{"id":33074,"date":"2017-07-07T22:16:30","date_gmt":"2017-07-08T01:16:30","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=33074"},"modified":"2017-07-07T22:47:01","modified_gmt":"2017-07-08T01:47:01","slug":"o-rio-de-janeiro-de-antigamente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-rio-de-janeiro-de-antigamente\/","title":{"rendered":"O RIO DE JANEIRO DE ANTIGAMENTE"},"content":{"rendered":"

Autoria do Prof. Rodolpho Caniato<\/strong><\/span><\/p>\n

\"\"<\/a><\/strong><\/p>\n

Desde muito cedo aprendi a apreciar as belezas do Rio de Janeiro. Acredito que muito poucas cidades no mundo re\u00fanam tantas e t\u00e3o originais belezas naturais. Desde rec\u00e9m-nascido acompanhava meus pais aos frequentes \u201cpiqueniques\u201d em Paquet\u00e1. O recanto que frequent\u00e1vamos com amigos ou parentes era \u201cA Moreninha\u201d. Em minha mem\u00f3ria,\u00a0 aquele \u00a0recanto \u00a0tinha\u00a0 algo \u00a0de \u00a0paradis\u00edaco: um encanto quase sobrenatural. A \u00e1gua calma, t\u00e9pida, era de um verde transparente. As pedras\u00a0 do alto de um dos lados da praia eram cobertas de mata, onde se fazia uma travessia pelo \u201ct\u00fanel\u201d. O topo daquela pedra servia de mirante para a Ilha de Brocoi\u00f3, em frente \u00e0 Moreninha.<\/span><\/p>\n

A sombra das\u00a0 grandes\u00a0 \u00a0jaqueiras, \u00a0\u00a0mangueiras\u00a0 \u00a0e\u00a0 \u00a0coqueiros\u00a0\u00a0 do p\u00e1tio\u00a0 \u00a0do restaurante \u201cA Moreninha\u201d, junto ao mar, era o mais perfeito e suave cen\u00e1rio tropical, onde tomar \u00e1gua de coco tinha o gosto quase de um sacramento. De um lado do grande p\u00e1tio havia o acesso direto ao canto da praia \u201cMoreninha\u201d.\u00a0 Do lado oposto ficava o grande port\u00e3o, onde chegavam os coches, puxados por parelhas de cavalos bem arreados, e dirigidos por um cocheiro modesto, mas consciente da beleza e dignidade de seu rom\u00e2ntico transporte. Al\u00e9m da bela viagem pelas calmas e ainda limpas \u00e1guas da baia da Guanabara, a chegada e a sa\u00edda da barca era um acontecimento cheio de emo\u00e7\u00f5es: alegria na chegada e nostalgia na partida.<\/span><\/p>\n

D\u00e9cadas mais tarde, quando voltei a essa ilha da fantasia de meus sonhos de crian\u00e7a, encontrei quase tudo degradado: \u00e1guas polu\u00eddas, tudo empobrecido. Os antigos coches encontravam-se rotos e remendados com trapos ou peda\u00e7os de arame e rodas de velhos carros: feitos com sucata. Seus condutores e os pr\u00f3prios cavalos eram a figura da desnutri\u00e7\u00e3o causada pelo \u00a0empobrecimento \u00a0e\u00a0 degrada\u00e7\u00e3o. \u00a0A\u00a0 polui\u00e7\u00e3o \u00a0havia levado\u00a0 \u00a0quase\u00a0\u00a0 todo o \u00a0encanto\u00a0 \u00a0daquele\u00a0 \u00a0sonho\u00a0 que\u00a0\u00a0 se\u00a0\u00a0 chamava \u201cPaquet\u00e1\u201d \u00a0e\u00a0 que \u00a0havia \u00a0sido \u00a0o\u00a0 po\u00e9tico \u00a0cen\u00e1rio \u00a0do \u00a0romance do escritor carioca Joaquim Manuel de Macedo, \u201cA Moreninha\u201d.<\/span><\/p>\n

A Floresta da Tijuca era outro passeio habitual. A subida com o bonde \u201cAlto da Boa Vista\u201d, come\u00e7ava na \u201cMuda\u201d e terminava na pequena esta\u00e7\u00e3o e quiosque pr\u00f3ximo \u00e0 entrada do parque da \u201cCascatinha\u201d. Ali havia, al\u00e9m da cascata, o restaurante e bar, os obrigat\u00f3rios fot\u00f3grafos \u201clambe-lambe\u201d e os objetos de artesanato adornados com asas de borboletas. A\u00ed come\u00e7ava nossa caminhada habitual pela floresta, cuja primeira parada \u00a0era \u00a0a\u00a0 Capela \u00a0Mairinque. \u00a0Segu\u00edamos \u00a0pelos caminhos \u00a0e veredas at\u00e9 o \u201cA\u00e7ude da Solid\u00e3o\u201d, onde faz\u00edamos a parada para o \u201calmo\u00e7o\u201d. Minha m\u00e3e abria o nosso farnel: sandu\u00edches de p\u00e3o \u201cPetr\u00f3polis\u201d com \u201covos mexidos\u201d e frutas. V\u00e1rias vezes fomos at\u00e9 o \u201cPico do Papagaio\u201d. Em todas as encruzilhadas havia \u201cdespachos\u201d ou \u201ctrabalhos\u201d de macumba. Nossa frequ\u00eancia nos fizera conhecidos dos guardas da entrada do parque. Com um deles, muitas vezes meu pai trocava cumprimentos e breves conversas. Um desses guardas contou-nos de seu enxoval de cozinha, feito de recolher a grande quantidade de pratos, tigelas e outras mat\u00e9rias dos \u201cdespachos\u201d e \u201ctrabalhos\u201d das encruzilhadas.<\/span><\/p>\n

A floresta tropical da Tijuca, t\u00e3o pr\u00f3xima da cidade, \u00e9 at\u00e9 hoje uma atra\u00e7\u00e3o especial e \u00fanica no mundo. Sua exist\u00eancia deve-se \u00e0 iniciativa e reconhecimento do problema do desmatamento seguido da eros\u00e3o, pelo Imperador Pedro II. O reflorestamento foi iniciado pelo major Archer, em 1861, \u00e0 frente de um grupo de escravos e completado pelo \u00a0Bar\u00e3o \u00a0D\u00b4Escregnolle, \u00a0que\u00a0 foi \u00a0o \u00a0respons\u00e1vel \u00a0pelo embelezamento dos recantos e atrativos tur\u00edsticos dessa extraordin\u00e1ria floresta urbana.<\/span><\/p>\n

O Corcovado e o P\u00e3o de A\u00e7\u00facar, dois \u00edcones do Rio de Janeiro, sempre estiveram diante de meus olhos e na minha mem\u00f3ria. N\u00e3o s\u00f3 pela beleza e originalidade como pelo fato de serem pontos obrigat\u00f3rios nos passeios repetidos, quando chegavam amigos ou parentes. O \u00a0trem \u00a0ou \u00a0bondinho \u00a0do \u00a0Corcovado \u00a0foi inaugurado por Pedro II, embora o monumento (Cristo) s\u00f3 tenha sido erigido em 1932. Eu ainda era crian\u00e7a, mas me lembro da expectativa e dos coment\u00e1rios que se seguiram a um fato de grande import\u00e2ncia hist\u00f3rica naqueles anos. Guglielmo Marconi, o inventor do r\u00e1dio e pr\u00eamio Nobel de F\u00edsica, acionou desde a It\u00e1lia, a bordo de um navio, um sinal de r\u00e1dio que fez acender a ilumina\u00e7\u00e3o do Cristo. \u00c9 f\u00e1cil imaginar tanto a expectativa quanto a repercuss\u00e3o que isso teve. Era de fato um acontecimento mundial e que alvoro\u00e7ava o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro naqueles anos trinta.<\/span><\/p>\n

O P\u00e3o de A\u00e7\u00facar, essa extravagante sentinela, bem na entrada da ba\u00eda da Guanabara, sempre foi o lugar \u00a0aonde \u00a0se \u00a0ia \u00a0tamb\u00e9m \u00a0para\u00a0 levar \u00a0parentes \u00a0e \u00a0amigos \u00a0que chegavam \u00e0 Cidade Maravilhosa. (Sempre imaginei o que deve ter sido a entrada da primeira caravela naquele cen\u00e1rio deslumbrante e virgem. O deslumbramento que deve ter ocorrido a quem via pela primeira vez esse panorama \u00fanico. Deve ter sido extraordin\u00e1rio o momento e surpreendente tamb\u00e9m a vis\u00e3o dos que estavam em terra, os \u00edndios, da entrada da primeira caravela e ver de dentro dela sa\u00edrem seres t\u00e3o diferentes e t\u00e3o fantasiados.). Mas o mais sensacional era o passeio nos barquinhos do lago, muito r\u00fasticos, mal cuidados e que sempre \u201cfaziam \u00e1gua\u201d. A gente acabava se molhando, mas isso s\u00f3 acrescentava emo\u00e7\u00e3o, cujo ponto culminante era a passagem de barco pelo t\u00fanel que ligava os dois lagos. Era preciso ir tirando \u00e1gua com uma lata, que j\u00e1 fazia parte do \u201cequipamento de bordo\u201d daqueles r\u00fasticos barquinhos.<\/span><\/p>\n

As praias, mesmo a mais famosa do Brasil, a \u201cprincesinha do mar\u201d, Copacabana, n\u00e3o tinham grande frequ\u00eancia. N\u00e3o era ainda t\u00e3o difundido quanto seria mais tarde, o h\u00e1bito de \u201cir \u00e0 praia\u201d. Tanto a Avenida Atl\u00e2ntica quanto a pr\u00f3pria praia, a areia, eram muito mais estreitas que as de anos depois. Vez por outra, ondas na preamar, em dias de \u201cressaca\u201d, atingiam a Avenida Atl\u00e2ntica. Eu sempre frequentara a praia, desde muito crian\u00e7a, com minha m\u00e3e, que havia aprendido a nadar em sua inf\u00e2ncia na Su\u00ed\u00e7a. Outras vezes ia com meu pai ou com um de meus tios, o \u201ctio Nino\u201d, que me levava em seus ombros at\u00e9 \u00e0s ondas. A orla era muito mais apreciada pela sua \u201cvista para o mar\u201d ou pelo \u201cfooting\u201d na cal\u00e7ada. Para quem passeava pela orla, \u00e0 noite, j\u00e1 eram familiares os lampejos do velho farol da ilha Rasa, bem em frente de Copacabana, a orientar os navios que chegavam ou partiam do porto do Rio.<\/span><\/p>\n

Faziam parte do cen\u00e1rio da Avenida Atl\u00e2ntica os grandes postes de ilumina\u00e7\u00e3o e os luxuosos \u00f4nibus da Light, prateados, com assentos de veludo e um motorista em rigoroso uniforme cinza e quepe. N\u00e3o havia cobradores. \u00a0A \u00a0cobran\u00e7a \u00a0era\u00a0 feita \u00a0pelo \u00a0motorista. \u00a0Era \u00a0preciso despejar as moedas dentro de um recipiente de vidro junto a ele. S\u00f3 depois de conferir a quantia atrav\u00e9s do vidro \u00e9 que esse acionava uma alavanca que fazia as moedas ca\u00edrem para dentro do cofre. Os bondes \u00a0eram \u00a0muito \u00a0mais \u00a0baratos \u00a0e \u00a0mais \u00a0usados.<\/span><\/p>\n

Nota:<\/u> Extra\u00eddo do livro \u201cCorrupira\u201d, ainda in\u00e9dito, do autor.
\nImagem copiada de business-ethics.com<\/em><\/span><\/p>\n

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato Desde muito cedo aprendi a apreciar as belezas do Rio de Janeiro. Acredito que muito poucas cidades no mundo re\u00fanam tantas e t\u00e3o originais belezas naturais. Desde rec\u00e9m-nascido acompanhava meus pais aos frequentes \u201cpiqueniques\u201d em Paquet\u00e1. O recanto que frequent\u00e1vamos com amigos ou parentes era \u201cA Moreninha\u201d. Em minha mem\u00f3ria,\u00a0 […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[16],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33074"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=33074"}],"version-history":[{"count":7,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33074\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":33089,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33074\/revisions\/33089"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=33074"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=33074"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=33074"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}