cabia \u00e0s camponesas. Ao se mostrarem reclinadas abaixo da linha do horizonte, tem-se a impress\u00e3o de que o pintor queria representar a falta de perspectiva social dessa gente que morria da mesma maneira que nascia, sem vislumbrar nenhum tipo de progresso. Essas pessoas eram como a terra e dela faziam parte.<\/p>\n
O pintor deixa \u00e0 vista a grande dist\u00e2ncia que existe entre a riqueza e a pobreza, mostrando toda a carga de desamparo a que os pobres estavam submetidos. Em seu realismo, ele escancara a crueza e o descr\u00e9dito da pen\u00faria e do trabalho manual executado pelas mulheres pobres que aqui representam a classe trabalhadora rural.<\/p>\n
A cena acontece ao p\u00f4r do sol, com o crep\u00fasculo banhando as pessoas e a paisagem. As mulheres pobres vestem roupas pesadas que lhes cobrem todo o corpo, para protegerem-se do vento, do frio e do sol. A figura do meio at\u00e9 amarrou mangas posti\u00e7as \u00e0 sua blusa branca para melhor se resguardar. Elas trazem panos (toucas) amarrados \u00e0 cabe\u00e7a e grandes sacos em volta da cintura, onde depositam as espigas, num cont\u00ednuo movimento de abaixar-se e levantar-se. Cal\u00e7am pesados chinelos, mas trazem as m\u00e3os a descoberto, apesar da aspereza do trabalho. Elas lembram as sibilas de Michelangelo.<\/p>\n
Ao fundo s\u00e3o vistos in\u00fameros montes de trigo sendo empilhados, num vai e vem de camponeses. Uma carro\u00e7a est\u00e1 sendo preparada. Um homem a cavalo, possivelmente o patr\u00e3o ou seu mandante, \u00e9 visto como uma figura emba\u00e7ada ao longe, \u00e0 direita, pr\u00f3ximo a algumas casas. Ele \u00e9 retratado como uma figura emba\u00e7ada. Trata-se tamb\u00e9m de deixar \u00e0 vista o distanciamento social.<\/p>\n
N\u00e3o agrada a Millet captar a beleza, mas a realidade. Sua pintura tinha por objetivo repassar uma vis\u00e3o realista da pobreza e da classe trabalhadora rural. \u00c9 por isso que sua obra continua a emocionar o p\u00fablico em quaisquer que sejam os tempos. Na sua arte o ser humano \u00e9 quase sempre a parte mais importante. E foi por isso que o sens\u00edvel Vincent van Gogh tanto o admirou e copiou algumas de suas obras.<\/p>\n
Esta pintura tornou-se famosa por representar de forma apraz\u00edvel pessoas do povo, origin\u00e1rias de camadas sociais mais baixas da sociedade rural. E, como n\u00e3o podia deixar de ser, numa \u00e9poca em que a gente do povo n\u00e3o significava nada. A tela foi recebida com desd\u00e9m pela sociedade francesa da \u00e9poca, pois, ainda que n\u00e3o soubesse, sentiu-se desconfort\u00e1vel diante da realidade. Millet n\u00e3o podia imaginar a fama que sua obra viria a ter no futuro, pois durante sua vida ela teve pouca notoriedade. O artista vendeu sua obra por 3.000 m\u00edseros francos, sendo vendida depois por 300 mil francos. V\u00e1rios artistas mais jovens, como Pissarro, Renoir, Seurat e Van Gogh repetiram-na.<\/p>\n
Ficha t\u00e9cnica
\n<\/u>Ano: 1857
\nT\u00e9cnica: \u00f3leo sobre tela
\nDimens\u00f5es: 84 x 112 cm
\nLocaliza\u00e7\u00e3o: Museu de Orsay, Paris, Fran\u00e7a<\/p>\n
Fontes de pesquisa
\n<\/u>Enciclop\u00e9dia dos Museus\/ Mirador
\nTudo sobre arte\/ Editora Sextante
\nObras-primas da pintura ocidental\/ Taschen
\n1000 obras-primas da pintura europeia\/ K\u00f6nemann
\nhttp:\/\/www.musee-orsay.fr\/index.php?id=851&L=1&tx_commentaire_pi1<\/p>\n
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Autoria de Lu Dias Carvalho A respiga era permitida apenas com um certificado de indig\u00eancia passado pelo presidente do munic\u00edpio, sendo permitida apenas aos pobres na sua comunidade. (Honor\u00e9 de Balzac) O pintor realista franc\u00eas Jean-Fran\u00e7ois Millet (1814-1875) era filho de uma pr\u00f3spera fam\u00edlia rural da Normandia. Atrav\u00e9s de uma bolsa de estudos foi estudar […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[49,11,42],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/32637"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=32637"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/32637\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47624,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/32637\/revisions\/47624"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=32637"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=32637"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=32637"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}