<\/a><\/p>\nO que tradicionalmente entendemos por \u201cescola\u201d \u00e9 o lugar em que formalmente nos ensinam conhecimentos. Quero me referir aqui a uma coisa que j\u00e1 tenho chamado em outra ocasi\u00e3o de protoeduca\u00e7\u00e3o<\/em>. <\/strong>H\u00e1 um grande n\u00famero de coisas que aprendemos sem que ningu\u00e9m nos tenha dito que deveriam ser dessa ou daquela maneira; sem que nada de formal nos tenha sido dito. S\u00e3o coisas que, mesmo sem que algu\u00e9m nos tenha falado, incorporam-se aos nossos h\u00e1bitos e \u00e0 nossa maneira de ser e de agir. Isso, no entanto, faz-se pelo conv\u00edvio <\/em>em um \u201cambiente\u201d em que esses valores presentes <\/em>se incorporam pelo h\u00e1bito<\/em> e pelo exerc\u00edcio<\/em>. <\/strong>Esse exerc\u00edcio deveria ser proporcionado desde a pr\u00e9-escola, mas nossa pr\u00e9-escola, quase sempre, limita-se, quando existe, a cuidados de higiene e alimenta\u00e7\u00e3o, quando n\u00e3o apenas de \u201cdep\u00f3sito\u201d tempor\u00e1rio.<\/span><\/p>\nDesde cedo, n\u00f3s precisamos adquirir ou consolidar h\u00e1bitos de respeito \u00e0s pessoas, \u00e0s coisas, especialmente p\u00fablicas, \u00e0 gest\u00e3o de nossas coisas e \u00e0s normas de conviv\u00eancia. Deveria come\u00e7ar a\u00ed um conv\u00edvio<\/em> com pessoas preparadas para esse n\u00edvel da EDUCA\u00c7\u00c3O. N\u00e3o \u00e9 incr\u00edvel que, para que os animais adquiram h\u00e1bitos que deles esperamos, sejam empregadas pessoas com forma\u00e7\u00e3o espec\u00edfica, e n\u00e3o exigimos qualquer prepara\u00e7\u00e3o espec\u00edfica para que os professores saibam ensinar seres humanos a viver em sociedade e construir seu pr\u00f3prio conhecimento?<\/span><\/p>\nO crescimento cada vez mais vertiginoso do conhecimento e das tecnologias for\u00e7a-nos numa dire\u00e7\u00e3o de que a escola, no mais das vezes, nem sequer se deu conta. N\u00e3o vamos poder continuar a pensar na escola como o lugar em que ensinamos todos os programas.<\/em> Programas rapidamente se tornar\u00e3o obsoletos ou in\u00fateis. A escola dever\u00e1 ENSINAR a APRENDER e a AGIR (empreender) em lugar de fazer os in\u00fateis discursos sobre conte\u00fados e, pior ainda, in\u00fateis discursos sobre como deveremos agir. Curiosamente a EDUCA\u00c7\u00c3O como institui\u00e7\u00e3o \u00e9 a que menos se tem atualizado e a que mais resiste a compreender uma coisa simples: n\u00e3o aprendemos a nadar ouvindo discursos sobre nata\u00e7\u00e3o, ainda que fossem feitos por campe\u00f5es ol\u00edmpicos.<\/span><\/p>\nNa nossa escola de Ensino Fundamental existe um descalabro reinante. Esse baix\u00edssimo rendimento se deve basicamente ao despreparo tanto na compet\u00eancia docente quanto na postura frente aos alunos. Esses fatos ficam muito agravados pela permissividade da escola aos maus h\u00e1bitos trazidos da rua.\u00a0 A ESCOLA, por falta de preparo docente e institucional, se tornou permissiva e tolerante com a burla, com as pequenas fraudes e com a viola\u00e7\u00e3o das regras de conv\u00edvio civilizado. Em lugar de a escola irradiar cultura ela passou a ser invadida pela cultura da rua.<\/span><\/p>\nMuitas vezes se cultiva o \u201cmito do alto n\u00edvel\u201d, a ideia de que se est\u00e1 estudando algo muito complicado pela incapacidade de fazer as coisas mais entend\u00edveis. Parece que se cultiva o complicado pelo \u201cstatus\u201d conferido pelas coisas \u201cdif\u00edceis\u201d. Muitas vezes tamb\u00e9m os alunos ajudam a cultivar esse \u201cmito do alto n\u00edvel\u201d. Coisas complicadas parecem conferir \u201cstatus\u201d a quem as ouve, mesmo que as n\u00e3o entenda. Essa \u00e9 uma postura que indica e acentua o \u201csub\u201d desenvolvimento. At\u00e9 altos \u00edndices de reprova\u00e7\u00e3o ajudam, \u00e0s vezes, a cultivar o mito do \u201calto n\u00edvel\u201d. F\u00edsica e Matem\u00e1tica s\u00e3o \u00e1reas que sofrem particularmente dessas \u201cenfermidades\u201d. Uma das raz\u00f5es para os altos \u00edndices de rejei\u00e7\u00e3o dessas disciplinas \u00e9 a abordagem inadequada e frequentemente devida ao pouco preparo docente.<\/span><\/p>\nNosso ensino \u00e9 feito quase que exclusivamente pelo discurso do professor. Quase nada fica do quase tudo que pensamos ter ensinado, quando se usa o \u201cm\u00e9todo\u201d apenas discursivo ou de copiar do quadro negro. Lamentavelmente, a \u00fanica coisa que n\u00e3o sofreu qualquer moderniza\u00e7\u00e3o no \u00faltimo s\u00e9culo, especialmente no mundo \u201csub\u201d desenvolvido, \u00e9 a forma da aula. A presen\u00e7a de computadores ou de modernos meios de \u201cmultim\u00eddia\u201d n\u00e3o significa muito, se n\u00e3o estiverem presentes aqueles ingredientes<\/em> indispens\u00e1veis \u00e0 constru\u00e7\u00e3o ativa<\/em> do conhecimento. Constru\u00e7\u00e3o do conhecimento exige vontade do educando, desafio \u00e0 sua intelig\u00eancia, alguma forma de a\u00e7\u00e3o<\/em>, o prazer l\u00fadico da descoberta, discuss\u00e3o, verbaliza\u00e7\u00e3o dos pr\u00f3prios argumentos. Aprender a calar para ouvir argumentos dos outros tamb\u00e9m faz parte desse processo de constru\u00e7\u00e3o que deve ser orientado pela necess\u00e1ria compet\u00eancia do professor.<\/span><\/p>\nNota:<\/u> texto extra\u00eddo do livro \u201cNossa Escola Quase In\u00fatil\u201d, 2006, in\u00e9dito<\/span><\/p>\nImagem: pormenor de A Escola de Atenas<\/em>, obra de Rafael Sanzio.<\/span><\/p>\n <\/p>\n
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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato O que tradicionalmente entendemos por \u201cescola\u201d \u00e9 o lugar em que formalmente nos ensinam conhecimentos. Quero me referir aqui a uma coisa que j\u00e1 tenho chamado em outra ocasi\u00e3o de protoeduca\u00e7\u00e3o. H\u00e1 um grande n\u00famero de coisas que aprendemos sem que ningu\u00e9m nos tenha dito que deveriam ser dessa ou […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[9],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33129"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=33129"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33129\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":33854,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33129\/revisions\/33854"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=33129"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=33129"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=33129"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}