{"id":33067,"date":"2017-07-09T20:47:29","date_gmt":"2017-07-09T23:47:29","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=33067"},"modified":"2017-07-09T21:08:19","modified_gmt":"2017-07-10T00:08:19","slug":"o-circo-piolin-e-a-tempestade","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-circo-piolin-e-a-tempestade\/","title":{"rendered":"O CIRCO PIOLIN E A TEMPESTADE"},"content":{"rendered":"

\u00a0<\/strong>Autoria do Prof. Rodolpho Caniato<\/strong><\/span><\/p>\n

\"\"<\/a><\/strong><\/p>\n

O grande espa\u00e7o vazio ao lado do Atalaia Hotel, minha casa, era o lugar em que eu e meu melhor e mais pr\u00f3ximo amigo, o M\u00e1rio, \u00a0um \u00a0pouco \u00a0maior\u00a0 que\u00a0 eu, \u00a0brinc\u00e1vamos. \u00a0Esse espa\u00e7o, ocupado \u00a0por\u00a0 um \u00a0grande \u00a0capinzal, \u00a0tinha \u00a0dois \u00a0grandes atrativos. Um deles era a proximidade poss\u00edvel com cavalos. A\u00ed vinham colocadas a pastar as \u00e9guas de um portugu\u00eas que, n\u00e3o por coincid\u00eancia, chamava-se Manoel. N\u00e3o por coincid\u00eancia, o filho do \u201cseu\u201d Manoel, um molec\u00e3o malcriado, chamava-se Joaquim. Era o Joaquim das \u00e9guas que administrava a coloca\u00e7\u00e3o e retirada daqueles animais. Outra grande brincadeira, sempre com meu amigo M\u00e1rio, filho de uma lavadeira das vizinhan\u00e7as, era organizar grandes \u201ctrens\u201d, constitu\u00eddos \u00a0por filas \u00a0de \u00a0jac\u00e1s \u00a0de\u00a0 bambu, \u00a0que\u00a0 a\u00ed \u00a0eram atirados vazios pelos fornecedores das verduras para o restaurante do hotel. Eu, meu amigo M\u00e1rio, as \u00e9guas e o Joaquim das \u00e9guas \u00e9ramos, sen\u00e3o\u00a0 os \u00a0\u00fanicos,\u00a0 os\u00a0 mais ass\u00edduos\u00a0 frequentadores\u00a0 desse capinzal.<\/span><\/p>\n

Num certo dia fomos surpreendidos pela presen\u00e7a de uma grande faixa que anunciava: \u201cAqui brevemente, CIRCO PIOLIN\u201d. Foi a not\u00edcia que alvoro\u00e7ou toda gente do bairro, especialmente a molecada. Piolin era j\u00e1 um famoso e original palha\u00e7o, chefe de uma grande fam\u00edlia circense e que havia tomado parte na Semana de Arte Moderna. No dia seguinte ao aparecimento da faixa, em minhas andan\u00e7as no capinzal entre as \u00e9guas do Joaquim, encontrei um objeto circular, pesado, com\u00a0 capa \u00a0de \u00a0couro\u00a0 e uma pequena manivela no centro. O que seria e de quem seria aquilo? Mostrando o objeto a meu pai descobri tratar-se de uma trena. Deveria ser da gente do circo. Meu pai aconselhou-me a guardar aquele objeto para devolv\u00ea-lo aos prov\u00e1veis donos, as pessoas do circo. Poucos dias depois quando por l\u00e1 apareceu no capinzal um grupo de pessoas, fui ver se era mesmo daquela gente o tal objeto.<\/span><\/p>\n

No grupo havia um senhor bem mais velho que os demais. Dirigi-me a ele. Logo, que viu a trena em minhas m\u00e3os, sorriu e veio em minha dire\u00e7\u00e3o. \u201cVoc\u00ea achou a trena?\u201d, questionou-me. Sem necessidade de qualquer outra pergunta, entreguei-lhe a trena. Depois de fazer-me elogios pelo encontro e devolu\u00e7\u00e3o daquele importante instrumento de trabalho da equipe de instaladores do circo, ele me disse: \u201cVoc\u00ea vai ganhar uma permanente do circo\u201d. Tirou do bolso um cart\u00e3o onde escreveu: \u201cconvidado permanente\u201d. Assinou: Galdino Pinto. Era ele nada menos do que o patriarca\u00a0 da\u00a0 fam\u00edlia\u00a0 do \u00a0circo \u00a0e\u00a0 pai \u00a0do \u00a0famoso \u00a0palha\u00e7o \u00a0Piolin, Alberto Pinto. Os dias seguintes foram de grande movimenta\u00e7\u00e3o com a chegada de todo equipamento e in\u00edcio da montagem do circo. Acompanhei todo o trabalho da montagem. J\u00e1 me tornara \u201cintimo\u201d naquele ambiente.<\/span><\/p>\n

No dia marcado para a inaugura\u00e7\u00e3o do circo, a banda, em uniforme de gala, tocava dobrados na ilha que havia no meio da rua Copacabana, na esquina do \u201cCopa\u201d. Eu teria entrada garantida, mas a inaugura\u00e7\u00e3o era solene e \u00e0 noite. Fui com meu pai para comprar as duas entradas adicionais. Logo seu Galdino me reconheceu e conversou com meu pai sobre o epis\u00f3dio da trena. A essa altura eu j\u00e1 havia acompanhado toda a montagem do circo e a\u00ed me sentia \u201cem casa\u201d. Enquanto convers\u00e1vamos com seu Galdino, ele olhou para o alto da nova lona a ser inaugurada e comentou: \u201cEsse vento est\u00e1 me preocupando.\u201d. Enquanto fazia esse coment\u00e1rio, seu Galdino apontou para o alto da lona que come\u00e7ava a arfar.<\/span><\/p>\n

J\u00e1 com as entradas nas m\u00e3os, meu pai e eu voltamos para casa para os preparativos da \u201csoir\u00e9e\u201d. As janelas de nosso apartamento, do lado do pr\u00e9dio, no primeiro andar, tinham\u00a0 bem na frente a vis\u00e3o\u00a0 total do circo\u00a0 no terreno vizinho. Em poucos instantes, o vento \u201cesquisito\u201d se transformou num vendaval, que destro\u00e7ou todo o circo, rasgando em muitos \u00a0peda\u00e7os \u00a0a\u00a0 lona, \u00a0fazendo \u00a0voar\u00a0 t\u00e1buas \u00a0que\u00a0 bateram \u00a0de encontro ao nosso edif\u00edcio. Em pouco tempo o circo ficou reduzido a escombros. Antes de fechar nossas janelas, pudemos acompanhar toda correria dos integrantes, familiares e empregados tentando salvar partes que esvoa\u00e7avam com a tempestade, deixando \u00e0 mostra todo o interior e fundos do circo. Depois do vendaval desabou um imenso aguaceiro sobre o circo j\u00e1 destru\u00eddo.<\/span><\/p>\n

Na manh\u00e3 seguinte, o espet\u00e1culo era de verdadeira desola\u00e7\u00e3o. \u00a0Outro drama se acrescentava \u00e0 destrui\u00e7\u00e3o. O palha\u00e7o \u201cCamar\u00e3o\u201d de quem eu me tornara amigo, era sempre acompanhado de um macaquinho que lhe ficava sobre os ombros. Na noite do temporal, o bichinho, assustado, caiu do alto para dentro de um dos dois grandes postes tubulares de sustenta\u00e7\u00e3o do circo. Levaram dias para que conseguissem resgatar o macacaquinho, usando cordas desde o alto para dentro do grande mastro de sustenta\u00e7\u00e3o. Foram muitos dias de reparos at\u00e9 que tudo fosse remontado e uma nova lona fosse colocada\u00a0 para a adiada estreia. Essa demora, para mim, foi altamente interessante. Acompanhei todo o trabalho e, como j\u00e1 me tornara \u00edntimo, podia circular durante o dia, por entre os artistas, o equipamento e o treinamento. Fiquei conhecendo por dentro a vida do circo, especialmente tendo como cicerone o famoso palha\u00e7o \u201cCamar\u00e3o\u201d, muito gentil e generoso comigo.<\/span><\/p>\n

Nota:<\/u> Extra\u00eddo do livro \u201cCorrupira\u201d, ainda in\u00e9dito, do autor.<\/span>
\n Imagem copiada de Col\u00e9gio Ecologia<\/em><\/span><\/p>\n

Views: 4<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

\u00a0Autoria do Prof. Rodolpho Caniato O grande espa\u00e7o vazio ao lado do Atalaia Hotel, minha casa, era o lugar em que eu e meu melhor e mais pr\u00f3ximo amigo, o M\u00e1rio, \u00a0um \u00a0pouco \u00a0maior\u00a0 que\u00a0 eu, \u00a0brinc\u00e1vamos. \u00a0Esse espa\u00e7o, ocupado \u00a0por\u00a0 um \u00a0grande \u00a0capinzal, \u00a0tinha \u00a0dois \u00a0grandes atrativos. Um deles era a proximidade poss\u00edvel com […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[16],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33067"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=33067"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33067\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":33113,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33067\/revisions\/33113"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=33067"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=33067"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=33067"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}